A repressão da PM contra os protestos dos estudantes

Enviado por Vânia

Segundo o SPTV, na edição de ontem (03/12), o governo de São Paulo está negociando com os estudantes.

Eis algumas imagens de uma das rodadas da negociação.

Do Uol

Tiro, porrada e bomba em alunos viram espetáculo violento em SP

Camila Neumam

Está cada vez mais perigoso protestar pelas ruas da cidade. Ao menos, esta foi minha impressão na manhã desta quinta (3) durante a manifestação dos estudantes pela avenida Faria Lima, na zona oeste de São Paulo.

Bomba, xingamentos e ira de pedestres e motoristas, incomodados com o trânsito parado. Esses foram os desafios do alunos que protestavam contra a reorganização da rede estadual de ensino do Estado.

Era pouco antes das 9h quando ouvi o primeiro estrondo e estava no 8º andar de um prédio comercial a metros dali. O barulho era de uma bomba de gás lacrimogêneo que a Polícia Militar havia atirado contra os estudantes que bloqueavam a importante avenida, sentados em cadeiras escolares. 

Não houve diálogo. Os PMs chegaram jogando a bomba na direção deles, me contaram quando desci para fazer a reportagem. 

A molecada correu para o outro lado da avenida. Por alguns momentos, houve silêncio. Estudantes e policiais se encaravam à distância. Enquanto isso, trabalhadores desavisados chegavam aos prédios comerciais como se nada estivesse acontecendo.

Quando o semáforo fechou, a molecada voltou a fechar o cruzamento.

Não demorou para outras bombas ecoarem. A gritaria foi geral e todo mundo, inclusive eu, começou a correr. Estudantes, transeuntes, fotógrafos e jornalistas se misturaram e escaparam para uma viela.

Rapidamente o clima de terror se instalou naquele trecho esfumaçado da Faria Lima, uma região de escritórios bastante conhecida na capital paulista. Os comerciantes fecharam suas portas.

Mas os estudantes de cabelos e roupas coloridas já estavam preparados: eles continuaram andando e até ajudando a jornalista aqui a se safar dos desagradáveis efeitos do gás lacrimogêneo.

Os olhos e a garganta ficam em brasa (efeito do gás lacrimogêneo). Uma colega me salvou ao me dar uma camisa para cobrir o rosto. Logo depois, um estudante me pediu para abrir as mãos e pingou gotas de leite de magnésio. “Coloca nos olhos e nas narinas”, ele me ensinou. Eu, tonta, questionei: “Posso beber? Minha garganta…”. Ele já me rebateu: “Melhor não”. Aceitei a dica.

O cortejo continuava. Tenso. Clima que só mudava quando eles conseguiam parar algum trecho da avenida. Aí era uma festa: “Aqui não tem arrego!”, gritavam.

Mas os carros, apressados, queriam seguir e buzinavam enlouquecidamente para que eles saíssem. Por muitas vezes, fiquei com medo de que houvesse um atropelamento em massa. Alguns pedestres gritavam que eles eram vagabundos. A maioria respondia: “um dia eu quero ser trabalhador como o senhor, mas preciso estudar primeiro”.

Por volta das 10h, três viaturas chegaram subitamente com as sirenes ligadas. Em uma ação rápida — e sem nenhum tipo de negociação –, os policiais da Força Tática detiveram quatro pessoas.

Eu presenciei uma dessas detenções. O menino foi jogado no chão, com as mãos nas costas. A cena seria humilhante se não fosse extremamente violenta. O rapaz não estava armado, não estava agredindo ninguém. Só estava protestando. Mas foi levado pelo camburão com os outros colegas sem direito a qualquer contra argumentação. Meninas e meninos choravam e gritavam e xingavam. Muitos filmavam, inclusive eu.

Outra bomba foi atirada contra a multidão de estudantes, apoiadores, fotógrafos e jornalistas. Todos voltamos a correr.

Questionei-me se não haveria uma forma mais branda de detê-los. Aliás, eles deveriam ser detidos? A Constituição garante o direito de protestar. Fui perguntar para um PM. Ele me respondeu: “foram para a 15º DP”.

Fui à delegacia a pé, seguindo o protesto que virou cortejo. Meia hora depois a notícia: os detidos não estavam lá. Haviam sido encaminhados para outra unidade, a 14ª.

Já no novo endereço, descubro que a rua foi fechada para evitar que os manifestantes chegassem até a delegacia. Quem chegou levou bomba. De novo.

E de novo. Já eram quase 14h quando presenciei um dos momentos mais aterrorizantes na minha opinião. Eu vi muitos deles serem alvejados ininterruptamente com as bombas de gás a poucos passos de uma feira livre.

Ali mesmo, um rapaz foi espancado a céu aberto e a luz do dia por policiais. O falatório do comércio de frutas e legumes foi interrompido pelo som de gritos, sirenes e bombas.

Só nos restou correr e nos proteger em um canto. Tristes tempos.

Redação

16 Comentários

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  1. Gente, alguém tem que parar

    Gente, alguém tem que parar esse insano do Alckmin. Não é possível que a justiça fique assistindo tudo isso e não faça nada. São crianças e adolescentes defendendo seus direitos por uma escola para estudar. O que estão esperando? Que alguma desgraça aconteça? Que coisa feia, Alckmin! Cadê o MPL, que nas suas manifestações de 2013, ficaram reivindicando Educação Padrão Fifa? Agora todos estão vendo quem o MPL defende: o governo PSDB. 

  2. Brincando com fogo!
    O governo está caminhando pelo fio da navalha! Queira Deus que não aconteça nada grave com estes estudantes. Uma fatalidade, sendo ou não culpa do governo, poderá reacender as manifestações de 2013 e não apenas em São Paulo. Os ânimos estão exacerbados.

  3. A ditadura não acabou. A paz
    A ditadura não acabou. A paz nos foi dada de presente com a condição de ficarmos dóceis. Se pisar fora da linha ela volta a mostrar sua face. A ditadura não acabou. Ainda.

  4. Protestos

    Nos paises civilizados, o direito de protestar acaba onde começa o direito de ir e vir.  Na Inglaterra, por exemplo, pode-se reunir cino pessoas, ou cinquenta mil pessoas, no Hyde Park, e fazer a manifestação que interessar, com ampla garantia de segurança e sem atrapalhar a vida dos outros.  Aquí, quantas cabeças são necessárias para fechar a Paulista?  Dez, quinze?  E para fechar as estradas? Meia dúzia de supostos caminhoneiros? Por que não se faz uma lei estabelecendo as regras e os locais para manifestações?  Em São Paulo, a praça Charles Miller, em frente ao Pacaembú, poderia ser um desses lugares. Os direitos de todos ficariam preservados, e a polícia descansaria em paz.

  5. e os adultos vão ficar em

    e os adultos vão ficar em casa vendo seus filhos apanharem da policia?

    cadê o MP de São Paulo?

    cadê os politicos progressistas deste país para apoiarem os jovens ?

     

     

  6. Sem palavras

    Quando é que voltamos à ditadura em SP ? Essa forma de tratar a manifestação dos estudantes é inadmissivel. E inadmissivel é a insensibilidade e egoismo dos adultos, que nem tentam pensar nas razões deles estarem la, enfrentando uma PM selvagem.

    Desde que passaram a agredir às esquerdas, petistas, que parece que isso deu aos autoritarios o direito de bater em manifestantes que vão contra a logica pessedebista de que direitos são para poucos mesmo.

  7. O revoltante, não só no

    O revoltante, não só no relato, mas também pelo que se observa em comentários de tukanistaneses é que existem pessoas que apoiam a atuação da PM que, obviamente, só age assim porque tem autorização para isso por parte de seu comandante maior. O estudantes são “vagabundos” que estão invadindo escolas porque não querem estudar… Boa parte da população apoia as atitudes do governo e sua polícia. Os tucanos só controlam o estado há tanto tempo porque é isto que a população daqui quer. Isto é que é o mais apavorante de se viver em SP hoje em dia, boa parte dos paulistas deixaram de ser um fascistas cordiais e se tornaram descontrolados. À menor constestação pública diante de um destes elementos, vem logo o argumento que a lavagem cerebral da mídia local lhes implantou no pequeno cérebro: “Você ta levando algum do PT!”. Sei lá, acho que dá pra se ter uma vaga ideia do que deve ter sido duro para alemães que não embarcaram na canoa do nazismo viverem naquele país, naquele tempo.

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