As possibilidades que surgem das ações de ativismo são multiplas e complexas

Por Márcio Cubiak
 
Comentário ao post “Defensores da vida animal e suas contradições
 
Tenho a impressão que cada vez mais, cometaristas do blog estão desqualificando sistematicamente todos as ações de qualquer ativismo, no Brasil. É estranho “julgar” estes movimentos e ações de dentro da História, com ares de certezas. Só os detentores do monopólio da força estão chancelados para quebrar, pessoas e bens materiais.
 
Imagine se feministas, operários, movimentos étnicos e tantos outros pactuassem com os detentores do monopólio da força, jamais teriam galgado grandes conquistas. Imaginem se estes movimentos negociassem pelegamente o que teríamos? Quantas barricadas foram necessárias para que tenhamos a “constituição cidadã” que temos, com sua base filosófica e intelectual baseada na expansão dos Direitos?

 
As possibilidades que surgem destes enfrentamentos são multiplas e complexas, nem todas terminam na Alemanha Nazista. 
 
Porque esta defesa intransigente da grande propriedade privada e a desqualificação dos atos coletivos oriundos da sociedade? Medo, economia das emoções: é o processo civilizador em ação, levado adiante pela elite brasileira (política e ecônomica). O futuro criativo está moribundo. Apenas a criatividade lucrativa, que cabe em alguma indústria, é estimulada. Bem vinda a paz dos cemitérios. 
 
Viva a vida que pulsa.
Luis Nassif

16 Comentários

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  1. Márcio Cubiak tem razão…

    Nem tudo termina na Alemanha Nazista. Felizmente é verdade.

    Mas pode terminar na Rússia, no Texas ou no Irã.

    Pra muita gente não se deve questionar absolutamente nada pra não arriscar o status quo. 

    1. Desculpe-me Gunter, c/ todo respeito, mas q comentário confuso!

      Vc parece raciocinar numa direçao na primeira metade do comentário, e na direçao oposta na segunda. Nao dá para entender qual é afinal a sua posiçao pelo que diz nesse comentário. 

      1. Oioi

        Estou só seguindo a linha de raciocínio do comentarista Cubiak.

        De fato não chegaremos a esse limite de Alemanha Nazista. 

        Mas sempre aparece algum catastrofista pra dizer: “olha, cuidado com manifs, servem de desculpa para fascistas darem um golpe e tal.”

        No entanto, com a disseminação desse tipo de receio e analogia extremos ocorre muito o meio-termo: fica-se em sociedades acomodativas e padronizadas.

        Ou seja, o péssimo é difundido para fins de ‘discurso de medo’ como forma de manter as pessoas no regular. Daí se desiste da busca do bom.

        Pelo menos foi essa mensagem que captei do post.

        1. Pode ser. Mas vejo tb uma “forçaçao de barra”

          Nao é porque o péssimo ÀS VEZES é difundido para infundir medo que sempre o medo é infundado… E sobretudo nao acho que a questao de “manifestaçoes autoritárias” seja só uma questao de saber se sao perigosas ou nao, mas de saber se sao democráticas ou nao. Se é válido que qualquer grupo que discorde de algo saia por aí fazendo o que bem entende, quebrando tudo, etc. 

          1. Nisso o artigo não é claro.

            Ele no começo se preocupa com as desqualificações generalizadas de movimentos, o que é um problema.

            Depois ele fala de confrontos que é algo dúbio, não sabemos se seão todos os confrontos ou apenas os não-violentos.

          2. Perfeito. Em uma democracia

            Perfeito. Em uma democracia existem meios para manifestar a nossa vontade. É mais saudavel encontrar o caminho da democracia e construir a legitimidade das ações do que flertar com o autoritarismo. Não acredito que do seio de uma sociedade conservadora que dispõe de todos os meios para seu recrudescimento derrepente por uma primavera floresça o amor.

  2. Ativista tambem pode ser criticado

    E’ ociosa esta falacao sobre o direito de protestar.

    A critica a este tipo de ativismo e’ valida. Nao houve “desqualificacao” previa, houve um questionamento duro sobre a motivacao deste protesto e a incoerencia de base neste movimento de nao aceitar o uso de bichinho bonito para pesquisas cientificas que podem beneficiar toda a humanidade (e muitos outros bichinhos, bonitos e feios tambem), ao mesmo em que comem gostosamente suas picanhas sem nunca se perguntar como foi a vida e que tratamento recebeu aquele bicho que estao comendo.

    Por favor, se tem algo a acrescentar ou defender, faca-o. A discussao e’ seria, complexa e ocorre no mundo todo. Entretanto, essa saida facil de dizer “estao querendo calar o meu direito de protestar” ou “estao defendendo os poderosos” nao e’ discutir, e’ posar de vitima para desviar da discussao seria.

     

     

    1. Como Cubiak queria demonstrar.

      Não fique fazendo reducionismo dos defensores de animais.

      É claro que é melhor que animais sejam criados com o menor confinamento possível e com as mortes menos dolorosas possíveis. Isso sempre entra em pauta, tanto que hoje mesmo a Câmara municpal de São Paulo discutiu o foiegras,

      Mas não se desqualifica a proibição de testes em animais falando de pecuária.

      Há outras coisas em jogo:

      – há dúvidas se testes apenas de laboratório ou em voluntários, sem animais, são tão efetivos e precisos

      – há animais, como cães, gatos e micos, que mexem com o imaginário humano e isso é levado em conta. Não é comum bois ou galinhas de estimação.

      – a tendência a se ter mascotes é crescente, a tendência às pessoas considerarem que há um direito difuso no conservacionismo também. As pessoas querem se sentir melhor, saber que vivem numa sociedade que não tortura animais (podem, por exemplo, apoiar a proibição de touradas.)

      – os medos e visões estéticas em relação a animais também são considerados. Já há discussão sobre como é difícil conscientizar dos riscos de extinção de animais como o tubarão, em um mundo onde as pessoas só olham pra golfinhos, focas e pandas.

      – meso o discurso dos vegetarianos, de que animais de que criação de animais requer mais espaço e água para fornecer proteínas do que a agricultura está sendo questionado: porque querer mudar os hábitos de alimentação e não os de reprodução? 

      1. Demonstrado, mas nao como vc quis dizer…

        Caro Gunter,

        Todas as questoes que vc levanta sao validas e estao sendo discutidas ha anos. Ha pros e contras de todos os lados.

        Mas se vc leu no meu comentario alguma prova de que o Cubiak tinha razao, nao entendeu o que eu escrevi. Primeiro, vc acha que eu defendo os animais de forma absoluta, quando eu apenas repeti o argumento original para mostrar que a historia de que houve uma desqualificacao automatica do protesto era sem fundamento. 

        Segundo, meu ponto era mostrar essa saida facil de se colocar como vitima de censura. Vc mesmo acabou de provar meu ponto simplesmente respondendo ao argumento com outros argumentos, sem necessidade do “tapetao”.

        E finalmente se alguma coisa ficou demonstrada foi esse clima bobo de Fla-Flu que ate vc, um dos caras mais comedidos do blog, acabou participando ao achar que porque eu repeti um argumento de um dos lados (e somente um, e dos mais simplorios), eu ja sou automaticamente um “reducionista defensor dos animais”.

         

  3. Qual o medo?

    Márcio,

    O medo, é pela inconsistência e fluidez dos protestos, demonstrada aliás em seu comentário. A crítica, é que você compara momentos MUITO distintos. Você lembra de algum membro do Establishment sendo julgado nos tribunais de exceção da ditadura golpista? Quantos destes membros foi eleito pelo voto popular?

    Não é fazendo afirmações peremptórias como “desqualificação dos atos coletivos oriundos da sociedade” ou “o processo civilizador em ação, levado adiante pela elite brasileira (política e ecônomica)” que se prova um mínimo de representatividade. Qual processo civilizador? O que se impõe na marra,  como representativo por juntar algumas centenas de manifestantes por uma mídia venal como o Facebook? Usando hashtags, palavras de ordem e fotos de belos cães? Quem não se encanta? Ou se autodefinindo como vanguarda? Pedindo a cabeça de quem foi, para o bem ou para o mal, eleito pelo voto majoritário? Ignorando a opinião diversa de cientistas respeitáveis da SBPC? É uma guerra que se ganha no grito ou com a razão?

    Para um pouco para pensar: São diferentes tempos e diferentes cabeças.

    Só por curiosidade Márcio, o seu Facebook é o que tem escrito no perfil “No more War”?

  4. Globo x Mídia Ninja
    Por falar

    Globo x Mídia Ninja

    Por falar em protesto vale muito a pena ver o vídeo abaixo:O debate é quase obrigatório e extremamente revelador. Arriscaria dizer que, no final das contas, foi o debate sobre  estruturas midiáticas de parcialidade assumida versus as velhas formas de parcialidade enrustida.

    A sensacional discussão que se estabeleceu entre Mídia Ninja e O Globo me lembrou muito, num dado momento, aquela canção do Raul Seixas: “Combate o patrão no trabalho sem saber que o patrão sempre esteve em você”

    Mas, sem dúvida, a “saia a justa” que coloca essa Organização no seu devido lugar é o auge do debate. E são muitas ainda as questões trazidas nesse vídeo.

    Para começar, o editor de O Globo dizer que vivemos uma democracia plena foi dureza de ouvir. Vivemos uma democracia em fase de aperfeiçoamento, áreas como segurança pública, comunicações e judiciário ainda estão contaminadas pelo ranço autoritário da ditadura. E a cabeça das nossas elites, idem. 

    A questão da agressão a jornalistas foi o tema mais espinhoso que fundiu a cuca da rapaziada e fez a temperatura subir no final.

    Esse argumento da legitimidade de se calar os jornalistas da Globo pois eles são parciais, ou seja estão do lado de lá, magistralmente captado pela intervenção da plateia, é perigosíssimo pois também dá o direito de calar a Mídia Ninja, já que estaria igualmente de um lado (e um lado controverso, embora demonstrem dificuldade em perceber isso)  .

    Imaginemos um operário que rala pra caramba pra sustentar a família, tem um filho ali na faixa de 15 anos e toda vez que chega em casa, cansado do trabalho, vê o moleque empolgado assistindo a cobertura engajada e teatralizada da mídia ninja. Imaginemos que esse garoto resolve um dia ir as ruas externar sua insatisfação e volta pra casa cheio de ferimentos. Esse trabalhador, um dia saindo do trabalho, dá de cara com um protesto de quebradeira geral e topa com um camarada fazendo sua cobertura, por uma questão muito subjetiva, terá legitimidade para cobrir-lhe de porrada?!

    Acho esse debate fundamental e isso ficou sem resposta ali. Essa contradição que parece pequena, é importantíssima para compreensão de “tudo isso que tá aí”.

    No mesmo exemplo, vejo eles falando da capa do Globo extremamente violenta (asquerosa acrescento aqui), mas o que dizer de algumas narrativas da MN que incentivam a violência de forma até debochada? Enfim, coisas pra se pensar…

    Gostei tb muito do minuto 52, onde se fala do campo de batalha irracional que se tornou o Facebook. Da impossibilidade que essa nova plataforma está mostrando de fazer um contraponto a mídia oficial por conta, ou de replicar, em sua maioria, notícias escandalosas saída dos grandes veículos, ou ainda de uma excitação alucinada que coloca a indignação e a raiva antes da reflexão e do conhecimento, catapultando as pessoas pras ruas.

    Com 1 hora de vídeo a pergunta da menina é absolutamente genial! Vale o ingresso. A resposta do Ninja foi tão embaralhada e confusa que pareceu, sem sacanagem, ter incorporado um Exu-Gabeira!

    No minuto 46 o Felipe, mesmo entrando numa contradição gigantesca com sua fala anterior (onde disse que os agressores de repórteres tinham legitimidade) consegue dizer tudo o que eu penso: “Há que se ter a consciência que o jornalista que está na ponta não é o editor chefe e que o policial que tá na linha de frente não é o responsável pela militarização da instituição em que trabalha e ganha o pão.”

    Eu me esforço pra entender e respeito muito o que esses jovens trazem, mas penso que, guardadas as devidas situações terríveis que ainda enfrentamos (e eles tem razão quanto a isso), vivem sob uma perspectiva absolutamente singular sobre o momento atual do Brasil. Talvez no eixo Higienópolis-Leblon o Brasil, de fato, nunca esteve tão na merda e precisa urgente de uma revolução. 

    No caso do Raphuko, sua percepção sobre a favela é, na minha opinião correta e demonstra sensibilidade.  Mas, notem, isso não os credencia, em hipótese alguma, a defender na base da violência a causa de lá. Ouvir o que está acontecendo  para além da Rocinha de Amarildo, e respeitar as formas de se organizar e o que pensa e sente as comunidades seria um bom caminho. Manguinhos fez uma manifestação forte outro dia, e não apareceu black blocs, OAB nem “os mil e um iphones engajados”. 

    Por que não estreitar esses laços e sair do lugar de porta-voz da dor alheia? Lembro-me de ter visto na Maré, três senhoras moradoras chamando a atenção de uma menina que gritava palavras de ordem histericamente , dizendo para ela respeitar o luto que viviam naquele dia. Um pouco de humildade e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Eu mesmo senti vergonha de, naquele dia, ter ajudado no coro que tirou a repórter do RJTV de lá ; acho que temos todos muito que aprender…

    Quanto a Globo é lamentável a sua atuação sempre, é  uma organização execrável, sem dúvida um dos maiores males de toda a história do nosso país. O ranço ditatorial e reacionário está ali, impregnado, e não vai ser uma confissão fajuta daquelas que vai enganar os cidadãos brasileiros que tanto desprezaram ao longo da história. 

    O  mais importante disso tudo é a riqueza desse debate. Estamos chacoalhando o fundo nesse momento, e é natural que muita coisa venha a tona  mesmo, de todos os lados. 

    http://www.youtube.com/watch?v=i7WVIJERmmo

  5. Enquanto isso Manguinhos

    Enquanto isso Manguinhos segue esquecida por todos, inclusive os manifestantes burgueses.

    Cátia Guimarães, num artigo muito inspirado, diz quase tudo o que eu gostaria de dizer. A ditadura midiática de O Globo tem sim sua cota de responsabilidade na polícia assassina que entra na favela pra “passar o rodo” nas pessoas.

    Mas, se a mídia opera na lógica da guerra, podem ter certeza que não fala para o vento ouvir…A elite burguesa foi uma das maiores “patrocinadoras” da dizimação em massa de negros e favelados que vivemos no Rio de Janeiro nos, pelo menos, últimos trinta anos.

    Com o fim da Ditadura Militar, a polícia passaria das mãos dos generais para “as mãos” dos poderosos da Zona Sul maravilha. Foi servindo aos interesses da burguesia carioca, como muito bem retrata Hélio Luz em Notícias de uma guerra particular, que a pm sofisticou seus métodos de guerra para conter a violência do tráfico de drogas que começava ainda dar os primeiros passos.

    Um exemplo clássico disso foi o achincalhe geral que sofreu Leonel Brizola, o único que tentou frear essa sanha doentia das elites e proibir policial de chegar na favela atirando a esmo. Foi chamado de amigo de bandido e sua filha de xinxeira pra baixo. A população rejeitou Brizola nas urnas e elegeu Moreira Franco, cuja principal bandeira era o “milagre” de acabar com a violência em 6 meses. Para tanto, o recém empossado instituiu a chamada “gratificação faroeste” onde, na prática, cada policial recebia uma grana por cada bandido morto (na favela claro).

    E não pensem que essa lógica mudou. Esse governador que aí está foi consagrado nas urnas em 2010 por causa da sua política de segurança considerada exitosa. E para os que acham que naquela época as pessoas da “boa sociedade” não sabiam ainda sobre o pedreiro Amarildo, vale lembrar do cerco ao Alemão em que boa parte da população, aplaudia o big brother global nos bares, e queria mais é que a polícia entrasse chacinando geral.

    E ainda se alguém acredita em mudança de consciência social, o texto da Cátia é muito bom pra esclarecer de uma vez por todas a gente. Os jovens burgueses estão aí, quentes, revoltados na rua com a desgraça sem fim que acham que está esse país, estão aí a todo vapor inundando o Facebook, indo pra cima com os black blocs onde tenham professores ou cachorrinhos simpáticos…porém, não foram vistos em Manguinhos.

    Ali uma menina foi alvejada. Silêncio sepulcral nas ruas e nas redes. Fora o apoio da Fiocruz que fica ali do lado, não teve black blocs, não teve uma galera de máscaras pra “encarar” o choque, não teve OAB, e muito menos um agente da lei do Estado foi visitar Juliane no Salgado Filho, como acontecera com o jovem Raphael, na clínica São Vicente na Gávea na semana anterior 

    Amarildo virou um slogan, seu filho virou modelo, Paula Lavigne virou mundos e fundos, preocupada com a sua família, tem até uma turma que quer virar uma página da nossa história, e colocar seu nome na Ponte Rio-Niterói (o que de fato não seria má ideia não). Mas o que vale na prática é que o Rio de Janeiro continua o mesmo. A mesma cidade partida, os mesmos mundos que não se encontram – De um lado a favela, lutando sua causa sofrida, sozinha como sempre, enquanto a burguesia, numa explosão de fúria (niilista?), faz a sua guerra paritcular chamando os holofotes para si por todos os canais de que dispõe.

    http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed769_a_imprensa_que_ajuda_a_matar

  6. Ativistas ?

      Qual a causa ? se não tem não são ativistas, ativistas são defendidos com unhas e dentes aqui, inclusive dos que quebram e queimam suas bandeiras(pela última vez esses não são ativistas).

  7. Acho que os defensores dos

    Acho que os defensores dos diretos dos animais sempre sonharam em ver a nação toda discutindo esse assunto, deixado de lado por tantos anos, convenhamos, existem assuntos de maior urgência para tratarmos…

    Mas muitos comentaristas desse blog me deixam é de cabelo em pé, e no fim das contas queria mesmo é que a mídia nunca tivesse dado toda essa cobertura para o resgate dos beagles. No fim das contas tudo se resume a três vivas: à indústria farmacêutica, à indústria cosmética e principalmente à falta de ética com qualquer tipo de pesquisa científica… Viva! viva! viva!

    “Oncinha pintada
    Zebrinha listrada
    Coelhinho peludo (Beagles cobaias) Vão se fuder!
    Porque aqui
    Na face da terra
    Só bicho escroto
    É que vai ter…”

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=ykb7s9Xgjp0%5D

  8. Tenho percebido que todo e

    Tenho percebido que todo e qualquer assunto discutido virtualmente acaba sempre no desenvolvimento da polêmica, sem o devido rrespeito aos argumentos. Acredito que isso ocorre porque na discussão virtual um sempre fala após o outro e há, necessariamente, um delay entre quem emite uma opinião e as respostas a elas. De forma que ficamos,na maior parte do tempo, falando conosco mesmo. Por isso desconfio quando falam os defensores da ideia de que as redes são a grande revolução, mas esse é outro asunto.

    Essa dificuldade virtual pode servir de ponto de partida para o assunto em questãol. Aviso logo que não irei considerar aqui algumas varáveis importantes, como a mídia, porque o que me interessa agora é debater com o que o autor do post apresentou. Ao contrário dele, não acho que haja desqualificação dos ativismos em geral, mas uma desconfiança. E de onde vem esssa desconfiança?

    Minha resposta é que a desconfiança vem da confusão que ainda reina no Brasil sobre movimentos sociais, protestos, ativismos e como funciona tudo isso na democracia. Nossa memória de protestos ainda é diretamente vinculada ao tempo em que protestávamos contra um regime ditatorial que não nos permitia nem pensar, que dirá agir. A capacidade de negociação e de argumentação fundamental ao processo democrático é substituída pelo protesto puro e simples, pelos gritos de ordem, pelos clichês e, no caso do Estado, pela violência policial porque estamos acostumados à falta de diálogo entre opiniões divergentes. Tenho a clara impressão de que nenhum de nós entendeu ainda o que é extatamente viver em democracia. Por isso os exageros quando opiniões críticas são emitidas.

    Tomando como exemplo o caso do Instituto Royal e do resgate dos cachorros, acredito que as pessoas de uma maneira geral são contra a violência para com os animais. Por outro lado, todos nós queremos a cura das doenças que podem nos matar. É provado que é possível evitar o uso de animais em algumas experiências científicas, mas não em todas ainda. Se formos considerar o discurso de Luísa Mel, é para parar toda e qualquer atividade científica que utilize animais em seus experimentos. Percebam, não espaço de negociação para essa ativista e para muitos dos defensores dos animais. As ofensas que foram dirigidas aos pesquisadores do Instituto foram absurdas, pois não se tratam de chefes do crime organizado. 

    Esses mesmos questionamentos podem ser utilizados para pensar os black blocs, que parecem estar se tornando as milícias dos novos movimentos sociais. Que espécie de democracia precisa de pessoas encapuzadas dispostas a utilizar de violência para proteger o direito de protesto? Sei que muitos podem e devem responder: a mesma democracia que utiliza a polícia para defender os direitos de alguns poucos, Essa é a exatamente a constatação que faço aqui: ainda não sabemos e não vivemos uma democracia. Espero que, pelo menos, ainda a almejemos.

    O discernimento é fundamental para a democracia. O discernimento é que nos ajuda a imanginar como o mundo seria melhor. Quebrar um instituto de pesquisa e difamar cientistas vai mesmo livrar o mundo do sofrimento dos animais? Por falta de discernimento, costumamos propor as soluções erradas para os problemas que pretendemos resolver. E, quando as soluções são erradas, os problemas prosseguem. Penso que nós, brasileiros, ainda não estamos conseguindo aliar as propostas aos problemas. E isso decorre da falta de discernimento e de diálogo que caracterizam a democracia.

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