Ataques cibernéticos e a adesão de mulheres à campanha #EleNão, por Tânia Giusti

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Imagem: Pixabay

da objETHOS

Ataques cibernéticos e a adesão de mulheres à campanha #EleNão

por Tânia Giusti 

Há menos de três semanas das eleições, os enfrentamentos políticos estão se acirrando e a organização na internet tem gerado mobilizações virtuais de grandes proporções.  A consciência coletiva que emerge das redes reuniu mais de 2,4 brasileiras na semana passada no grupo “Mulheres Unidas contra o Bolsonaro”. Além do Facebook, o Instagram, Twitter e o Whatsapp também têm sido amplamente utilizados para conclamar manifestações em vários lugares do país, agindo como instrumento de mobilização social em defesa de igualdade, frente aos discursos de ódio do candidato do PSL à presidência, Jair Bolsonaro. Segundo Castells (2009), é desse sentimento de injustiça compartilhado que os movimentos sociais se originam. O que muda na contemporaneidade são as tecnologias em rede que aboliram distâncias e transformaram a sociedade em um sistema interativo de comunicação local global em tempo real.

Na madrugada de sábado para domingo (16), hackers Invadiram o grupo na rede social, alterando o nome para ‘Mulheres com Bolsonaro #17 e em seguida o excluindo. As contas das administradoras também foram invadidas, já na sexta-feira (14), sob ameaça de divulgação de dados pessoais. A equipe do Facebook emitiu uma nota ainda no domingo, informando que haviam conseguido recuperar a página. No domingo, 16, novos ataques. As organizadoras se mantém firmes e emitiram uma nota afirmando que “vivemos em uma democracia, ainda que constantemente ameaçada, não será através da força, da ilegalidade e da desonestidade que nossos votos serão convertidos, serão ainda mais reafirmados, contrários a todo e qualquer ato e discurso de ódio”, disseram.

Um levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, que monitora o comportamento das redes nesta eleição mostrou que o impacto do ataque acabou favorecendo o discurso contra o candidato do PSL no fim de semana, segundo reportagem da DW. A campanha #elenão teve mais de 193,4 mil citações no Twitter entre sexta-feira e domingo, e a #elenunca chegou a 152 mil citações. Além disso, após a página ser hackeada, surgiram várias com o mesmo teor.

Para além das redes

Apesar do Facebook e dos grupos de WhatsApp terem dado lugar a um cenário de faroeste, é preciso ressaltar e enfatizar -para além das redes- a liberdade que a internet propicia a milhões de usuários, frente às narrativas que são enfiadas “goela a baixo” por concessões públicas, de rádio ou tevê, que em tese, deveriam oferecer subsídios para que o cidadão-eleitor, munido de boas informações, pudesse escolher de forma “saudável” os seus representantes. Ao contrário da mídia hegemônica, a comunicação em rede permite que a sociedade se expressa através de suas formas autônomas de debate, organização e manifestação, online e nas ruas. Nesse sentido, revitaliza a democracia mediante a crítica aos partidos burocratizados e aos políticos corruptos. Castells (2015)

Dessa forma, o ativismo digital se configura, atualmente, como um instrumento essencial das transformações presenciadas no mundo contemporâneo. Pelas redes, é possível se organizar de forma independente e irreprimível. No entanto, ainda é cedo para mensurar os desdobramentos e prejuízos que também vem embutidos nas mudanças tecnológicas, pois como observa Jenkins (2009), a convergência é muito mais que uma mudança tecnológica, e refere-se a um processo, não a um ponto final.

Para que o fato político se concretize, no sábado,  29 de setembro, as internautas prometem sair das redes para as ruas, a exemplo da Marcha das mulheres contra Trump nos Estados Unidos. A semelhança entre os eventos está no fato de que ambos os candidatos são adeptos de discursos de ódio, representando os setores reacionários e conservadores da extrema direita. A diferença é que no caso dos estados Unidos, a mobilização ocorreu após as eleições. No Brasil, a organização das mulheres começou antes do primeiro turno das eleições, e após os ataques cibernéticos, ampliou o número de adeptas.

Tudo indica que o país registrará um importante ato neste “dia D”. E engana-se quem pensa que os homens não são bem-vindos na “Primavera feminista”, como o protesto está sendo chamado. As organizadoras de núcleos Brasil afora já divulgaram que os companheiros (tios, pais e filhos homens) também são convidados, desde que identificados com uma fita ou adereço na cor roxa. Mais de 40 cidades já confirmaram manifestações.  A primavera começa oficialmente dia 23 de setembro, mas no Brasil, o jardim irá florescer seis dias depois.

Tânia Giusti – Mestranda no POSJOR/UFSC e pesquisadora do ObjETHOS

Referências

Castells, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

Castells, Manuel. A Sociedade em Rede (Vol. I, 14ª ed.). São Paulo: Paz e Terra.

Jenkins, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009.

MOLIN, Márcia Cristina Gomes. A internet e o poder da comunicação na sociedade em rede: influências nas formas de interação social. Disponível em:

http://www.revistaseletronicas.fmu.br/index.php/rms/article/view/202

https://www.fronteiras.com/entrevistas/manuel-castells-a-comunicacao-em-rede-esta-revitalizando-a-democracia

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/14/politica/1536941007_569454.html

https://www.dw.com/pt-br/mulheres-uma-frente-contra-bolsonaro/a-45531993

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Bravas mulheres

    A visibilidade que a campanha Mulheres unidas contra Bolsonaro ganhou nas ultimas semanas levou à esse ataque. Isso é bom, incomodamos o bolsodinasauro, que pensa que mulher serve para duas coisas: procriar e ser pisada como tapete.

    E é bom mesmo uma manifestação antes das eleições, pois se até setores da midia ja estão apoiando Bolsonaro e Mourão, so resta aos sensatos demonstrarem a barbaridade em que antidemocratas estão embarcando por causa do antipetismo arraigado. 

  2. Se eu fosse o Bolsonaro,

    Se eu fosse o Bolsonaro, pensaria duas vezes sobre a tal liberação das armas. A quantidade de “tiros no pé” que seus apoiadores vem dando nos últimos tempos é impressionante.

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