O escracho palestino na frente do Fundo Nacional Judaico, por Beatriz Troncone

Fotos Samara Takashiro

Por Beatriz Troncone

Para o Jornal GGN

No último dia 15 de maio, o Movimento Palestina para Tod@s (MOP@T) articulou um ato-escracho em memória da Nakba, a tragédia palestina, em frente ao Fundo Nacional Judaico, localizado nas imediações da Barra Funda. O ato se concentrou em frente à rampa de acesso à Estação Barra Funda do Metrô, por volta das 19h, onde aconteceram algumas intervenções dos movimentos sociais que apoiam o MOP@T e a libertação da Palestina – as Mães de Maio, que inclusive vieram do final de seu ato para apoiar a memória da Nakba, MST, Escola Nacional Florestan Fernandes, Comitê pela Desmilitarização da Polícia e da Política e o Movimento Terra Livre. Por volta das 20h30 partimos em marcha para o Fundo Nacional Judaico, onde aconteceu o escracho, acompanhado de outras manifestações artísticas, como canto, leitura de poesias e estêncil. Ao final, os participantes deixaram imagens de chaves – símbolo do direito de retorno negado aos Palestinos desde 1948 – e ramos semelhantes aos de oliveira, simbolizando a destruição da cultura e da terra palestina pelo Estado de Israel.

Mas por que o Fundo Nacional Judaico?

Há anos, apoiadores dos movimentos de libertação da Palestina mundo afora se manifestam em memória da Nakba, a tragédia do genocídio palestino, das expulsões dos palestinos das suas casas, o roubo da sua terra e o apagamento da sua cultura, da sua existência.
O MOP@T, neste ano, colocou no centro do protesto o Fundo Nacional Judaico (FNJ). O FNJ foi uma entidade internacional criada no esforço colonialista dos sionistas europeus na virada do século (1901), e sua primeira função foi ser o meio pelo qual eram compradas as terras na Palestina que serviriam a assentamentos judaicos. Tais terras permaneceriam como propriedade inalienável do que o FNJ descrevia como o “povo judeu”. Quando os britânicos governaram a Palestina, antes da criação do Estado de Israel, o FNJ tornou-se uma organização acoplada nessa estrutura colonial; depois, com a criação de Israel, e as leis de administração de terras, o FNJ se integrou à administração de terras do governo israelense, arrecadando fundos no resto do mundo para a manutenção do Estado. E até hoje os 13% de terras de sua propriedade em Israel são administradas de forma segregacionista: “não-judeus” não podem usufruir dessa terra.

Além disso, o FNJ foi e é responsável pela transformação da própria vegetação da região no pós-1948, acabando com a flora local para a instralação de paisagens europeizadas e exóticas. O que parece algo trivial e inocente foi um dos principais modos que os sionistas, depois da criação do Estado de Israel, hebraicizaram a terra palestina. Mais de dois terços das florestas do Fundo estão sobre ruínas de vilas palestinas demolidas por Israel. “Na verdade, grande parte de nossos parques estão em terras que eram vilas árabes, e as florestas são uma forma de encobrir isso”, disse Michal Katorzah, em 2008 ao jornal “Our Land of Israel”. Portanto, esteve e está diretamente ligado ao que é uma política de expulsão e apagamento de memória, cultura e sociedade, o que caracteriza pela lei internacional práticas de limpeza étnica. Se a “existência de Israel” sobre terras palestinas busca seus recursos no estrangeiro, isso nos colocam em uma posição de responsabilidade. E o FNJ-Brasil faz parte desse esforço colonialista, sendo uma organização que se vende como ambiental e não esconde sua missão principal, a de conectar do povo judeu com uma terra ancestral, a “Terra de Israel”, segundo a descrição do próprio site, se referindo à ideologia sionista que quer conquistar toda a Palestina histórica: os territórios dominados em 1948, na Nakba, e aqueles ocupados depois em 1967, em Cisjordânia e Gaza. Um projeto baseado em ideologias nacionais exclusivistas e etnicamente racistas.

Assim, neste 15 de maio, mais uma vez a Nakba foi lembrada, mas não apenas. Neste 15 de maio gritamos mais alto que sabemos onde estão os fios que partem do Brasil para o sustento do Estado de Israel e que não seremos cúmplices. Seguiremos denunciando e pressionando quem for necessário para assistirmos, finalmente, à libertação da Palestina e de tod@os @s palestin@s.

 

 

Redação

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