Violência e repressão marcam atos contra Michel Temer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Nas ruas das capitais do Brasil, o resultado do impeachment de Dilma Rousseff foi a resistência e a repressão da Polícia Militar. Enquanto manifestantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife gritavam por democracia e contra o governo de Michel Temer, os atos foram duramente reprimidos, resultando em graves feridos, ataques a jornalistas e, ainda, uma ativista que ficou cega.
 
São Paulo foi palco de uma dos maiores atos e violências da PM. Manifestantes se concentraram em diversas ruas, marchando pela Avenida Paulista logo no início da tarde desta quarta-feira (31), quando foi anunciado o resultado da votação pela saída definitiva de Dilma.
 
 
Policiais avançaram rapidamente contra os ativistas, lançando bombas de gás lacrimogênio para dispersar integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), da União Nacional dos Estudantes (UNE), União Estadual dos Estudantes (UEE) e União da Juventude Socialista (UJS), além de outras multidões de insatisfeitos com o governo ilegítimo.
 
Entre as resultados agressivos da repressão policial, registros de atropelamentos, fotógrafos perseguidos e atacados e uma jovem manifestante que, segundo relato pessoal, chegou a ficar cega de um olho por um estilhaço de bomba de efeito moral. Acompanhe no vídeo de Democratize:
 
 
O Democratize, que acompanhou as manifestações em São Paulo, também publicou que sem nenhuma justificativa, policiais avançaram sobre um grupo de jovens entre a Rua Rego Freitas e o Largo do Arouche:
 
 
Outros registros e depoimentos pelas redes sociais constataram a violência desproporcional empregada pela Polícia Militar do governo de Geraldo Alckmin na capital.
 
De acordo com o Coletivo Democracia Corinthiana, que foi um dos organizadores do ato que reuniu cerca de 12 mil pessoas na cidade, os manifestantes realizavam o ato de forma pacífica desde às 19h20. 
 
“Na descida da Consolação, no entanto, utilizando como pretexto um entrevero com provocadores mackenzistas, a Polícia Militar de Geraldo Alckmin iniciou violenta repressão aos cidadãos e cidadãs, agredindo e ferindo aqueles que, por meio dos impostos, pagam seus salários. As ruas do Centro transformaram-se, então, em território de guerra. Foram registrados duros combates na Praça Roosevelt, na Praça da República e na Rua Amaral Gurgel”, publicou o coletivo.
 
E seguiu: “Mais uma vez, a polícia tentava impedir os manifestantes de alcançarem a sede da Folha de S. Paulo, órgão de imprensa que teve papel fundamental no golpe de Estado de 1964 e que repetiu a vergonhosa façanha em 2016. Vencendo inúmeras barreiras da milícia, cerca de 600 pessoas conseguiram chegar à Alameda Barão de Limeira, onde de forma pacífica expressaram em jogral as críticas à corporação golpista da Família Frias”.
 
Entretanto, a reação veio mais forte: Logo em seguida, as tropas cercaram o lugar e iniciou-se novo combate feroz. Os jovens foram acuados e tiveram de escapar em direção à Praça Princesa Isabel. Cercados, foram empurrados pela polícia ao funil da Cracolândia. Neste momento, muitos foram assaltados e agredidos. Celulares foram roubados e carteiras subtraídas”, contaram.
 
Entre as vítimas, o fotógrafo William Oliveira teria sido perseguido pelos policiais, agredido e seu equipamento destruído. A ativista Deborah Fabri sofreu graves ferimentos no rosto e, na madrugada, teve que passar por procedimento cirúrgico.
 
“Horror, desrespeito e suspensão das liberdades democráticas. Este é o Brasil de Aécio, Temer, Maia, Renan, Marta, Cunha e Caiado, dirigido também pelo oligopólio de comunicação liderado pela Rede Globo. 1964 está de volta”, criticou o coletivo.
 
O caso da ativista foi registrado por outros grupos, como os Jornalistas Livres. “Quando encontramos Deborah, ela já estava ferida e era amparada por amigos e outros manifestantes. Ainda assim, ela conseguiu explicar que o estilhaço da bomba que atingiu seu olho, dilacerou a lente do óculos que usava. Deborah sentia pedaços de vidro dentro do globo ocular”, relataram.
 
 
“Ao nos aproximarmos, ela dizia: ‘perdi meu olho, meu olho não está aqui’. Deborah mal conseguia ficar em pé. Foi levada para os primeiros socorros da unidade ambulatorial da PUC, na Rua Marquês de Paranaguá. De lá. Foi encaminhada ao Hospital das Clínicas, onde permanece internada. Contatamos a advogada Ana Casarin e a Rede Feminista de Juristas DeFemde para acompanhar o caso”, explicaram.
 
A polícia também chegou a invadir a USP, que, sob a justificativa de prevenir contra a manifestação, mandou ” todos os alunos saírem das aulas e trancaram as portas”, segundo relatos de alunos.
 
 
Em outro depoimento de Sato do Brasil, jornalista que acompanhava as manifestações, um policial mandou a saída do repórter, caso contrário tomaria “um tiro na cara”: “Eu tava atrás dele. O policial gritou: sai daqui filho da puta! Eu falei: sou imprensa. Ele: foda-se seu filho da puta! Quer tomar um tiro na cara? Dei as costas e saí andando, ele ficou. Dois fotógrafos, apanharam da polícia e tiveram seus equipamentos de trabalho destruídos. Um está na 2DP, o outro no pronto-socorro na Vitorino Carmilo. Esses são os novos tempos. E se prepare, compre seu capacete, seu colete, sua máscara e seu vinagre. As coisa vão piorar muito!”, publicou nas redes.
 
Um restaurante árabe no centro de São Paulo foi destruído pela ação da PM. O “Al Janiah” foi alvo de várias bombas na noite de ontem. Em nota, afirmaram que “não acontecia nenhum tipo de protesto ou movimentação na rua e apenas nosso estabelecimento que sofreu o ataque”. “Quando alguns membros da nossa equipe saíram e avisaram aos policiais que ali era um bar e restaurante, eles mandaram mais duas bombas”, completaram.
 
 
 
No Rio de Janeiro, a população saiu às ruas dos bairros na Zona Sul, Norte e região central com os mesmos intrumentos usados pelos chamados “defensores do golpe”: panelaços foram registrados durante todo o pronunciamento do governo, agora efetivo, de Temer, por volta das 20 horas desta quarta. 
 
O cenário não foi diferente no Recife. As principais avenidas da capital pernambucana, entre elas a avenida Agamenon Magalhães, foram preenchidas pelos manifestantes e representantes de diversas entidades civis, até chegar ao corredor viário da Conde da Boa Vista e a Praça do Diário.
 
Acompanhe outras fotos das manifestações em São Paulo, publicadas pelo Mídia Ninja:
 
Foto: Mamana Foto Coletivo
 
Foto: Mídia NINJA
 
Foto: Mamana Foto Coletivo
 
Foto: Mídia NINJA
 
Foto: Mamana Foto Coletivo
 
Foto: Mídia NINJA
 
Foto: Mamana Foto Coletivo
 
Foto: Mídia NINJA
 
Em solidariedade à manifestante Déborah Fabri, o Levante Popular da Juventude publicou uma nota. Acompanhe:
 
Na noite de ontem, 31 de agosto de 2016, milhares de jovens saíram às ruas de diversas capitais para protestarem e expressar todo seu repúdio ao golpe parlamentar que destituiu a presidenta legítima, Dilma Rousseff, colocando em seu lugar o golpista e usurpador, Michel Temer.
 
O Levante Popular da Juventude esteve presente em diversas destas manifestações, somando-se ao coro Não ao Golpe, Fora Temer!
 
Praticamente todas as manifestações ocorreram fortes reações da polícia militar, que agiu de maneira desproporcional, violenta e brutal, reprimindo e agredindo os manifestantes. Em São Paulo, na esquina da rua Caio Prado com a rua da Consolação, mesmo lugar onde ocorreu o massacre de 13 de junho de 2013, a militante do Levante Popular da Juventude, Deborah Fabri, estudante da Universidade Federal do ABC (UFABC), foi atingida por um estilhaço de bomba no rosto, ferindo seu olho esquerdo.
 
Deborah foi hospitalizada e passa bem, perdeu a visão do olho esquerdo! Isso é inaceitável! Prestamos toda nossa solidariedade à ela e seus familiares e afirmamos que não descansaremos até que os responsáveis sejam punidos e ela disponha de todo a assistência necessária.
 
Repudiamos veementemente a ação da Polícia Militar do governador Geraldo Alckmin. Exigimos apuração, identificação e punição dos responsáveis imediatamente.
 
Essa é a marca desse governo ilegítimo e desse golpe: violência, truculência e autoritarismo. Não toleram a democracia, a liberdade de expressão, a soberania popular. Querem nos tirar tudo, desde os nossos direitos à nossa voz: não permitiremos!
 
Michel Temer e seu governo não nos representa, muito menos irá nos intimidar. Tomaremos todas as medidas judiciais e políticas cabíveis. Lutaremos e resistiremos em todas as trincheiras!
 
Seguiremos nas ruas, na luta contra esse golpe! Convocamos todos e todas a ocuparem as ruas!
 
Fora Temer!
 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

20 Comentários

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  1. Com a queda de Dilma, não é

    Com a queda de Dilma, não é de estranhar que os ânimos tenham se exaltado ao extremo. E com o novo governo agora sendo legitimado, a resposta das autoridades é igualmente dura. O resultado só poderia ser revolta, violência, indignação e tudo o que está aí estampado.

    1. Os ânimos não se exaltaram,

      Os ânimos não se exaltaram, ao menos não em São Paulo. O protesto seguia pacífico quando, do nada, a polícia começou a jogar um monte de bomba ao mesmo tempo contra a população. Receberam ordens para reprimir mesmo. E as imagens e relatos deixam claro o arbítrio, saíram agredindo todo mundo sem motivo algum. 

  2. #ForaTemer  golpista,

    #ForaTemer  golpista, golpista, golpista

    Segundamente as imagens é claro já correram mundo antes do usurpador, golpista, covarde chegar na China.

     

    Em Florianopolis ,

     

    https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1349454788415309/                                 do dia 26/08/2016

    https://www.facebook.com/Lino-Peres-Vereador-447396448698785/?fref=ts .            de  31/08/2016

    Não chiem não por ser o face de um vereador  , é onde estão as melhores fotos. E desculpa aí, porém ele é demais, está em todas com a gente.

     Não  passarão, 1964 não  acabou mas vai acabar.

     

  3. Violência estatal

    E o povo de São Paulo ainda reelegeu o tirano.

    Alkimin é um anti-democrata, escondido na faixa de governador.

    Chega de TUCANO no Brasil.

    1. não

      Não, já somos suficientmente adultos para agir por nossa conta.

      Não precisamos de mamãe para nos proteger, temos que, nós mesmos, encarar o bicho.

  4. golpe

    Com o golpe foi rasgada a constituição e acabou o estado de direito.

    Logo, o avejão que aí está é um mero usurpador do Estado e, em conseqüência, as forças policiais passaram a ser meros jagunços a soldo e suas violências podem (devem) ser respondidas à altura.

    1. Nada à ver…burrinho manipulado !?

      Comparar Venezuela e Brasil é uma função de analistas racionais, criticos e inteligentes. O que não parece ser teu caso.

  5.  
     
    Leonardo Boff está

     

     

    Leonardo Boff está apreensivo com o porvir. Pra ele, as manifestações contra Temer poderão trazer a volta dos militares ao poder. 

    Temer não é bobo pra sentir que é indesejável por considerável parcela da população. Sabe como começa e termina uma manifestação com truculência. Sabe, ainda, que se sob seu comando pessoas forem agredidas e mortas ele estará mostrando ao mundo sua incompetência por não conviver bem com um regime democrático.

    Voltando a Boff, que tal imaginarmos que já está tudo devidamente planejado entre Temer, seu ministro da justiça, e as Forças Armadas? 

    Como nos tempos da ditadura, podem pessoas estarem sendo conduzidas a se infiltrarem nas manifestações, depredando o patrimônio público. Assim, os inocentes terão que pagar pelos atos que não cometeram. Assim, por uma estratégia maior, as Forças Armadas decidem, comungando com o STF, que governarão juntamente com Temer. Teríamos um governo híbrido – civil-militar. 

    O importante é ninguém achar que tem criança lá em cima. Esse pesoal continua disposto a destruir o PT, e tudo que acontecer de mal nas ruas será imputado a apenas esse partido. 

    Já apareceu uma moça com cegueira em um olho, e as próximas vítimas virão, com certeza.

    Saber onde isso vai desaguar, não é matéria fácil. Por debaixo dos panos há muitos mistérios a serem desvendados.

  6. Assassinos.

    Começo da “DITABRANDA” ASSASSINA, novamente anunciada, como em 1964 na marcha da”família” com “deus” pela “liberdade”, POR FALSOS PASTORES E SEUS CAPATAZES.

    Mas não conseguem enganar àqueles que realmente acreditam em Deus e até os que são Ateus, mas não usam religião para tentar engambelar, e justificar roubos e assassinatos:

    « Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.»  A mulher disse a Jesus: «Eu sei que vai chegar um Messias (aquele que se chama Cristo); e quando chegar, ele nos vai mostrar todas as coisas.»  Jesus disse: «Esse Messias sou eu, que estou falando com você

    No vídeo a seguir, só faltam as mulheres que acompanhavam Jesus desde o início de tudo, e como de costume são passadas para trás. (Lc 23,49)

    [video:https://youtu.be/OXoMzl_fnMw%5D

    1. violência….

      Mais gente que perdeu a visão pela violência desproporcional e comandada do governo Alckmin. O PoderJudiciário paulista dirá que a culpa é das vitimas

    2. Seguindo as digitais dos

      Seguindo as digitais dos ladrões golpistas brazileiros… e deixando digitais de ladrões por lá também.

      Tudo para transformar a América do Sul, em américa latrina do norte, e de seus paus-mandados.

  7. NO CALIFADO DA REP. POPULAR

    NO CALIFADO DA REP. POPULAR DO TUKANISTÃO SÓ PODIA PRORESTAR CONTRA O PT QUE CAIU NA BALELA DO REPUBLICANISMO NA NOSSA REPÚBLICA BANANEIRA BRASILEIRA.

  8. Esse bandido assassino.

    Qualquer pessoa  minimamente informada sabe que é promovido um masacre nas áreas mais pobres do país.

    Escorre muito sangue dos paulista nas mãos do calhorda que finge ser cristão!!!

     

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