Demissão é estratégia de Alckmin para acabar com sindicato, diz Pasin

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A demissão dos 42 metroviários foi estratégia de Alckmin para acabar com o sindicato, disse o presidente da Federação Nacional dos Metroviários, Paulo Pasin, ao GGN. Do total de trabalhadores afastados, 12 são dirigentes sindicais.

“Em 2007, ele [Geraldo Alckmin] adotou a mesma postura em um movimento como esse e a OIT condenou o Metrô por prática anti-sindical. Idêntico. E agora o Metrô é reincidente. Com algumas pessoas, inclusive, fica evidente a perseguição. Os casos dos companheiros afastados: eu, Alex Adriano [secretário-geral do Sindicato dos Metroviários] e Dagnaldo [secretário de Formação Sindical], nós já tínhamos sido também demitidos em 2007”, conta.

No período, uma ação do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) determinou que o governo do Estado e o Metrô seguissem a decisão da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Todos os demitidos foram absolvidos e reintegrados. 

Passados quatro anos, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego apresenta-se com o mesmo posicionamento, e considera as demissões abusivas e anti-sindicais. O Ministério deferiu por uma autuação da empresa. 

Pasin conta que entre os 42 demitidos dois são da diretoria do Sindicato dos Metroviários, dois da Fenametro, quatro membros da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e um grupo de delegados sindicais.

“Se demito 20% da diretoria, mantenho o dinheiro das contas bloqueado, estou impedindo que o sindicato invista. Lembra muito o período da ditadura militar, onde se intervinha nas diretorias dos sindicatos. Agora, eles têm um mecanismo mais sofisticado, que o é de intervir mandando vários diretores embora e estrangulando financeiramente a entidade. O objetivo é ficar sem condição de continuar existindo com força”, afirma o presidente da Fenametro.

Enquanto o MTE decidiu pelos abusos da demissão, na última sexta-feira (13), o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), de outro lado, congelou as contas bancárias do sindicado para assegurar o pagamento da multa de R$ 900 mil.

Campanha internacional

Mas a falta de recursos não foi suficiente para barrar a ampla campanha que os metroviários estão fazendo desde a decisão, na última quarta-feira (11), de suspender a greve. Segundo Paulo Pasin, não fazer greve não significa parar com a luta. “Nós apenas mudamos a forma das mobilizações, mas elas vão continuar. Primeiro, com o diálogo com a população e segundo, também, internamente”, diz.

“É claro que as demissões pesaram sobre a categoria. Cria uma sensação de indignação, de um lado, e receio, por outro. Mas o que isso demonstra não é um governador forte, demonstra um governador que não sabe dialogar com os movimentos sociais. Ele imagina que com isso ele para o movimento? Ele apenas acirra o conflito, também com a população. Esse tipo de conduta autoritária vai, na nossa opinião, ampliar a solidariedade de outros setores”, explica.

Guiando-se por essa solidariedade, o movimento já arrecadou mensagens e protestos de apoio de entidades no Brasil e mundo. Entre eles, uma extensa lista de pessoas, como o cartunista Carlos Latuff, a deputada Luiza Erundina, o advogado Ricardo Gebrim, o juiz do trabalho Jorge Luiz Souto Maior e Christian Mahieux, da União Sindical Francesa Solidariedade.

Luiza Erundina, Carlos Latuff e Souto Maior

Cartas vindas de sindicatos e associações de Barcelona, Milão, Alemanha, França, Estados Unidos, Paraguai, Argentina e outros, protestaram a ação do governo do estado de São Paulo, e pediram a reintegração imediata dos 42 funcionários.

Cartas da Alemanha e França

Cartas Espanha e EUA

USP, Unicamp, Unesp e Unifesp também manifestaram apoio. Além dos jovens brasileiros, grêmios estudantis argentinos e de Bruxelas também registraram indignação. (Leia lista completa de entidades)

Apoio de estudantes de Barcelona, Bélgica e brasileiros

Com as contas do Sindicato congeladas, o movimento está funcionando a partir de doações na conta da Federação Nacional dos Metroviários.

“Quem defende a existência da organização sindical e os direitos de greve, de manifestação, auxilie a gente, porque temos que garantir o pagamento dos funcionários do Sindicato e para a campanha em ajuda aos companheiros demitidos”, pede o dirigente, informando que não há previsão de uma resposta do governo.

Crime: Metroviários ou Cartel?

“A mídia tem um tratamento muito interessante. O governo chama, e a mídia repete, que somos vândalos os companheiros demitidos, e não sabemos nem do que somos acusados. Agora, aqueles que durante anos se beneficiaram do esquema do cartel que envolve bilhões e que, francamente, fazem esquemas de corrupção parecerem pequenos tamanha a quantidade de dinheiro – inviabilizou a extensão do metrô para conclusão da linha 2 e da linha 5 porque o dinheiro foi desviado –, esses acusados de dentro do Metrô, da CPTM e da Secretaria de Transportes Metropolitanos estão aí, trabalhando tranquilamente”, afirma Pasin.

As indagações dos metroviários vão adiante.

“Tem um problema de corrupção por parte do PSDB que até é um pouco difícil de explicar. Eles contrataram junto à Alstom um sistema de modernização chamado CBTC, que segundo eles, permitiria colocar mais trens circulando, diminuindo intervalos e a lotação”.

O sistema Controle de Trens Baseado em Comunicação explicado por Pasin foi contratado em 2008 para ser concluído nas linhas 1, 2 e 3. Entretanto, “pagou-se por isso, já se gastou em torno de R$ 1,5 bilhão, estamos em 2014 e o sistema não funciona até hoje, em lugar nenhum”.

O presidente da Federação informa que, além disso, há perigos. Testado eventualmente nos finais de semana, na Linha 2 – Verde, com poucos trens e usuários, “coloca em risco pela possibilidade de choque entre trens”.

“Ninguém é responsabilizado por isso”, conclui.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

16 Comentários

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  1. concordo com os

    concordo com os metroviarios

    a demissão tem como objetivo aterrorizar os funcionarios

    a greve foi avisada com antecendencia e nenhum metroviario sai por ai obstruindo via alguma.

    foram agredidos do jeito que a gente nao vê a PM fazer com os vagabundos do Passe Livre

    sao trabalhadores e jamais poderiam ser chantegeados com a demissao de seus empregos 

    e acho que deixar o metro funcionando com 70% da capacidade algo temerario pois comcerteza haveria quebra quebra pois o pessoal acharia desaforo esperar maior tempo do que normalmente ja esperariam e mesmo que fosse colocado 100% da frota no horario de pico  seria arriscado pois qualquer problema faria a galera achar que é proposital e novamente haveria um caos na estaçao.

    logo a greve no meu ver ainda que tenha tornado minha vida um inferno é um instrumento legitimo , se houve má fé para aproveitar o momento da Copa pode-se discutir, mas jamais demitir essa galera… 

    1. Prá vc ver como é a vida. Eu

      Prá vc ver como é a vida. Eu apoio a maioria dos seus comentários, mas, sinceramente, acho que todos os trens do metrô deveriam ser como a linha amarela e essa categoria não ter mais a capacidade de afetar a vida de 6 Milhões de pessoas…

  2. Por mim, que as demissões sejam mantidas!

    Não tenho a menor simpatia por sindicalistas. Os do Metrô exageram no radicalismo e da condição de serviço publico essencial. Nunca participei de greve. Quando estava descontente com o salário mudava de emprego. E sempre consegui melhorias salariais. Hoje aposentado, não posso mudar de Instituto. Por isso continuo trabalhando. Eles brigam por PPL. Será que topariam participar do prejuízo todo ano registrado pelo Metrô?

    1. Nao tem outro nome pra vc: Pelego!

      Tudo que vc tem hj em dia em termos de direito trabalhista foi conseguido porque alguem teve coragem de enfrentar o poder do capital. Vc sempre se aproveitou disso, mas nunca lutou por nada.  Faça bom proveito da sua gorda aposentadoria adquirida graças a luta de quem nao se escondeu atrás dos outros.  Vc nao merece o feijao que come.

      1. Nada a ver. A Companhia do

        Nada a ver. A Companhia do Metro é uma empresa publica, pertence a toda a população e não ao “”poder do capital””.

        1. Quem trabalha em empresa

          Quem trabalha em empresa pública também precisa comer, vestir e morar, Motta Araújo. Igualzinho aos outros. E o fato de trabalhar em serviço essencial é mais uma razão para o trabalhador ganhar  um salário digno.

    2. Esses cara queriam estragar a

      Esses cara queriam estragar a copa da Dilma e nesse ponto o PSDB paulista foi simplemente perfeito. Depois da copa será um prazer e quero mesmo que voltem com tudo

      1. Coisa feia… Quer dizer que
        Coisa feia… Quer dizer que o vandalismo só deve ser repreendido se for contra o PT… No mais, que volte o vandalismo com força total. Incoerências deste tipo que fazem as pessoas isentas duvidarem da sinceridade do discurso de alguns (apenas alguns) petistas…
        Oportunismo sequer deve ser pensado. Se pensado, não deve ser falado. Se falado, não deve sê-lo publicamente.
        Vocês não imaginam o tiro no pé que dão com comentários do gênero. O blog do Nassif é frequentado por muitas pessoas que correm a rede em busca de informações para decidir seu voto. Tentem pelo menos imaginar o que pensa esta pessoa ao ver um comentário desta estirpe?
        Passa incongruência, incoerência, oportunismo e má fé.
        Fica a impressão de que todos os petistas defendem que os vandalismos são reprovados se contra a Dilma, mas aprovados se contra o governador paulista.
        Passa falsidade: só sou contra o vandalismo se for contra meus intersses políticos.
        Este tipo de postura não ajuda em nada.
        Fical o mal do erro do malandro: achar que todo mundo é otário.

    3. Melhor ler isso do que ser cega

      Se todo mundo pensasse como você, a  situação da classe trabalhadora  hoje estaria  como nos primórdios da Revolução Industrial.

    4. Existe o caminho que vc

      Existe o caminho que vc seguiu, individual, de melhoria do salário. Procurou melhores colocações mesmo que em outros empregos. É um caminho que todo mundo vai ter que seguir. O que não impede ou invalida o caminho coletivo de melhorias. Se você nunca foi favorecido neste seu caminho individual por alguma conquista coletiva estará mentindo.

      Quanto aos metroviários, muito me admira terem entrado numa luta que perderam tão bisonhamente. Demissões, por mais ilegais que sejam, devem ser previstas pelo comando de greve. Pra mim foi erro de avaliação do comando de greve. Não se perde uma greve assim, tão humilhantemente. 

       

    5. Outra Coisa

      Nos empregos que  teve, se você  usufruiu de benefícios  como descanso semanal remunerado, intervalo para almoço, férias anuais remuneradas, assistência médica, vale transporte   ticket alimentação, dê graças à luta dos sindicalistas que tanto menospreza.

  3. MENTIRA!

    Em 2007, se alguem foi readmitido, com certeza foram só os dirigentes sindicais.

    Há companheiros que brigam na jsutiça até hoje e não conseguiram a reintegração.

  4. Tem que obedecer a JUSTIÇA!

    Declarada ilegal a greve, deveriam ter voltado imediatamente ao trabalho; não voltaram! Os demiotidos dificilmente voltarão e tomaram que outros não sejam demitidos, torçamos por isto! Os SINDICATOS têm que entender que a greve naquele momento não teve apoio de ninguém ( nem da população, nem do governo Estadual, nem do federal…de ninguém ) e que pagará o pato são os demitidos! Vivemos na DITADURA DO JUDICIÁRIO e é preciso lutar para mudar isto pelo caminho correto ou se sujeitar a este SUPERPODER, o Judiciário! Viva o Brasil, o Lula e a Dilma!!!! 

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