Em protesto, movimentos sociais miram Alckmin e transporte ruim e lucrativo

Jornal GGN – No final da tarde da quarta-feira (14) movimentos como MPL (Movimento Passe Livre) e do sindicato dos metroviários realizaram ato público em defesa do transporte público e de qualidade. Os manifestantes se concentraram no vão do Vale do Anhangabaú e depois saíram em passeata até o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), onde estão sendo investigados 45 inquéritos relacionados ao cartel de licitação para as reformas de trens do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trem Metropolitano). 
 
Na sequência, os manifestantes foram até a Secretaria de Transportes, onde queimaram simbolicamente um boneco do governador Geraldo Alckmin e uma catraca, gritando palavras de ordem como “por um mundo sem catracas”. O protesto terminou na Praça da Sé, onde os manifestante se dividiram em grupos. Um deles foi para Câmara Municipal de São Paulo, onde ocupou o plenário, por algumas horas, em solidariedade aos protestos que estão ocorrendo no Rio de Janeiro. As recentes denúncias de superfaturamento em obras e reformas de trens do metrô e CPTM devido à formação de cartéis para licitação entre empresas multinacionais como Alstom, Bombardier, CAF e a Mitsui, denunciadas pela Simens, que também fazia parte do esquema, geram revolta em setores que lutam por um transporte de qualidade para os trabalhadores.
 
Segundo valores já apurados pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), foram desviados dos cofres públicos R$ 425 milhões. Para o MPL e os metroviários, se esses recursos tivessem sido investidos no transporte público, não haveria trens lotados e passagens tão caras. Para Marcelo Hotimsky, do MPL, “o cartel denunciado ou o aumento da tarifa seguem tudo a mesma lógica, eles [governo e empresários] têm como prioritário os lucros das empresas e não os usuários e os trabalhadores do transporte público”. O representante do movimento acrescenta que o ato serve para denunciar o cartel de licitação “vamos mostrar para os governantes que estamos nas ruas, e não deixaremos eles fazerem o que bem entenderem do nosso transporte público”.
Transporte público virou mercadoria
 
Depois das jornadas de mobilizações de junho impulsionadas pelo MPL, que conseguiu revogar o aumento das tarifas de ônibus, trens e metrô no estado de São Paulo, o MPL se junta aos metroviários para denunciar a lucratividade das empresas e a precarização do transporte público. Para o movimento, somente a unidade entre todos os que dependem do metrô (trabalhadores e usuários) poderá haver mudança significativa que não seja apenas a dos empresários que visam unicamente os lucros.

“O MPL sempre defendeu que o transporte só vai mudar e atender os interesses de quem o usa diariamente quando tiver uma unificação da luta dos trabalhadores [metroviários] com os usuários”, afirma Monique Félix, uma das representantes do movimento em São Paulo. “Hoje acumulamos uma força política conquistada em junho, e ela aconteceu nas ruas e, é isso que estamos fazendo aqui. Um primeiro grande ato de unificação de todos os trabalhadores e usuários, porque somente juntos poderemos construir um transporte que atenda às necessidades da população”, acrescenta Monique.   

 
O presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino dos Prazeres, disse que, diante desses escândalos de corrupção, não é mais possível que a sociedade assista a tudo, passivamente, pela televisão, sem ir para as ruas. “Do mesmo jeito que nos manifestamos contra o aumento da tarifa, e conseguimos reverter o quadro, agora nós queremos a devolução de todo o dinheiro roubado que está na casa dos R$ 425 milhões. Vamos lutar para que todo esse dinheiro seja revertido ao transporte público, com a redução da tarifa e na melhora da qualidade do transporte”, afirmou. 
 
Já para Paulo Pasin, presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários) – que esteve no Cade, no início deste mês, para a entrega de mais contratos realizados pelo Metrô de São Paulo com suspeitas de cartel – considera a acusação um marco para o diálogo com a sociedade, para quem o sistema de transporte está a serviço. “Essa denúncia de corrupção só trouxe à tona aquilo que o pessoal do MPL e nós metroviários sempre falamos: transformaram o sistema de transporte em mercadoria. Agora precisamos ‘desprivatizar’ o metrô. Hoje o sistema é uma empresa privada voltada para os interesses das multinacionais”, arrematou. Ao comentar a importância do ato político Pasin afirmou que se trata “do início da retomada das mobilizações”. Para o MPL e para os metroviários, se esses recursos tivessem sido investidos no transporte público, não haveria trens lotados e passagens tão caras.
 
Em meio à manifestação nas ruas do centro de São Paulo, um policiamento ostensivo acompanhava as atividades. Questionado sobre a presença de “P2” (policiais à paisana) infiltrados entre os manifestantes, o coronel Marcelo Pignatari respondeu que a polícia estava utilizando “técnicas de acompanhamentos através de redes sociais e monitoramento”. Ao ser indagado, mais uma vez, se haveria policial infiltrados, Pignatari desconversou e disse que estavam trabalhando dentro da legalidade. “Não nos interessa que haja quebra da ordem para depois atuarmos; então, a Polícia Militar usa de todos os recursos possíveis para impedir que oportunistas infiltrados nos movimentos acabem comprometendo tudo”.  
 
Redação

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