Especialistas debatem o fenômeno do “rolezinho”

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Thaís Antonio
Repórter do Radiojornalismo da EBC

Brasília – “Rolezinhos” estão sendo programados pelas redes sociais em mais de dez estados para as próximas semanas. Em muitos deles, movimentos sociais e universitários organizam os encontros em protesto à repressão policial contra a reunião que ocorreu em um shopping de Itaquera, bairro da zona leste de São Paulo. Na linguagem popular, “rolezinho” significa passear ou dar uma volta. Nas últimas semanas, a palavra tem sido bastante usada para descrever reuniões de jovens, principalmente da periferia, em shopping centers.

De acordo com a professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ivana Bentes, o fenômeno tem um forte caráter político e surpreende por resgatar o espírito das manifestações do ano passado em um cenário inusitado, os shoppings. “Mesmo que não tivesse uma intenção de causar politicamente, ele é político. A simples existência de um jovem negro da periferia dentro de um shoppingcenter, sendo rejeitado, sendo considerado um consumidor indesejado, já é um fato político, independentemente da intencionalidade”, disse. “Acho muito importante que outros grupos sociais tenham se organizado para manifestar solidariedade a esses jovens”, completou.

O chamado “rolezinho” começou em São Paulo, no fim do ano passado. Desde então, vários ocorreram, chegando a reunir milhares de pessoas. No último sábado (11) foi no Shopping Itaquera, teve a participação de 6 mil jovens e terminou em confronto com a Polícia Militar. Daniel de Souza, o MC Danadinho, esteve presente. Ele disse que a origem do “rolezinho” são os chamados encontros de admiradores, em que fãs dos cantores defunk iam aos shoppings para encontrar os ídolos. “Antes do ‘rolezinho’ tinha o encontro de admiradores, que era com os famosinhos das redes sociais, que faziam o seu encontro e reuniam o povo no shopping”, declarou. “É o único lugar que todo mundo conhece e é público”.

O jovem acredita que os encontros de admiradores cresceram e se tornaram os “rolezinhos” de hoje, atraindo também pessoas que aproveitam a situação para causar tumulto. “Começou a encostar os caras que faz baderna, começou a colar os polícias para tirar a gente do shopping, começou a passar na televisão, começou a vir os caras de longe para tumultuar. Aí, por causa de uns, todos os que vão para curtir pagam do mesmo jeito dos que vão para tumultuar”, disse. 

As administrações de alguns shoppings conseguiram, na Justiça, liminares para impedir os encontros. Para o professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Fernando Menezes, o que está em jogo, nesse caso, é o direito de ir e vir e o direito à propriedade. “No caso em que um grupo, se valendo da sua liberdade de ir e vir, combina um encontro de tal volume e de tal tamanho e com tais atitudes que começam a, exageradamente, impedir o exercício de outros direitos e liberdade por outras pessoas, estão abusando do seu direito”, explicou.

O professor da Universidade de Brasília, Alexandre Bernardino, discorda. Na opinião dela, a proibição da entrada nos shoppings está ligada ao perfil dos jovens que fazem os “rolezinhos”. “É claramente uma manifestação de preconceito em relação a um determinado grupamento social que se caracteriza por pobreza e por negritude, um grupo que se manifesta politicamente, no sentido mais amplo da palavra, e que não pode ter seu direito de manifestação e de ir e vir cerceado em um lugar público, porque o lugar é privado, mas é aberto ao público, então é publico”, defende.

A professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, Liana Lewis, entende que o fenômeno evidencia contrastes da sociedade brasileira. “Quando a gente trata de ‘rolezinho’, a gente não pode separar a questão de classe da questão de raça. O ‘rolezinho’ é um fenômeno de classe e de faixa etária, mas sobretudo de raça”, explicou. Para Liana, existe um estranhamento quando universos diferentes passam a ocupar o mesmo espaço. “O que mais amedronta no ‘rolezinho’, para além da questão de classe, é que você tem vários garotos negros em um espaço majoritariamente branco”, destacou.

 

Edição: Aécio Amado

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Disse a especialista:
    > A

    Disse a especialista:

    > A simples existência de um jovem negro da periferia dentro de um shoppingcenter, sendo rejeitado, sendo considerado um consumidor indesejado (…)

    Logo abaixo se lê:

    > O chamado “rolezinho” começou em São Paulo, no fim do ano passado. Desde então, vários ocorreram, chegando a reunir milhares de pessoas. No último sábado (11) foi no Shopping Itaquera, teve a participação de 6 mil jovens e terminou em confronto com a Polícia Militar.

    “Véio”, “diboa”… Eu vejo esses auto-intitulados especialistas falando e me dá uma vergonha alheia do cascalho.

    Ô pessoal de Itaquera, só a “elite branca” frequenta o shopping aí?

     

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador