GAY OU NÃO GAY

Gay não Gay

As oposições afetadas contra o casamento gay se assemelham às reações produzidas pela emenda do senador baiano Nelson Carneiro, que propôs a Lei do Divórcio, em 1977, portanto há não tão longínquos 36 anos. Os guardiões da moral, em defesa da honra e dos valores cristão se esquecem que foi apenas o reconhecimento jurídico de algo que já era praticado desde sempre, ou seja, muito barulho por nada. As transformações culturais e comportamentais ocorrem, quer queiramos ou não, e toda visão de mundo, por melhor e mais coerente que seja, sempre será uma visão parcial. A pretensão da visão única e total é a raiz do que existe de pior na história humana.

A discordância e a oposição ao reconhecimento da união homoafetiva são legítimas, faz parte do direito de crença e opinião. Mas fazer disso música de uma nota só, bandeira de guerra contra os inimigos da fé, é, no mínimo, uma ingenua perda de tempo. Isso se aplica igualmente aos defensores, gays, simpatizantes, em relação inversa. Parece que há a falsa esperança de se poder fazer uma sociedade gay ou não gay por decreto. Os contrários poderiam ser muito mais úteis à sociedade se articulassem argumentos contra as manipulações e imposições midiáticas, tanto na questão gay quanto em tantas outras, como consumo, democratização da informação, etc.

É aqui que está o problema: assim como não é saudável a pretensão de uma sociedade exclusivamente cristã (a história das guerras assassinas em massa o confirma), da mesma forma jamais seria ideal uma sociedade supostamente gay. O ideal monolítico, uniformizador é uma quimera. Ainda sentimos no diferente uma ameaça, uma ofensa, uma agressão. Isso herdamos do que há de mais primitivo e arrogante no comportamento humano: a incapacidade para o convívio com a diversidade. Ainda temos a índole de convencer, se não conseguir convencer, derrotar, se não conseguir derrotar, eliminar.

Claro que do ponto de vista bíblico cristão temos argumentos contrários. No antigo testamento os praticantes de relações homossexuais eram condenadas à morte. Numa leitura literal, vão faltar pedreiras suficientes. O Apóstolo Paulo condena explicitamente e expõe a juízo no próprio corpo os praticantes. Mas é pelo menos curioso não encontrarmos nos Evangelhos e especialmente nos discursos de Jesus nenhuma virgula a respeito, e ao mesmo tempo encontrarmos condenações explícitas contra o farisaísmo dos guardiões do templo, das tradições e da moral. Isso sugere, pelo menos que a questão não lhe era tão importante assim. O essencial está claramente explicito no sermão do monte, a ética do amor ao próximo/diferente/inimigo.

Mais pertinente do que o desperdício de energias numa questão que talvez não seja tão importante é o caráter revelador que as discussões suscitam. A mentalidade infantilizada, que necessita esgrimar argumentos incessantemente contra homossexualidade, pode revelar justamente o seu desejo inverso. É o beabá da psicologia comportamental. As exacerbações, não sou gay, sou contra os gays, odeio os “pervertido” podem estar dizendo exatamente o contrário.

Redação

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