Índios fecham ferrovia da Vale em Minas Gerais

BBC

Jornal GGN – Índios da tribo Krenak decidiram interromper a Estrada de Ferro Vitória-Minas, por onde a Vale, sócio da Samarco e da ferrovia, escoa seus minérios, para protestat contra falta de água e a destruição do Rio Doce após o rompimento das barragens da mineradora em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG).

Os índigenas têm uma relação sagrada com o Rio Doce e dizem que ficarão na ferrovia até que um representante da Vale converse com eles sobre a recuperação do rio e sobre o abastecimento de água. Uma decisão judicial decisão determina que a tribo deixe o local na próxima terça-feira.

Enviado por Odonir Oliveira

Da BBC Brasil

Índios fecham ferrovia da Vale em MG em protesto contra ‘morte de rio sagrado’

Com o corpo pintado para a guerra, tinta preta no rosto e olhos vermelhos de noites mal dormidas, Geovani Krenak, líder da tribo indígena Krenak, mira a imensidão de água turva e marrom.

“Com a gente não tem isso de nós, o rio, as árvores, os bichos. Somos um só, a gente e a natureza, um só”, diz. Ele respira fundo: “Morre rio, morremos todos”.

Parte dos 800 km de extensão do rio Doce, contaminado pela lama espessa que escoa há 10 dias de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco, em MG, atravessa a reserva da tribo. Tida como sagrada há gerações, toda a água utilizada por 350 índios para consumo, banho e limpeza vinha dali. Não mais.

Sem água há mais de uma semana, sujos e com sede, eles decidiram interromper em protesto a Estrada de Ferro Vitória-Minas, por onde a Vale, controladora da Samarco e da ferrovia, transporta seus minérios para exportação.

“Só saímos quando tiverem a dignidade de conversar com a gente. Destruíram nossa vida, arrasaram nossa cultura, e nos ignoram. Não aceitamos”, anuncia o índio Aiá Krenak à BBC Brasil.

Procurada, a Vale informa que “continua, com apoio da Funai, as tentativas de negociação com o Povo Indígena Krenak para liberação da ferrovia”.

“Cabe ressaltar que a Vale, como acionista da Samarco juntamente com a BHP Billiton, tem atuado ativamente nas ações para atendimento às famílias afetadas pelo acidente do dia 5 de novembro e reitera seu compromisso em se relacionar com o Povo Krenak de modo transparente e participativo, mantendo uma relação construtiva, respeitando suas características próprias e a legislação vigente”, disse a empresa por meio de nota.

A empresa afirma que a interdição está impedindo o transporte de água para as comunidades da região do Rio Doce. “Atualmente, cerca de 360 mil litros de água, sendo 60 mil litros de água mineral e 300 mil litros de água potável, provenientes de Vitória (ES), estão nos trens aguardando a liberação da ferrovia para distribuição”, diz a Vale no comunicado.

“A empresa repudia quaisquer manifestações violentas que coloquem em risco seus empregados, passageiros, suas operações e que firam o Estado Democrático de Direito e ratifica que obstruir ferrovia é crime.”

41 graus, sem água

Sentados ao longo dos trilhos enferrujados, sob o sol de 41 graus, os índios cantam uma música de compasso lento, marcado pelas batidas de cajados de madeira no chão, tudo no idioma krenak.

De cocar amarelo, apoiado por um tronco de madeira, o pajé, homem mais velho das redondezas, chora. Ernani Krenak, 105 anos de idade, se aproxima e traduz a canção para a reportagem da BBC Brasil.

“O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo rio que nos alimenta e banha. O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo nosso rio, pelo rio de todos.”

Sua irmã pede a palavra. Dejanira Krenak, de 65 anos, quer lembrar que o sofrimento não é só dos índios. “Não é ‘só nós’, os brancos que moram também na beira do rio precisam muito dessa água, eles convivem com essa água, muitos pescadores tratam a família com os peixes, diz.

Atrás dos dois, uma índia molha os rostos suados das duas filhas pequenas com uma cuia mal cheia de água de um galão doado por moradores de cidades vizinhas, como Conselheiro Pena e Resplendor.

Segundo os índios, crianças e idosos têm prioridade na distribuição da pouca água limpa estocada.

A família está acampada sob lonas pretas na margem da ferrovia, onde também se espalham barracas de camping e colchões ao relento. Ali, homens e mulheres fumam longos cachimbos, enquanto acendem pequenas fogueiras para aquecer o jantar coletivo.

Rio morto

Decisão judicial determinou que índios deixem local em até próxima terça-feira

À BBC Brasil, o professor de recursos hídricos Alexandre Sylvio Vieira da Costa, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, disse que o rio precisará de pelo menos 10 anos para “começar a se estabelecer novamente”.

“Todas as plantas aquáticas que dão base ao ciclo biológico do rio morreram com a chegada esse rejeito, composto basicamente de ferro, alumínio e manganês. A água fica mais densa e o oxigênio não consegue se misturar”, explicou Costa. “Por isso não sobrou nada. Nem caramujo.”

Além do prejuízo na fauna e na flora, sete mortes foram registradas até este domingo. Dez dias após o acidente, pelo menos 18 pessoas ainda estão desaparecidas.

A tragédia ambiental é resultado do rompimento das barragens de Fundão e Santarém, em Mariana, a cerca de 100 km de Belo Horizonte.

As barragens represavam rejeitos de mineração – resíduos, impurezas e material usado para a limpeza de minérios – da Samarco, empresa controlada pela mineradora brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP.

A presidente Dilma Rousseff visitou o local na semana passada e anunciou cobrança de multa de R$ 250 milhões à Samarco.

Decisão judicial

A noite cai, e a quantidade de mosquitos é insuportável.

“Nunca foi assim”, diz o índio Geovani Krenak, enquanto a dupla de repórteres gesticula para afastar a nuvem de insetos. “Esses mosquitos vieram com essa água podre, com os peixes que nos alimentavam e agora estão descendo o rio mortos.”

A 500 metros dali, dezenas de vagões, carregados de toneladas de minério de ferro que seguiriam para portos no Espírito Santo, estão parados na ferrovia.

A estrada de ferro também tem intenso movimento de passageiros – quem tinha bilhetes de viagem foi orientado a remarcar suas passagens ou aguardar reembolso após 30 dias.

À BBC Brasil, os índios informaram que foram notificados por uma decisão judicial que determina que eles deixem o local em até cinco dias – o prazo expira na próxima terça-feira.

Eles prometem continuar lá – a menos, dizem, que representantes da Vale apareçam para discutir com eles a recuperação do rio sagrado e um esquema de fornecimento de água por caminhões pipa.

Redação

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  1. Veja o vídeo da enxurrada de lama que atinge a água de município

    Veja o vídeo da enxurrada de lama que atinge a água de municípios mineiros:

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=NLG7skShbRg%5D

    ULIANA BAETA 

    O impacto ambiental causado pelo rompimento de duas barragens em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, na região Central de Minas, no último dia 5, ainda é pouco divulgado pelos órgãos oficiais. Mas para os ambientalistas já é tido como certo a impossibilidade de se recuperar o rio Doce.

    O biólogo e ecólogo André Ruschi, que atua na Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi em Aracruz, Santa Cruz, no Espírito Santo, acredita que os rejeitos só começarão a ser eliminados do mar em 100 anos, no mínimo.

    “Já estamos acostumados a lidar com vários tipos de sonegação de informação, falsificação de resultados, etc. São empresas historicamente inadimplentes e sempre com problemas em cumprir as exigências dos órgãos ambientais nas suas licenças. O primeiro laudo já indicou a presença de mercúrio na água do Rio Doce”, comenta.

    Segundo ele, a substância poluente já é conhecida na região, porque está na praia de Cambuí, entre outros locais no Espírito Santo. “Assim como mercúrio, há também cromo, arsênio, e outras substâncias que são venenos poderosíssimos”, explica.

    No entanto, o laudo da Serviço Autônomo de Água e Esgoto, de Governador Valadares, não confirmou a presença de mercúrio, porque, segundo o órgão, o laboratório não é equipado para fazer este tipo de análise. 

    A Fundação Ezequiel Dias (Funed) que ficou, então, a cargo desta análise, informou que ainda não recebeu as amostras com a água contaminada pela lama de rejeitos. 

    Impacto para o ser humano

    Ainda de acordo com o biólogo André Ruschi, substâncias como o mercúrio não são eliminadas pelo organismo, uma vez que já foram absorvidas. “Elas vão se acumulando cada vez mais, pouquinho a pouquinho, até atingir uma concentração que causa ou uma doença ou mata o indivíduo”, diz.  

    “Isso pode durar anos, mas vai acontecer. E tudo vai terminar na cadeia alimentar, esses elementos vão ser absorvidos pelo homem. São elementos químicos puros, e não simplesmente uma molécula que vai se desfazer e vai virar outra coisa. Vai sempre ser uma substância venenosa se acumulando na cadeia alimentar”, analisa.

    ULIANA BAETA

    O impacto ambiental causado pelo rompimento de duas barragens em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, na região Central de Minas, no último dia 5, ainda é pouco divulgado pelos órgãos oficiais. Mas para os ambientalistas já é tido como certo a impossibilidade de se recuperar o rio Doce.

    O biólogo e ecólogo André Ruschi, que atua na Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi em Aracruz, Santa Cruz, no Espírito Santo, acredita que os rejeitos só começarão a ser eliminados do mar em 100 anos, no mínimo.

    “Já estamos acostumados a lidar com vários tipos de sonegação de informação, falsificação de resultados, etc. São empresas historicamente inadimplentes e sempre com problemas em cumprir as exigências dos órgãos ambientais nas suas licenças. O primeiro laudo já indicou a presença de mercúrio na água do Rio Doce”, comenta.

    Segundo ele, a substância poluente já é conhecida na região, porque está na praia de Cambuí, entre outros locais no Espírito Santo. “Assim como mercúrio, há também cromo, arsênio, e outras substâncias que são venenos poderosíssimos”, explica.

    No entanto, o laudo da Serviço Autônomo de Água e Esgoto, de Governador Valadares, não confirmou a presença de mercúrio, porque, segundo o órgão, o laboratório não é equipado para fazer este tipo de análise. 

    A Fundação Ezequiel Dias (Funed) que ficou, então, a cargo desta análise, informou que ainda não recebeu as amostras com a água contaminada pela lama de rejeitos. 

    Impacto para o ser humano

    Ainda de acordo com o biólogo André Ruschi, substâncias como o mercúrio não são eliminadas pelo organismo, uma vez que já foram absorvidas. “Elas vão se acumulando cada vez mais, pouquinho a pouquinho, até atingir uma concentração que causa ou uma doença ou mata o indivíduo”, diz.  

    “Isso pode durar anos, mas vai acontecer. E tudo vai terminar na cadeia alimentar, esses elementos vão ser absorvidos pelo homem. São elementos químicos puros, e não simplesmente uma molécula que vai se desfazer e vai virar outra coisa. Vai sempre ser uma substância venenosa se acumulando na cadeia alimentar”, analisa.

    A bacia do rio Doce tem uma área de drenagem de cerca de 86.715 quilômetros quadrados, dos quais 86% pertencem a Minas Gerais e restante ao Espírito Santo. No total, o rio abrange 230 municípios que utilizam o seu leito para trabalhar e sobreviver.

    As nascentes do rio ficam nas serras da Mantiqueira e do Espinhaço, em Minas Gerais, sendo que suas águas percorrem cerca de 850 km, até atingir o oceano Atlântico, junto ao povoado de Regência, no Espírito Santo. A bacia está inserida em 98% de sua área dentro da Mata Atlântica e 2% no Cerrado.

    Mineradoras já destruíam o rio

    O mais grave é que a água de rejeitos vai atingir o Corredor Central da Mata Atlântica, uma área prioritária para a conservação de várias espécies e que engloba os estados da Bahia, Espírito Santo e uma pequena parte de Minas Gerais.

    “O Corredor Central da Mata Atlântica é reconhecido como uma importante área de endemismo (vertebrados terrestre, borboletas florestais e plantas) e abriga muitas espécies de distribuição restrita, e alguns grupos de espécies ameaçadas”, descreve o Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Doce realizado em 2010.

    O mesmo documento feito pelo Comitê da Bacia do Rio Doce, há cinco anos, já alertava sobre os impactos ambientais causados ao rio por causa da ação de mineradoras: “Outro grande problema ambiental evidenciado na bacia é ocorrência de inundações. O desmatamento indiscriminado e o manejo inadequado do solo criaram condições favoráveis à formação de processos erosivos, que somado aos despejos inadequados advindos da mineração e de resíduos industriais e domésticos, deram origem ao contínuo processo de assoreamento dos leitos dos rios da bacia”.

    Espécies possivelmente extintas 

    Na parte do rio chamada de “Alto Rio Doce” existem cerca de 70 espécies de peixes, das quais 19 (aproximadamente ¼ das espécies) são exóticas. O número de espécies nativas desta parte do rio é alto, e a maior parte delas são de pequeno a médio parte (até 30 centímetros).

    Muitas espécies de peixinhos ornamentais, por exemplo, destes, de aquário, são advindas do rio Doce, que é habitado também por espécies de maior porte como o dourado e o surubim-do-rio-Doce, espécie tão específica no leito, que leva até o nome, e está em risco de extinção. Depois do desastre, possivelmente estará extinta.

    Ao longo dos anos, os reservatórios de usinas hidrelétricas já contribuíram para dizimar algumas espécies. Nestas áreas já estão ausentes alguns migradores de maior porte como o piauvermelho, o piau-branco e a crumatã, além de várias espécies reofílicas, com destaque para o cascudo-laje, o timburé e diversas cambevas.

    Já no leito do rio chamado de “Médio Rio Doce”, e que  engloba as drenagens do rio Doce no trecho compreendido entre a área de jusante da foz do rio Matipó até a divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, também foram registradas 70 espécies, sendo a maioria delas, exóticas.

    Uma espécie possivelmente desaparecida após o desastre, é o Genidens genidens, um  bagre de origem marinha cuja distribuição se estende ao baixo rio Doce. A ocorrência desta espécie, no entanto, foi feita somente no rio Manhuaçu durante estudos ambientais em 1997.

     

    1. (continuação)

      O “Baixo Rio Doce”, trecho mais alto do leito e também o menos estudado, é lar de no mínimo 70 espécies diferentes, sem contar as espécies que ainda não foram registradas, estudadas ou as espécies marinhas que também habitam o baixo curso do rio devido a localização do trecho nas proximidades da foz até a divisa de Minas Gerais e Espírito Santo. 

      Além disso, rios derivados do rio Doce, também abrigam uma grande gama de espécies, como o Rio Piracicaba, que tem 32, ou o Santo Antônio, que tem 71. A variedade da fauna do rio é tão extensa, que não há nenhum tipo de contagem oficial dos registros das espécies, segundo o Comitê do Rio Doce. Por isso, é tão difícil mensurar o impacto ambiental causado pelo desastre, já que ele é, provavelmente, imensurável.

      “Já era. Não tem como salvar o que já está morto. Nem um mutirão de um milhão de pessoas conseguiria salvar alguma coisa neste momento. O que fizeram com esse rio, que está entre os 100 maiores do mundo, é um crime contra a humanidade. Ele agora é um rio morto que joga seus nutrientes e tudo o mais o que é carregado pelo rio e que não fica na margem, no mar”, condena o especialista André  Ruschi.

      “O medo que algum dia o mar também vire sertão”

      “Aqui no Espírito Santo, nós temos a cordilheira submarina Vitória-Trindade que não permite que a corrente marinha atravesse a cordilheira. Então a corrente gira e forma um rodomoinho de 70 quilômetros de diâmetro e que traz tudo quanto é nutriente que está a até quatro mil metros de profundidade para o alto, adubando essa parte superficial do mar. Pense no estrago que isso vai gerar”, explica o biólogo André Ruschi.

      A cordilheira é essa formação rochosa entre Vitória e a Ilha de Trindade

      Ainda conforme Ruschi, esse giro abriga o maior criadouro marinho do Oceano Atlântico, e por isso foi criada a reserva de Santa Cruz em 2010: para proteger as espécies que ali existem.

      “Esse criadouro vai receber essa carga de elementos químicos, que vão ser trazidos ano a ano pelas enchentes da época de chuva, e que vai estar contaminando o mar por tempo indeterminado. A cada ano, com a época de chuvas, uma carga deste material vai descer e vai chegar ao mar. E a situação só vai piorando por todos estes anos. Vão ser precisos de 100 a 150 anos para que a água comece a se limpar deste rejeito”.

      Segundo ele, o criadouro abriga espécies como tubarões, tartarugas marinhas, badejos, corais, e outros grandes peixes do oceano Atlântico. “Pra você ter uma ideia, no planeta inteiro, só existem 20 cordilheiras como esta, e o único banco de corais e algas calcárias comparáveis a esta no Espírito Santo, é a Costa dos Corais na Austrália”.

      http://www.otempo.com.br/cmlink/hotsites/mar-de-lama/contamina%C3%A7%C3%A3o-do-rio-doce-amea%C3%A7a-vida-marinha-no-esp%C3%ADrito-santo-1.1161772

      1. Depois de justa homenagem aos mortos em Paris, tuiteiras pedem

        Do Viomundo

         

        Depois de justa homenagem aos mortos em Paris, tuiteiras pedem que autoridades brasileiras façam o mesmo em relação à tragédia de Mariana

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        Fotos: Antônio Cruz/Agência Brasil

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        DUAS FACES HORRENDAS PREGADAS NO MESMO ROSTO HOSTIL

        por Fernando Coelho, no Facebook

        Minas e Paris têm a mesma grandeza trágica. Mas perpetuam significados diferentes na explosão das duas barbáries. Uma, a francesa, de conveniência política, geopolítica, internacional. A nossa, travada nos interesse econômicos, no envolvimento do próprio Governo, bancos, investidores de outros países. Constitui-se em nossa irrevogável prisão.

        Os assassinos de Paris, infernais, mostram a cara, assumem suas misérias contra o mundo. Os assassinos da calamidade brasileira se escondem em desculpas, maquinações pestilentas do subjugo do nosso desenvolvimento.

        Os assassinos endemoniados do Estado Islâmico têm origem religiosa nos equívocos do fundamentalismo. Os assassinos brasileiros alimentam-se de outro tipo de covardia, o assédio moral e financeiro a comunidades, inocentes trabalhadores rurais, com a conivência de políticos e da própria burguesia reinante neste emaranhado de golpes contra o humilhado povo brasileiro.

        Não haverá sublevação brasileira. A mão de ferro dos ladrões dos nossos bens é mais pesada. Portanto, não se enganem, porque haverá hierarquização da Imprensa brasileira no tratamento dos dois infelizes e monstruosos fatos. A Imprensa nacional vive de favores, donativos, vendas, negociatas dos seus espaços, cujos lucros e valores estão alijados dos envelopes de pagamentos de nós, jornalistas intimidados.

        A Imprensa tupiniquim vai privilegiar a tragédia francesa, porque vai parecer constante, presente, competente e não corre risco financeiro. A ocupação da lama no território mineiro, com a explosão não acidental da barragem em Mariana, por questões de contabilidade dos donos da Imprensa, vai submergir a outro tipo de lama: o volume do capital que os anunciantes, os da Vale e os seus sócios, derramam no caixa das famílias donas da comunicação nacional.

        O Jornal Nacional deu o tom. Boba, Dilma quer que sejamos todos franceses, porque o Governo está omisso e tem interesses na Vale-Samarco. Então, que os olhos e a informação verdadeira sejam desviados daqui. Portanto, nós vamos chorar por nós mesmos. Nós temos que resolver o nosso problema de autorrespeito porque ninguém será por nós. Minas é o maior desastre socioambiental de todos os tempos.

        Mostra claramente que somos um povo sem dignidade, sem eira nem beira, sem destino. E com a honra da sobrevivência maculada por causa do cinismo de suas autoridades ineficientes e aproveitadoras. Não adianta choro nem vela. Minas será esquecida pela Imprensa, pelo Palácio do Planalto, pela delicadeza.

        Não posso dizer, e nunca o faria, que não sou a França. Sou, sim. Mas sou integralmente Minas Gerais. Por Minas, poeta raquítico, pego em armas. É o que devemos fazer agora, enquanto estamos respirando. E só.

         

  2. O “PARAISO” PERDIDO

    O relatado abaixo aconteceu apenas 4 meses atrás

    “A agonia do maior curso d’água do sudeste brasileiro chegou ao patamar mais crítico da sua história.” “Essa é uma tragédia ecológica que completa uma situação de agressões ambientais que o Rio Doce vinha sofrendo”.

    http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/07/12/interna_gerais,667496/rio-doce-deixa-de-correr-na-foz-original-e-de-desaguar-no-atlantico.shtml

    “Governador Valadares joga todo tipo de rejeito no Rio Doce, incluindo esgoto in natura”. Vizinhos reclamam do mau cheiro.

    http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/07/12/interna_gerais,667519/governador-valadares-joga-todo-tipo-de-rejeito-no-rio-doce.shtml

  3. Pescadores convocam ‘Arca de Noé’ por WhatsApp para salvar peixe

    Pescadores convocam ‘Arca de Noé’ por WhatsApp para salvar peixes de dilúvio de lama

    Ricardo Senra e Luis Kawaguti

    Da BBC Brasil em São Paulo

    Cerca de 400 famílias de trabalhadores sofrem isoladas às margens do rio Doce, entre Minas Gerais e o Espírito Santo, graças à enxurrada de lama que escoa das duas barragens rompidas em Mariana (MG) na quinta-feira, 5 de novembro.

    O empenho destes pescadores em salvar sua única fonte de sustento é tamanho que eles decidiram convocar mutirões para tentar transferir os peixes do rio contaminado para lagoas de água limpa. Batizada como “Operação Arca de Noé”, a força-tarefa voluntária operará em locais que ainda não foram atingidos pelo “tsunami de lama” que desce o rio Doce desde o dia 5.

    Dourados, surubins, pacus, tucunarés, pintados e outras espécies afetadas pelos resíduos de mineração da Samarco, empresa controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP, estão escapando da morte dentro de caixas d’água, caçambas e lonas plásticas; tudo “no improviso”, segundo moradores.

    Analistas ouvidos pela reportagem da BBC Brasil estimam que a passagem da lama e produtos químicos tenha reduzido o oxigênio do rio Doce a níveis próximos a zero, levando milhares de peixes e outros animais aquáticos à morte por asfixia.

    Questionada sobre a situação dos pescadores, a Samarco disse, em nota, que “adotará as ações necessárias para identificação e mitigação dos impactos e reportará aos órgãos ambientais competentes”.

    Image copyrightDivulgacaoImage captionAnalistas estimam que a passagem da lama e produtos químicos tenha reduzido o oxigênio do rio Doce a níveis próximos a zero, levando milhares de peixes à morte por asfixia.

    A mineradora diz ainda que vai “priorizar a assistência à população afetada pelo acidente” e que “está executando um sistema emergencial de monitoramento da qualidade de água no Rio Doce”, com “pareceres técnicos imparciais, de equipe multidisciplinar renomada”. A empresa não informou, no entanto, quando o estudo estará pronto, nem quem faz parte desta equipe.

    Após visitar cidades afetadas pelos rejeitos de mineração, nesta quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff comentou pela primeira vez a situação no rio Doce.

    “O nosso objetivo maior vai ser recuperar o rio Doce. O rio Doce é o sinônimo de vida da região”, afirmou Rousseff, que também anunciou multa de R$ 250 milhões à mineradora responsável pelos vazamentos.

    Este valor é criticado pelo Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, que acompanha famílias afetadas por mineradoras desde 2013.

    “A multa não chega à metade do valor doado por mineradoras para campanhas eleitorais no ano passado”, alega a secretária Katia Visentainer, com base em dados públicos relacionados às eleições de 2014.

    Image copyrightApardImage captionMortandade tem mobilizado pescadores na tentativa de transferir peixes do rio contaminado para lagoas de água limpa

    ‘Matou tudo’

    No fim da tarde desta quinta-feira, os pescadores da Operação Arca de Noé foram surpreendidos pela notícia de que receberiam reforços.

    Uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Espírito Santo e pelo Ministério Público Federal ordenou que a mineradora resgate “a maior quantidade possível” de peixes nos municípios de Baixo Guandu, Colatina e Linhares, no Espírito Santo, antes da chegada da lama do rio Doce – o que deve acontecer nos próximos cinco dias.

    Durante toda a semana, a BBC Brasil acessou fotos, vídeos e mensagens de áudio compartilhadas por pescadores em grupos no WhatsApp, ferramenta usada pelos ribeirinhos para denúncias e convocações.

    As imagens mostram peixes cobertos de barro saltando em busca de oxigênio, grandes cardumes mortos boiando rio de lama abaixo e pilhas de animais em decomposição se acumulando nas margens.

    Apesar destes indícios, a Samarco disse à reportagem que a lama é composta por “material inerte e não perigoso” e que “não apresenta riscos à saúde pública e ao meio ambiente”.

    Image copyrightApardImage captionImagens mostram peixes cobertos de barro saltando em busca de oxigênio, cardumes mortos rio de lama abaixo e animais em decomposição nas margens.

    Mas um pescador não-identificado diz em uma gravação feita em Colatina, município que decretou estado de calamidade pública: “Quem puder (deve) ir para o rio para pegar a maior quantidade de peixes possível, de rede, de qualquer jeito, e soltar nas lagoas. A informação que tem é que vai morrer tudo”.

    O administrador José Francisco Silva de Abreu, presidente da Apard (Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Doce), vive em Governador Valadares (MG), onde a lama, nas palavras dele, “sim, matou tudo”.

    “Eu apoio o mutirão para transferir os peixes. Fomos pegos de surpresa quando a lama chegou aqui, não deu nem para se preparar”, diz. “A gente via a agonia dos peixinhos até a morte. Digo com tranquilidade que hoje não resta um único ser vivo ali dentro.”

    O professor de recursos hídricos Alexandre Sylvio Vieira da Costa, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, vem acompanhando a evolução da lama em Governador Valadares e atesta a impressão do pescador.

    “Todas as plantas aquáticas que dão base ao ciclo biológico do rio morreram com a chegada esse rejeito, composto basicamente de ferro, alumínio e manganês. A água fica mais densa e o oxigênio não consegue se misturar”, explica. “Por isso não sobrou nada. Nem caramujo. Toda a vida aquática do rio Doce em Valadares morreu.”

    Image copyrightApardImage captionMineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP, diz que lama “não apresenta riscos à saúde pública e ao meio ambiente”

    O especialista diz que é preciso esperar a passagem da lama terminar para fazer estimativas sobre sua recuperação, mas poupa sinais de otimismo. “Eu não daria menos de dez anos para este rio começar a se estabelecer novamente.”

    Costa lembra que ainda há “muita lama” acumulada na região de Mariana. “Se chover muito naquela cabeceira, mais material vai descer, mais material vai ser depositado e mais o rio vai morrer.”

    Manual de sobrevivência

    O volume despejado após o rompimento das barragens do Fundão e de Santarém, em Mariana, equivale a 25 mil piscinas olímpicas.

    Após cidades como Colatina e Governador Valadares decretarem estado de calamidade pública, um “Manual de Sobrevivência na Crise” foi criado por movimentos sociais para auxiliar moradores a se adaptarem a restrição hídrica – em Valadares, por exemplo, 100% da água encanada vinha do rio Doce.

    A cartilha traz orientações sobre armazenamento de água, reutilização e sugestões para economia de água em tarefas domésticas. “Entendemos que, sem abastecimento na rede, o material será bem útil para as pessoas lidarem com essa nova realidade de utilização da água”, diz Katia Visentainer, do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, que também disponibilizou o material para download.

    Image copyrightAg. BrasilImage captionRompimento de barragens destruiu vila de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), e deve arrastar destruição por 700 km até o oceano Atlântico

    Para Abreu, da associação dos pescadores do rio Doce, a única maneira de recuperar o rio é proibir a atividade pesqueira pelos próximos cinco anos. “Só nos restam os afluentes, eles é que poderão recuperar, um dia, a saúde do rio”, diz.

    A reportagem questiona: e o que acontece com as 400 famílias de pescadores que existem na região até lá?

    “A nossa perspectiva é de que a pesca extrativista se exauriu”, diz Abreu. “A demanda é maior do que o rio pode oferecer e a cidade importa peixes para consumo. Então a melhor alternativa é capacitar os pescadores para que eles se tornem piscicultores e criem seus peixes em quantidade, em vez de depender do rio.

    “Já estávamos desenvolvendo este projeto e a tragédia no rio Doce torna tudo ainda mais urgente.”

  4. Rádio Yandê- 1ª Rádio índígena- A rádio de todos

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    Cemitério de peixes na margem do Rio Doce e outros animais mortos (Fotos: Divulgação – Apurina krenak)

    O desastre que ocorreu em Mariana, um distrito de Minas Gerais no dia 05/11 deixou um rastro de mortos, desabrigados e muito sofrimento com o rompimento das barragens de rejeitos da mineradora Samarco no Distrito de Bento Rodrigues. A mineradora é uma empresa controlada por duas outras: a anglo-australiana BHP Billiton Brasil Ltda. e a brasileira Vale S.A., os rejeitos dessa exploração eram estocados pelas barragens que se romperam. Análises laboratoriais, encontraram partículas de metais pesados como chumbo, alumínio, ferro, bário, cobre, boro e mercúrio na água do rio. O Ministério Público acusou a empresa de negligência, por já terem sido alertados dos riscos. O Povo Krenak possui uma ligação muito forte com o Rio Doce, chamado de “uatu”, eles vivem na margem esquerda do rio, no município de Resplendor, região Leste de Minas Gerais. Eles fecharam a  ferrovia da Vale em protesto e foram notificados com uma decisão judicial dando o prazo de até a próxima terça-feira (17), para deixar o local e tentaram neste sábado (14) um acordo com a Empresa Vale. O bloqueio começou por volta das 16h desta sexta-feira (13), eles divulgaram uma carta sobre as reivindicações. 

    REDAÇÃO YANDÊ

  5. ELES NÃO COMEM CAPIM

                        E NÃO BEBEM ÁGUA.

                        ENTÃO AINDA HÁ ESPERANÇA.

    John Lopez vai esculpir milhões de boizinhos para repovoar as pastagens das margens do rio Doce.

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