Jogar na defesa ou no ataque? Por Clemente Ganz Lúcio

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Clemente Ganz Lúcio*

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Da Plataforma Político Social

Nos anos 1990, o movimento sindical jogou na defesa, enfrentando baixo crescimento, hiperinflação, arrocho salarial, desemprego, pobreza, precarização, informalidade, desigualdade, entre outros problemas. No jogo social, somente a tática da defesa não transforma a realidade.

Em meados da década passada, o jogo mudou e o ataque passou a fazer parte da tática. Os resultados foram crescimento econômico, geração de emprego, aumento dos salários, redução de desigualdade e informalidade etc. Vitórias importantes foram conquistadas, como a política de valorização do salário mínimo ou o reconhecimento das Centrais Sindicais, entre tantas outras.

Entretanto, um olhar retrospecto atento e crítico indica que o time abdicou muitas vezes do ataque, perdeu gols e campeonatos. Exemplo claro: não se conseguiu a redução da jornada de trabalho para 40 horas, apesar de a bola quicar na área muitas vezes. Preciosismos? Tentar um gol de placa? Um toque a mais e a bola bateu na trave!

Deixar de atacar significou não realizar mudanças no sistema de relações de trabalho que levassem ao aumento da representatividade dos sindicatos, ao enraizamento da organização sindical no local de trabalho, ao fortalecimento das negociações coletivas em todos os níveis, à criação de mecanismos e processos de solução ágil de conflitos, ao amplo direito de greve, ao direito de negociação no setor público, entre outros inúmeros avanços urgentes e necessários para a verdadeira modernização trabalhista, parte fundamental do desenvolvimento econômico e social do país. Modernizar, para o time sindical, é ampliar e elevar o padrão civilizatório das relações sociais no campo do trabalho e da produção. Jamais destruir ou retirar direitos.

Essas mudanças fazem falta no presente e farão mais ainda no futuro próximo, pois os jogos voltaram a ser, predominantemente, no campo do adversário, com chuva, gramado pesado, torcida única (deles!) e muitas outras adversidades. Será um tempo que exigirá muito dos nossos atletas, de toda a torcida, dos dirigentes e de toda a comissão técnica. Necessário, sem dúvida, reforçar muito a defesa. Mas time que só joga na defesa não ganha campeonato. É preciso um bom meio de campo para armar nosso ataque.

Será necessário construir capacidade para que o movimento sindical volte ao ataque para buscar resultados, como o crescimento econômico sustentado no desenvolvimento produtivo nacional, o fortalecimento do mercado de consumo interno de massa, a geração de empregos de qualidade, o aumento dos salários, a redução das desigualdades, a consistente participação no comércio mundial, a preservação ambiental, a democracia, a liberdade e a soberania nacional.

Para que esses resultados venham, teremos que vencer muitas partidas dificílimas. Para armar as estratégias e táticas, será preciso reunir forças e ter união em torno de propósitos. A quantidade e gravidade dos problemas exigirão um olhar a partir do interesse geral do país e da nação, sem os quais, as soluções específicas ou corporativas poderão se constituir em derrotas estruturais para a grande maioria.

O jogo social não para nunca e são sempre inéditos o presente e as possibilidade abertas de futuro. No jogo social, a utopia cumpre papel fundamental para armar as estratégias e táticas, pois indica o sentido maior para a movimentação no presente e anima a luta para construir e antecipar o futuro. A utopia enuncia o inédito, que um outro mundo é possível, e é capaz de animar mentes, mobilizar corações e resgatar a paixão de lutar.

*Clemente Ganz Lucio é Diretor técnico do DIEESE.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. O movimento sindical morreu. Renda mínima universal é a solução

    O movimento sindical está em estado terminal. E não vai se recuperar. É impossível, para ele, jogar no ataque. Só categorias da elite estatal (promotores, juízes, fiscais de impostos) terão sindicatos fortes. Mas lutarão, como já fazem, somente por seus interesses.

    O povão vive de bico, sem empregos sem carteira assinada ou em empresas terceirizadas – onde se assina carteira, mas a relação é precária. Até categorias de classe média, como professores de escolas particulares, não conseguem se mobilizar, pois são horitas, trabalham em várias escolas e não formam consciência de classe.

    O mundo neoliberal organizou o trabalho e as mentes de forma que o movimento sindical é impossível. A esquerda tem de de aproximara das bases e conquistar corações e mentes dos precarizados, senão os evangélicos vão continuar com seu projeto obscuro de civilização puritana fundada no ódio e no medo.

    O que seria possível então? A base do projeto seria a renda mínima universal. De preferência com um Imposto de Renda progessivo e negativo. Quem não tem renda suficiente teria um complemento até o nível do salário mínimo (ou mais, para premiar o trabalho).

    A esquerda deveria lutar por um pacto que garantiria a todos uma vida decente. Estas seriam as propostas pelas quais deveria se lutar:

    Renda mínima universal a partir dos 18 anos: excetuando-se o limite de carga horária e o valor de hora mínima, não há mais como disciplinar o mercado de trabaho, já quase todo precario, terceirizado e informal

    Saúde totalmente pública e gratuita: nada de hospitais particulares ou descontos do IR para planos de saúde

    Moradia para todos: estilo BNH, com prestações baixíssimas

    Transporte público eficiente e gratuito: com uso de ciclovias e taxando a circulação de automóveis

    Educação totalmente pública e gratuita: nada de OS nem desconto no IR para educação particular

    1. Com o país quebrado
      É sua proposta a esquerda é distribuir dinheiro.

      É por estas e outras que O Golpe esta aí.
      A esquerda vive em uma realidade paralela.

  2. Esquerda
    Está completamente COMPROMETIDA!

    Nacionalismo será a base do pensamento coletivo na primeira metade do século 21.

    Já está escrito. Já está acontecendo.
    O tempo que a esquerda leva para reconhecer o ÓBVIO é que me faz desconfiar das intenções .
    Porque quanto mais tempo levar, menos PODER terá!

    Peça para o Lula oferecer A BOMBA aos militares.
    E vamos a luta DE VERDADE. A luta que a esquerda NEGA!
    A luta da libertação do POVO BRASILEIRO!

    Este é o VERDADEIRO interesse coletivo e não aquele monte de BABOSEIRA sobre minorias.

    Interesse coletivo, antes de QUALQUER outra coisa, é o interesse da maioria!
    Liberdade antes de TUDO!

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