Manifestação em MG: “Enquanto for comandante do Choque, vou usar a força sim”

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Enviado por Leo V

Entrevista com comandante do Choque de Minas Gerais, no rescaldo da violência policial contra manifestantes que protestavam contra aumento da tarifa de ônibus em Belo Horizonte. O governo Pimentel começou muito mal no quesito respeito às manifestações. Primeiro na brutal repressão aos moradores da Izidora, e agora mais essa.
 
De O Tempo

‘Enquanto eu for comandante do Batalhão de Choque e receber a ordem, eu vou usar a força, sim’, diz Gianfranco Caiafa, Comandante do Batalhão de Choque 

01

Por Bernardo Miranda

Mostramos ao senhor dois vídeos. Em um, aparece o protesto pacífico e depois a PM atirando sem que houvesse ‘provocação’. No outro, uma bomba é jogada em um ciclista caído no chão. O uso da força foi proporcional?

Na câmera pode parecer que a ação foi abusiva, mas esses são os meios de dispersão. Toda dispersão é traumática. A gente negocia exatamente para evitar o uso da força. Temos filmagens dos quatro momentos em que tentamos negociar com os manifestantes a abertura de uma das faixas, mas eles não nos atenderam. Eles disseram que iriam até a prefeitura e mudaram o itinerário subindo a rua da Bahia, que se transformou num dos principais acessos à região Centro-Sul. Nessa hora, iniciou-se a quarta negociação, em que demos um ultimato para que liberassem a via em cinco minutos. Porém, segundos após esse ultimato, eu fui atingido por uma pedra e dei o comando para dispersão.

Foram vários disparos de bala de borracha, um deles atingiu o fotógrafo deste jornal Denilton Dias. Não é possível fazer a dispersão só com gás lacrimogêneo?

É possível, desde que o manifestante não arremesse pedra no policial. A gente faz sempre uso proporcional da força. Sempre que vamos dispersar, usamos inicialmente o gás de pimenta, que é incômodo, mas não provoca lesão e o efeito é rápido. Depois o gás lacrimogêneo. A defesa do policial começa com seu escudo, e se a pessoa está atirando pedra, ele tem o direito de contra-atacar. E o que ele tem é a bala de borracha.

O senhor fez corpo de delito? Outros policiais foram atingidos?

A pedra pegou no meu coturno e atingiu minha mão, provocando sangramento. Já fiz o exame. A princípio, eu fui o único militar atingido. Só que é o seguinte: se eu tomo uma pedra, eu não preciso esperar minha tropa levar outra. Essa situação mais do que legitima a ação da polícia. Aliás, eu não precisava nem ser agredido para usar a força, não. Eu dei uma ordem legal. Se não for cumprida, eu tenho o poder constitucional de usar a força proporcional. Eles estavam impedindo a população de ir e vir.

Há vídeos mostrando essa pedrada?

Nós apreendemos várias pedras, estopas com gasolina, querosene. Estamos analisando as imagens e vamos mostrar que nossa ação foi legal.

Mas os policiais do Batalhão de Choque não são treinados para aguentar provocações?

Estavam xingando os policiais, a mãe deles, a honra do militar. Não tem como você fazer a liberação daquele espaço sem usar a força. Aquele pessoal (manifestantes) gosta de se fazer de vítima. Da mesma forma que tem pessoas questionando nossa ação, tem pessoas elogiando, e tenho certeza de que é a maioria. Na Copa das Confederações, em 2013, a Polícia Militar foi cobrada por não agir contra os vândalos que depredaram bancos e concessionárias porque o governador (Antonio Anastasia, na época) havia dado ordem de não usar a força. Enquanto eu for comandante do Batalhão de Choque e receber a ordem, eu vou usar a força, sim. Eu vou dar o choque de ordem quando for necessário.

Mas a ordem veio de quem? Uma nova manifestação está prevista. A postura da PM vai ser a mesma?

Nós temos um memorando da Polícia Militar orientando como proceder em casos de interdição de via. Após três negociações, se não houver a liberação da via, teremos que usar a força, de forma proporcional para garantir a liberação.Vamos manter nossa forma de agir para garantir a liberação da via.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Longe de defender a PM, que

    Longe de defender a PM, que tem uma propulsão irresistível em usar de violência. Não há dúvida que existe deficit de inteligência e excesso de força nas nossas polícias.

    Mas a questão, Leo V, é que esse pessoal que tomou agendas legítimas para si, o MPL e mais os famigerados Black blocs, tem como “estratégia” o confronto com as forças policiais. Tenho sérias dúvidas de que é questão de reação e defesa. Me parece que esses grupos pretendem combater o sistema na base do confronto físico. E isso significa na prática troca de agressões com o pessoal do front, que são trabalhadores assalariados do Esatdo. Aí no caso, não tem como esperar outra resposta da PM. 

    1. Na China,

      Um cidadão sozinho, de cara limpa, enfrentou um tanque de uma ditadura. Entrou para a história pela sua coragem e, provavelmente, influenciou no processo de aproximação entre governo e sociedade.

      Não é o caso dos que não acreditam em manifestações pacíficas e querem fazer com que os outros acreditem que eles acreditam.

    2. Até or jornalões mostraram os

      Até or jornalões mostraram os videos da repressão absurda da PM, até dentro de hotel. Nenm, nenhum video e manifestante atacando polícia.

      Então, mas fatos e menos especulações.

      Nos últimos dois anos participei de quase todas as manifestações contra aumento de tarifa em BH e nunca a polícia agiu dessa forma, mesmo com vias importantes totalmente trancadas na hora do rush. O fato é que a polícia do Anastasia era menos repressora que a do Pimentel.

      1. Vejamos os jornalões

        Espero que tenhas lido também que fecharam as faixas das vias impedindo a o trânsito das pessoas e infernizando a vida de nem sei quantos pelo caos no trânsito.

  2. A ILUSÃO, O DIREITO E OS NOSSOS DIREITOS, ONDE ELES COMEÇAM?

    Olha Nassif, não acho que linchar comandantes seja o correto, já li coisas desse tipo: “Há, se a polícia estivesse agindo não teria acontecido isso”, se a polícia tivesse agindo assim isso não tinha sido essa tragédia”.  Essa celebrização de manifestantes virou um troço meio que irresponsável e até tolo. As pessoas têm que entender do que se propõem a protestar. QUALQUER TRABALHADOR, QUALQUER, TEM DIREITO AO VALE TRANSPORTE E TEM O DIREITO DE OPÇÃO SE QUER OU NÃO O VALE TRANSPORTE. Logo quem trabalha aumentos no caso dos vinte centavos não pode ser MOTIVO DE PARALISAÇÃO DE UM PAÍS. As pessoas que pagam IPVA caro têm o direito de usar os logradouros públicos para trafegarem, quem não quer esse besteirol de aparecer em redes sociais também nesse modismo burro baseado nos FLASH MOB, também tem direito a trafegarem sem a insalubridade do confronto. A cultura da burrice também é burrice, se há inflação, se há aumento de combustíveis há de haver aumento dos custos do transporte, vou citar um exemplo em minha cidade tem uma empresa de transporte que até parte foi vendida para uma outra gigante do setor, a família dona ainda de parte dessa empresa na atualidade, tem uma outra de transporte coletivo na totalidade, vestem de manifestantes saem até na TV verborrajando contra tudo o que para eles até seria fácil é são não aumentar o preço, então Nassif, há muita sacanagem e política rasteira nessas manifestações, PERTUBAR A ORDEM ALHEIA TAMBÉM É CRIME NA CONSTITUIÇÃO. Há de haver um limite entre a manifestação factível e a manifestação sem motivação que justifique. Aqui em BH nas ultimas manifestações que se deixou correr frouxo teve empresas que teve prejuízos de milhões e até faliram e ninguém pagou. As pessoas embora com direito a manifestarem, também devem ter a responsabilidade pelo ato caolho de se deixar levar por celebrização de aparecer, a doença da web, onde o que importa não o ridículo, mas sim “EU APARECI”.  Quando da campanha da “ANISTIA AMPLA GERAL E IRRESTRITA” eu era jovem e fui na manifestação inicial, mal sabia que estava sendo manipulado pelos dois lados, pois O IRRESTRITO tirava a responsabilidade de TORTURADORES pelos seus atos, Em manifestações as vezes estamos alimentando o fascismo simplesmente por participar do que não se entende, então quando passei a entender o que foi aquilo fiquei mais esperto e por isso não concordo em nada nesse freio que tentam dar nos comandos militares para não conterem quem sabe tragédias e prejuízos que não serão ressarcidos. Agora se houver excessos, ai sim quem os cometa que pague, mas sem linchamento do profissional. Não tem nada mais vergonhoso do que aquela cena de manifestantes invadindo a prefeitura de SÃO PAULO acuando os guardas municipais numa covardia absoluta. Aquilo poderia ter causado mortes de quem estava defendendo o patrimônio público. Que os comandantes sejam firmes com os coxinhos aparecidos. Quando a guarda Aécio/Anastásia triturou os professores na linha verde, ninguém falou uma linha dos comandantes somente dos professores humilhados por esses governantes e olhe que os professores tinham uma pauta de reivindicação.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador