Manifestações e jornais fazem confusão em críticas a projetos, e Temer agradece

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A repercussão dos atos realizados neste domingo (04) em favor da Operação Lava Jato recebeu ao longo do dia e noite outras conotações, além dos motivos protestados: colocar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como escudos à revelia de Michel Temer.
 
O recado estava claro: o líder do movimento que organizou os protestos, Vem Pra Rua, Rogério Chequer explicou nas redes sociais que o grupo “não é a favor do Fora Temer”. “Nós não temos nenhum interesse de tirar o Temer do poder”, afirmou. E mais, em entrevista à BBC Brasil, o organizador disse que não podia controlar quem participa de seus atos, mas que esperava “que pessoas desalinhas das não se interessem em vir”. Defendeu diretamente Temer, afirmando que o novo presidente “tem intenções extremamente positivas para o Brasil”. O aviso do líder do Vem Pra Rua está em consonância com a reunião realizada no Planalto, em que Michel Temer pediu que os movimentos de direita o ajudassem.
 
Eram atos em favor da Operação Lava Jato e contra qualquer medida que pudesse impedir sua continuidade e avanço. Mas a “ameaça” à operação incluía não só a aprovação na Câmara dos Deputados, na calada da noite na última quarta-feira (30), das 10 Medidas incluindo tentativas de cercear atuação de investigadores, como também o Projeto de Lei do Senado 280, de Abuso de Autoridade, que quer evitar qualquer que seja o abuso cometido por juízes, delegados e procuradores. 
 
Mas a aprovação da Câmara, alterando as medidas um dia antes da agenda prevista no Senado para discutir a outra pauta, essa sim exclusiva aos abusos, provocou na população, com a ajuda dos meios de comunicação, uma interpretação de que tudo se tratava de ameaçar a Lava Jato.
 
 
Diante disso, as manifestações que eram para ser contra as alterações feitas pelos deputados federais na última quarta-feira, ampliou seu leque e, além de defender o próprio avanço da Operação Lava Jato, criticando o presidente da Câmara Rodrigo Maia, também pos na mira Renan Calheiros, presidente do Senado. Mas não Michel Temer, a voz ordenante do Executivo para as medidas que estão sendo aprovadas no Congresso.
 
Também os meios de comunicação fizeram seu papel. Apoiaram expressivamente as manifestações, destacando “famosos que defendem” os atos, a Lava Jato e contra a corrupção, nas propostas do Congresso.
 
“Das dez medidas sugeridas pelo Ministério Público Federal e que contaram com mais de 2 milhões de assinaturas de apoio, salvaram-se integralmente apenas duas. Os parlamentares ainda incluíram no projeto a tipificação do crime de abuso de autoridade para magistrados e integrantes do Ministério Público”, divulgou O Globo, em reportagem que fez o balanço das manifestações.
 
 
A Folha trouxe destaque para as celebridades, como os atores Regina Duarte, Malvino Salvador, Susana Vieira e Juliana Paes, que ou integraram os atos, ou manifestaram seus apoios pelas redes sociais com fotografias e frases. 
 
 
A resposta de Temer foi de agradecimento. Em nota oficial, o Palácio do Planalto destacou o “comportamento exemplar” das manifestações deste domingo (04) por cerca de 200 cidades do Brasil e avaliou que os atos “fortalecem ainda mais” as instituições brasileiras.
 
“A força e a vitalidade de nossa democracia foram demonstradas mais uma vez, neste domingo, nas manifestações ocorridas em diversas cidades do país”, elogiou o governo, por meio da Secretaria de Comunicação.
 
“Milhares de cidadãos expressaram suas ideias de forma pacífica e ordeira. Esse comportamento exemplar demonstra o respeito cívico que fortalece ainda mais nossas instituições. É preciso que os Poderes da República estejam sempre atentos às reivindicações da população brasileira”, disse.
 
Por outro lado, o comunicado trará mais pressões para o governante, após as pautas de sua ampla base de apoio do Congresso serem aprovadas. A população que foi às ruas e os próprios jornais que valorizaram os atos ficarão atentos se Temer sancionará as leis dos deputados e senadores.
 
O Estadão mostrou isso, ao publicar reportagem de que as “manifestações país afora” devem “desacelerar” os projetos como o de Abuso de Autoridade. “A matéria poderá sair da pauta de votação do plenário do Senado amanhã”, cobrou o jornal.
 
 
Ao mesmo tempo que a notícia revela pressão, tanto popular, quanto dos veículos de comunicação, para que o tema seja descartado pelo governo, também demonstra a tentativa de se misturar os dois projetos em andamento, um na Câmara e outro no Senado, como se fossem iguais. 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Medidas da Meia-Noite é refresco nos olhos do Eduardo Cunha

    O Eduardo Cunha foi cassado de madrugada e todos esperavam que a Dilma fosse cassada de madrugada. Pimenta nos olhos do Cunha era refresco nos olhos dos Jateiros. Mas quando a pimenta pinga nos olhos deles…

  2. Protestos: Muito investimento prá pouco retorno

    Manifestações: foi muito trovão prá pouca chuva. O fiasco da Manifestação foi total. Onde deu mais gente foi no Rio de Janeiro, estado em que a elite corrupta tenta fazer os pobres e trabalhadores pagarem o pato de sua corrupção.

  3. “”NA CALADA DA NOITE”” é mero

    “”NA CALADA DA NOITE”” é mero jogo de palavras. Parlamentos de todo o mundo  avançam na madrugada

    porque as sessões  geralmente se iniciam à tarde, não há regra horaria nos paralmentos, como se fosse uma fabrica.

    No ano passado por mais de quinze vezes as sessões da Camara avançaram para depois da meia noite.

    1. Muitas pessoas dignas foram geradas na calada da noite

      Qual a diferença se as medidas contra a corrupção tivessem sido aprovadas pela Câmara na calada da noite ou no barulho do dia?

      Quem discorda da lei tem que combater é o seu teor, não a hora em que ela foi aprovada. Brasileiros burros

      Levando em conta que os pais do Nelson Mandela eram pobres e tinham que trabalhar durante o dia, o Nelson Mandela foi gerado à noite. Qual o problema em o nosso Mandela ter eventualmente sido gerado na calada da noite?

  4. Esquerda e movimentos sociais deslegitimizados
    A esquerda desde que Temer apossou-se do poder vem colando mensalmente, semanalmente 10, 15 mil nas ruas para protestar pelo FORATEMER. Em várias ocasiões foram 40, 50 mil pessoas na paulista.
    Porém a mídia tradicional nunca sequer noticou essas manifestações.
    Que democracia é essa onde apenas um grupo e “movimentos” tem suas manifestações noticiadas?
    O motivo meus caros é que esse pessoal conseguiu desmoralizar e deslegitimar a esquerda e seus protestos.
    As manifestações deles são legitimas, são do “povo” as nossas não.
    Não adianta colocar 100 mil na rua para protestar pelo FORATEMER se o cidadão comum desse país nem sequer vai saber que houve tal manifestação, que existe pessoas do lado de cá.
    Nossos protestos foram deslegitimizados pela mídia corporativa e corrupta. A veja colocou como título em sua principal matéria sobre essa manifestação do dia 04/12/16 que “acontecem os primeiros protestos desde que Temer assumiu a presidência”. É zombar da nossa cara.
    Não adianta, só ganharemos evidências em nossos protestos quebrando tudo. Vandalizando geral.

  5. Gados….

    O povo age como boi, e o governo atual vai tocando a boiada… que ruminam o que o notíciario midíatico expõe!

    O Brasil é uma piada sem graça!

    Tenho orgulho de nascer no Brasil, e ser Latino Americano. Mas é muito triste ver a ignorância do meu povo, que pouco valoriza o seu país, a sua cultura, autodestruindo-se ignorantemente, continuamente, como em toda a história, quase sempre o fez…

    Perdoai-os, eles não sabem o que fazem!

     

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