Manifesto sobre as manifestações, por Agnelo Pacheco

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

As manifestações começaram contra o aumento no preço das passagens dos ônibus.  Um preço congelado há muito tempo e que deu origem a uma revolta. De lá para cá, surgiram manifestações e mais manifestações. E sobre os mais diversos assuntos.

Vendo que um ato pacífico passou a ter sempre violência, entre vândalos e policiais, sabia que, logo, logo, teríamos uma vítima. Não esperava que fosse um jornalista, Santiago Andrade, cinegrafista da Band, atingido por um poderoso rojão atirado por um ou dois manifestantes.

Lamentavelmente, parece que nesta onda de violência os vândalos e baderneiros estão ganhando a luta contra as autoridades, que estão aí para controlar tudo, claro que sem agressões.

O que a população desconhece é que, quando um ônibus é queimado, por exemplo – ainda que como forma de protesto –, mais de 6 mil passageiros estão sendo atingidos, perdendo seu transporte todos os dias. Estão perdendo o seu ônibus e, como um novo leva pelo menos 90 dias para entrar em circulação, são 540 mil passageiros prejudicados no período.

 

Na manifestação contra o aumento das passagens, a maioria dos manifestantes sequer usava transporte coletivo. Têm seu carro ou o carrinho da mamãe ou do papai.

E agora vem esta manifestação “COPA NÃO”. Agora? Com todos os estádios e obras de infraestrutura quase terminada? Se for para pedir NÃO À COPA, isso deveria ter sido feito quando o Brasil foi escolhido para sediar o evento.

Sou a favor das manifestações, mas totalmente contra toda e qualquer forma de violência nestes atos. E como não estão sendo criativos, sugiro, aqui, algumas manifestações e passeatas:

Manifestação NÃO MALTRATEM OS ANIMAIS: Milhares e milhares de pessoas desfilando com seus cachorrinhos e gatinhos pela Paulista, protestando contra os maus-tratos aos animais.

Manifestação do ISTO VAI DAR BOLO: Confeiteiros e padeiros desfilam carregando diferentes bolos contra o preço da farinha.

Manifestação CARNAVAL NÃO: Milhares e milhares de homens e mulheres vestidos de preto desfilam de cabeça baixa, protestando contra o Carnaval.

Manifestação BEIJO NA BOCA NUNCA MAIS: Todos com esparadrapo na boca, protestando contra o beijo na boca.

Manifestação NÃO ME MANDE TOMAR BANHO: Nesta, os manifestantes precisariam ficar mais de um mês sem tomar banho, desfilando seu cheiro pela avenida.

Como veem, existem estes e outros temas para as manifestações. Mas a mais importante e urgente – e esta é séria: MANIFESTAÇÃO CONTRA A VIOLÊNCIA. Porque a violência é uma escalada, e quando começa ninguém segura.

Estamos perto de completar 50 anos que os militares tomaram o País, com muita tortura, muito sofrimento e dores para milhares de famílias. Claro que a imensa maioria dos brasileiros de hoje não viveu isto, mas está nos livros e nas reportagens mostradas, hoje, como aquele tempo começou. E como a “baderna” da população foi a grande desculpa para os “salvadores” da pátria tomarem o poder em 1964.

Agnelo Pacheco é publicitário, começou a carreira no início da década de 1970, montou a própria agência em 1985 e conquistou, entre outros, os prêmios Clio Awards de New York da Propaganda Brasileira, Leão de Ouro do Festival de Cannes e foi eleito o Publicitário do Ano pelo Prêmio Colunistas.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador