Música e poesia são as armas para lutar pela liberdade de Lula

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Ricardo Stuckert

Por Tiago Pereira

Na RBA

Rio de Janeiro – Ainda no final da tarde, Tizumba abriu festival Lula Livre, trazendo os ritmos africanos para o palco principal nos arcos da lapa, centro do Rio de Janeiro. Os apresentadores ressaltaram o “período de breu, etapa indigna” do Brasil pós-golpe do governo Michel Temer e convocaram os artistas a lutar com as suas armas da música e da poesia contra as injustiças. Também lembraram o compositor Vinicius de Moraes, que dizia, em uma de suas canções, que “mais que nunca, é preciso cantar e alegrar a cidade”.

“A partir de agora, vamos combater os usurpadores do presente e sequestradores do nosso futuro”. A cantora Ana Cañas cantou à capela O bêbado e o equilibrista, composição de Chico Buarque celebrada na voz de Elis Regina, que Lula contou a ela ser a sua música preferida. “Democracia nessa porra”, clamou Cañas, que lembrou que nesta sexta-feira a vereadora Marielle Franco completaria 39 anos, se não tivesse sido assassinada em março deste ano, também no Rio de Janeiro. Abayomy Orquestra também trouxe a cultura negra e lembrou a figura do rei africano Malunguinho, ex-escravo que liderou um quilombo em Pernambuco.

A cada apresentação, a plateia entoava o grito Lula Livre, a marca do festival. Os organizadores também anunciaram a agenda de mobilizações entre os dias 10 e 15 de agosto, que começa com mobilização das centrais sindicais no Dia do Basta contra as ameaças aos direitos trabalhistas. No dia seguinte, um ato inter-religioso em frente ao STF em defesa da liberdade de Lula, com a presença do Nobel argentino adolpho Perez Esquivel, quando também vão apresentar abaixo-assinado com cerca de 300 mil assinaturas que denunciam a prisão política a que Lula está submetido em Curitiba. No dia 15, o registro oficial da candidatura de sua candidatura. A população foi também chamada a se organizar em comitês populares em defesa da libertação de Lula e pelo direito de concorrer nas eleições. Na sequência, a Gang 90 trouxe hits brasileiros e músicas de amor dos anos 1980 e 1990.

Ao lado do escritor Eric Nepomuceno, Lucélia Santos fez a leitura do manifesto convocatório do festival. “Todo o julgamento do presidente Lula foi um erro jurídico sem limites. Não havia, na primeira instância – leia-se Curitiba –, uma única e mísera prova dos crimes dos quais ele foi acusado. Não se trata de opinião, mas de constatação.”

“Eles sabem que se soltarem Lula nessa altura do campeonato, ele leva a eleição”, comentou da plateia a arquiteta Júlia Ribeiro, de 36 anos, antes de todo o público entoar sucessivos gritos Lula Livre. “Lutem como Marielle Franco”, concluiu Lucélia Santos.

“É uma série de mobilizações que vem desde a prisão dele em São Bernardo. E agora no Rio, na Lapa, berço do samba e da cultura popular, a gente espera que o recado fique ainda mais claro quanto à partidarização do judiciário. Dá mais um impulso na luta contra as ilegalidades que vêm ocorrendo no Brasil”, afirmou dos bastidores o jornalista Luis Nassif.

Também passaram pelo palco os artistas Gabriel Moura, Lisa Milhomem, Claudinho Guimarães e Dorina. Aíla cantou que todo mundo nasce artista, e “depois vem a repressão”. “Essa doença tem cura, existe uma salvação. Faça arte, mesmo que a sua mãe diga que não”, dizia o verso da música.

Os apresentadores lembraram que uma “acusação fajuta” serve de pretexto para a prisão de Lula, já que o ex-presidente não dormiu, nem nunca teve chaves ou escritura do dito apartamento que a ele atribuem. “No processo a Jato, vem antes a condenação, baseada apenas em convicção.Faltou combinar com o povo. A indignação cresce a cada dia. Exigimos a imediata libertação de Lula”.

Ao discursar no Festival Lula Livre na noite deste sábado, o Frei Leonardo Boff os tempos sombrios da ditadura civil-militar que se instalou no país nos anos 1960. “Faz escuro, mas eu canto, disse o poeta Thiago de Mello, na época sombria, da ditadura militar, de 1964”, afirmou. “Está confuso mas eu sonho, digo eu, nesses tempos não menos sombrios. Sonho ver um Brasil construído de baixo para cima e de dentro para fora, forjando uma democracia popular, participativa, reconhecendo os novos cidadãos, que a natureza é a mãe Terra. Sonho em ver organizado o povo em redes e movimentos sociais. Povo cidadão, com competência para gerar suas próprias oportunidades, e moldar o seu próprio destino, livre da dependência dos poderosos, mas resgatando a própria autoestima.”

* Com colaboração de Paulo Donizetti de Souza e Cláudia Motta

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Não deixaria de asistir pela

    Não deixaria de asistir pela TVT esse show nem que tivesse que cancelar a visita ao Papa. Sabia que seria um Show pra valer. E foi.

    Houve duas interrupções, inclusive enquanto Boff falava. Fiquei agoniada, mas, graças a Deus, voltou, e eu vi até o finalzinho, com o povo gritanto para que Chico e Gil cantassem mais. Aliás, fiquei impressionada com as cordas vocas de Gilberto Gil, afiada como quando era jovem. Esperei que Chico cante VAI PASSAR, ou outro samba bacana, mas Chico, como sabemos, nunca se libertou de sua timidez. Ontem ele estava assim: precisando de ajuda para elevar sua voz. Ele é único porque independe do que cantar. A presença é de um monstro da música brasileira, respeitando por onde passar. Amo demais esse cantor, que acompanho desde sempre.

    Dos cantores não mito conhecidos no Brasil, fiquei encantada com Jeneci – parceiro de Chico César. Que sanfoneiro porreta. Ele é elegante, toca muito, e esala uma simpatia extraordinária. Depois, ao fazer dupla com Chico César, o show ficou lindo demais. Chico César é 1000.

    Daniel Téo – que desonhecia – foi apresentado como um brasileiro residente nos Estados Unidos, que fizera questão de estar ali, fazendo parte da festa. Tocou uma guitarra tinindo e canta lindamente. Achei mita semelhança da voz dele com a de Bob Dylan.

    A variedade de cantores, com variação de ritmos brasileiros foi encantadora. Teve pra todos os gostos.

    E que nota daríamos para o conjunto que acompahou os artistas. Incrivelmente eficaz. Amei ver o desempenho deles. 

    Até o Trompetista tava lá. Esse cara será, por esses tempo difícieis, um puxador de manifestações, pela sua singeleza, e criatividade. Vi que ele puxou a música de Lula dentro de um shopping no Ceará. O vídeo mostra ele chegando como quem não quer nada, pessoas começando a gritar sem muito gás, mas ele não desiste, e logo está no meio do povo. 

    Às vezes penso que mita gente não segue o trompetista para não desagradar quem está a seu lado. Isso porque eu mesma, que sou Lula e petista de carteirinha, sou amiga de um monte de gente que pensa diferente, ao ponto de se der uma brecha a gente transforma o bom relacionamento em inimizade. 

    Enfim, estaria em Brasília até o dia 14 de agosto, mas com a programação do PT, conclamando as massas para irem à Capital do Brasil no dia 15, vou aaiar minha volta.

    Receio que nesse dia possa haver muita repressão da polícia, mesmo sem razão, porque é assim que agem esses milicos quando quem tá na rua é gente do PT. Tomara que não.

     

  2. Li no 247 que o tal de fux

    Li no 247 que o tal de fux quer parar o Lula já no dia 15. Peço aos estrategistas de campnha do Lula, pelo amor do nosso futuro, se antecipe a mais este descalabro contra o o Pt e ajam. Sugiro que além da mobilização social, convidem todos os nomes públicos de peso para compareceram juntos ao tse dia 15. chamem juristas,artistas, de preverência sob o comando do Chico Buarque, personalidades públicas nacionais e principalemnte internacionais. Por exemplo, porque não convidam o bernie Sanders e quem sabe até o Obama? Não deixemos a que o que começou ontem na Lapa se perca.Tem que fazer barulho, demonstrar indignação e somar forças para que estes golpistas do judiciário não completem de maneira irreversível o sepultamento da nossa fragilíssima democracia.

  3. Eu vou tirar você desse lugar…

    Eu também estava lá, e apesar de já “sexigenário” – aguentei quase sete horas em pé, até o final às 12p0 e ainda tiver forças para pedalar 7 km até Botafogo, literalmente defumado pelas onipresentes barracas de churrasquinho.

    Mas como valeu a pena esperar tanto tempo para ver Chico e Gil! Porque teve tantos momentos bonitos, emocionantes, tanto de discursos – Leonardo Boff, por exemplo – e músicos conhecidos e algumas revelações para mim. Chico Cesar e Marcelo Jeneci foram um dos pontos fortes.

    Então, quando o apresentador anunciou, entre tantos músicos que eram da preferência do presidente Lula, o nome de Odair José, os amigos mais novos – mas não muito – que estavam ao meu lado só se lembraram de quem era quando eu cantei “pare de tomar a pílula..”. Por um momento nos perguntamos: será que ele vai cantar essa música símbolo da caretice sexual? Foi quando ele começou a cantar outra – que eu havia esquecido – “Eu vou tirar você desse lugar…” Aí surgiu pra mim a música que pode servir de mote para esse grande movimento – a tomada da Bastilha de Curitiba.

    Sonho? Quem sabe?

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