Não vai ter golpe, por Guilherme Wisnik

 
Jornal GGN – Em coluna na Folha de S. Paulo, o professor Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Guilherme Wisnik explica a razão pelo apoio a presidente Dilma Rousseff de pessoas que, como ele, se desiludiram com a ascensão do Partido dos Trabalhadores ao poder. Ele critica políticas adotadas durantes os mandatos do ex-presidente Lula, falando no “gosto amargo da realpolitik do PT no poder” e citando políticas agrárias predatórias e o “fisiologismo político com grandes empreiteiras”. Mesmo assim, ele considera surpreendente a violência do ódio contra o PT, mesmo que exista um descontentamento com a corrupção e a estagnação econômica. Wisnik tenta compreender as origens deste ódio, que ele argumenta que é “de classe e insuflando pela grande mídia”.  Leia mais abaixo:
 
Da Folha
 
#NãoVaiTerGolpe
 
Guilherme Wisnik
 
Votei em 1989, com 17 anos. Pertenço a uma geração que viveu de raspão os estertores do regime militar e que cresceu junto com o fortalecimento dos movimentos sociais, no processo de redemocratização do país.
 
Sou alguém que, como muitos, comemorou a chegada de Lula à presidência em 2002 e depois provou o gosto amargo da realpolitik do PT no poder. Ainda que nunca tenha esperado pureza da política, nós —no plural, incluindo aqui parte expressiva da minha geração— não aceitamos o fato de o partido ter aprofundado o pernicioso patrimonialismo brasileiro, tratando os assuntos públicos com base nas relações pessoais de favorecimento.

 
Encarnando o “homem cordial”, Lula no poder trocou a luta de classes pelo lema do “paz e amor” e fez um governo de coalizão em que, sob o contexto favorável da alta das commodities, milagrosamente todos pareceram ganhar. Isso, contudo, às custas de políticas agrárias predatórias, crimes ambientais e de um fisiologismo político com grandes empreiteiras, que escorchou os movimentos sociais ligados à causa habitacional, surgidos desde o fim da ditadura. Do ponto de vista urbano, o programa Minha Casa Minha Vida é um desastre.
 
Diante de tamanha capitulação face a um real programa de esquerda, surpreende a violência do ódio de classe contra o PT que impera hoje no Brasil. Sim, há um evidente descontentamento da maioria com a corrupção, no contexto de uma forte estagnação econômica. Mas o ódio é de classe e é insuflado pela grande mídia.
 
Entende-se, de certa forma, que uma geração de pessoas que se profissionalizou já nesse século, buscando idealmente fazer valer o lugar da lei no país, tenha procurado inserir-se menos na política do que no sistema judiciário. Ocorre que figuras como Sérgio Moro incorrem no mesmo erro estrutural, abusando do poder, usando-o de forma discricionária, e, com isso, substituindo a política pelo salvacionismo personalista.
 
A manipulação de informações posta em prática pelo juiz e pela Rede Globo é indecente. Indícios que não provam nada. Registros de foro privado, descontextualizados, editados, que não podem ser objeto de escarnecimento público. O que apareceria se os diálogos íntimos do próprio Moro fossem tornados públicos? No “Jornal Nacional”, trechos soltos de conversas grampeadas foram narrados por uma voz em off, dando-lhes entonações tendenciosas, o que é gravíssimo. Justiça transformada em justiçaria, ventilada de forma criminosa na grande imprensa, empurrando-nos na direção da intransigência e do ódio cego. Fascismo de massas, no qual, diante da desagregação política, emergem figuras sinistras como Bolsonaro.
 
Em recente entrevista à Folha, Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro de Sarney e de FHC, esclarece que a política do governo Dilma afronta em essência os poderes rentistas brasileiros e estrangeiros, rompendo, em um momento de crise, o pacto lulista e voltando-se mais claramente para as camadas mais pobres da sociedade. Camadas estas que eram a maioria esmagadora das pessoas presentes na manifestação de sexta-feira na avenida Paulista. Daí o ódio de classe.
 
Por isso, muitos ex-petistas como eu voltaram às ruas, em favor da democracia e da governabilidade. E, enquanto não surgirem provas reais contra a presidenta, engrossamos o coro: #NãoVaiTerGolpe. 
Redação

8 Comentários

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  1. Frente progressista e

    Frente progressista e democrática.

     

    Do editorial do Carta Maior:

    “O que mais precisa acontecer aqui para que as lideranças sociais, partidos, intelectuais, centrais, personalidades nacionais e mídia progressista anunciem um comitê unificado contra o golpe e uma agenda política de novas mobilizações para a repactuação do desenvolvimento brasileiro?”

    http://cartamaior.com.br/?/Editorial/O-que-sera-que-sera-que-essa-sexta-feira-veio-propiciar-/35732

  2. Boatos que circulam em Belo

    Boatos que circulam em Belo Horizonte: Moradia do Presidente de PSD no estado, levou varios tiros, porque descobriu que pessoas do partido está levando uma grana para votar o impechim. Será verdade?

  3. Uma critica

    a mais contundente das que já li mas solidifica o apoio ao “Não vai ter golpe” devido “Em recente entrevista à Folha, Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro de Sarney e de FHC, esclarece que a política do governo Dilma afronta em essência os poderes rentistas brasileiros e estrangeiros, rompendo, em um momento de crise, o pacto lulista e voltando-se mais claramente para as camadas mais pobres da sociedade. Camadas estas que eram a maioria esmagadora das pessoas presentes na manifestação de sexta-feira na avenida Paulista. Daí o ódio de classe.

  4. Só a união vai brecar o golpe

    E isto de todos, mesmo aqueles, como eu, não concordavam com a realpolitick.

    Gostaria tanto de ver engajados aqueles jovens que ocuparam as escolas, defendendendo, sem perceber, um projeto político. O futuro são estes jovens, da midia ninja, dos movimentos sociais. Eles tem o que aprender com os experientes mas tem muito o que ensinar, a nível de esperança, de que não precisamos repetir os mesmos erros.

    A esquerda precisa deste jovem para se reinventar! Com novos pactos, mais realistas e menos utópicos. De que adianta embarcar de cabeça na utopia para mais adiante se decepcionar com a realpolitik?

    Que o PT renasça das cinzas com o sangue renovado. Sangue novo que alíás faz falta em todos os partidos.

  5. Sonhos não morrem

    Tem sido muito difícil.

    Ainda me chegam à memória algumas cenas da campanha presidencial de 2014.

    As manifestações, as ofensas, xingamentos, agressões e os debates atingiram níveis inimagináveis, assustadores.

    Foi ali, particularmente nos debates, onde Aécio finalmente iniciou a sua queda.

    Todos eles vibravam nos debates. Não perceberam o que estava bem claro, menos para eles.

    Houve um em particular. Foi quando, ao final, Dilma pediu um copo d’água. Não estava passando bem.

    O caminho mais fácil é sempre o mais procurado. No outro dia manchetes e comentários de “jornalistas” experientes e de grande inteligência e sensibilidade, como Merval Pereira, não conseguiram conter o inescondível sorriso:

    “Aécio nocauteou Dilma”.

    O bom senso, no entanto, apontava para outra direção.

    Frente a frente com um cínico profissional, há de se ter uma estrutura muito sólida para se controlar. Mesmo aquela mulher que enfrentara e resistira aos porões da ditadura acusou a dureza do golpe.

    Às vezes as circunstâncias falam mais alto e nos obrigam a calar, ou pelo menos a ponderar. Muitos não entendem.

    Dilma se viu diante de um desses momentos. Não usou as armas que uma mulher guerreira dispõe para situações como aquela, em que se viu diante daquele protótipo de homem que a agredia seguidas vezes.

    O consumo de energia foi muito grande.

    Refez-se, como se  refazem as grandes mulheres no dia-a-dia e foi adiante.

    O resultado aí está, as pessoas vaiaram Aécio nas manifestações de 13/03, alimentadas por ele e seu partido.

    Aquele sorriso se foi. Hoje é um protótipo assustado, tenso, que se esgueira pelas esquinas da vida.

    O olhar, seu eterno delator, diz que sua carreira política está chegando ao fim.

    Ainda que continue a aspirar alguma coisa, sabe que ficará na poeira da História.

    Outros políticos, como Alckmin, também foram vaiados na avenida que se imaginou a mais brasileira de todas. Também em outras espalhadas pelo Brasil.

    Até os anões da política baiana foram vaiados no Farol da Barra.

    Aleluia!

    Nem tudo está perdido.

    E para comprovar isso, vieram as manifestações de 18/03.

    Ali não estavam os helicópteros transmitindo imagens ao vivo na TV, conclamando as pessoas a comparecerem. O estímulo constante anunciando que chegavam milhares de pessoas a todo instante, jovens, idosos, senhoras, famílias inteiras. Quatro redes de televisão unidas na conclamação.

    As pessoas iam simplesmente chegando.

    Só consegui chegar às 16:30.

    Fui só.

    E uma coisa já me chamou a atenção.

    A cerca de 30 metros, não mais que isso, da corrente humana, um rapaz de seus 25 anos passou do meu lado vestindo a camisa amarela representativa do combate à corrupção, atual ícone da respeitabilidade; a camisa da CBF.

    Ninguém lhe fez nada, como também nada foi feito a outro, esse com seus 45 anos, que do outro lado da rua provocou; “sou muito mais Moro”. Como estavam, ficaram.

    E naquela multidão de gente que ainda não tinha saído do Campo Grande já tínhamos a notícia de que a turma da frente do cordão humano já estava na Praça da Piedade, na Av. Sete, a charmosa avenida dos meus maravilhosos primeiros carnavais de Dodô e Osmar. Armandinho só existiria alguns anos depois.

    Confesso que me emocionei e quando comecei a digitar uma mensagem para minha mulher e nossas filhas, chorei.

    Fui até a Praça Castro Alves, a praça do povo, como canta a música; “a praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião…”

    Mais uma vez o povo da Bahia se encontrava com a sua praça e seu poeta, como fizemos anos seguidos no carnaval.

    Gente, foi bonito demais.

    Depois de tudo isso, quando voltei para casa, encontrei a minha mulher e as meninas e, ainda emocionado, narrei tudo.

    Foi quando elas me mostraram as fotos do que tinha ocorrido nas demais cidades do Brasil. Já tinha visto algumas, mas ali via outras com calma. Em todos os estados a festa foi maravilhosa.

    Mal sabia que algo especial ainda estava por vir.

    Foi quando vi a foto lá de cima; Bete Mendes e Letícia Sabatella.

    Duas belas e maravilhosas mulheres num momento de força indescritível; a certeza da luta jamais abandonada.

    Antes que alguém estranhe chamar Bete Mendes de bela mulher (todos sempre associam à beleza externa), fique sabendo que ela já foi uma das mulheres mais bonitas da televisão brasileira.

    Por conta disso, cheguei até a pensar em postar aqui, além dessa, uma foto dela ainda jovem, mas não. Seria trair a mulher Bete Mendes, que aceita e vive a sua idade e por isso continua bela.

    Leticia Sabatella, de uma beleza estonteante, cada dia se mostra mais bonita e mais plena.

    É a grande beleza interior que se manifesta na sua ainda juventude, deixando-a mais bela ainda.

    Duas mulheres de tempos diferentes que se encontram no mesmo tempo, o da paixão por uma causa.

    A despeito da notoriedade pelo reconhecimento do que são, não estão ali para produzir cenas e frases de efeito.

    Há algo de uma força indescritível nesse encontro.

    Meu Deus, como essas duas mulheres conseguiram produzir um momento de tamanha expressividade, beleza e paixão!!!

    Diante disso, como poderia ainda imaginar que outro poema me esperava?

    E ele veio.

    Na forma de outra imagem.

    Sim, essa mesmo.

    Essa imagem dispensa qualquer comentário. Não ouso tentar descreve-la.

    Fez  lembrar o que disse um motorista de táxi na sua singeleza há poucos dias a um amigo;

    “Doutor, eu e mais 12 colegas já combinamos ir juntos para as manifestações. Nós já sentimos que tá todo mundo contra Lula. Ele só tem a gente e Deus do lado dele”.

    Posso ver essas pessoas nos barcos e nas pequenas canoas dizendo algo parecido.

    “Vamos minha gente, defender quem fez alguma coisa por nós”.

    E com suas embarcações fizeram uma procissão rumo a Belém. A procissão da esperança, da fé, como se ali estivessem carregando um andor com o seu santo protetor.

    E quem duvida que tenha sido?

    Fomos chegando, chegando, nos olhando, nos cumprimentando, sorrindo (o cumprimento mais exercitado) e viramos um mundo, um mundo de gente espalhado por todo o país.

    Sim, até na quantidade de participantes em todo país ganhamos e ganhamos bonito.

    Quer saber!

    Pusemos sim mais gente nas ruas de TODO o país.

    Não importa o que digam os Datafalhas (não houve erro de digitação) da vida.

    Mas fizemos mais, muito mais.

    Fomos com uma energia impressionante. Ouvia-se o bater dos milhares de corações.

    Sem ódio, xingamentos, provocações, só alegria.

    E foi isso que nos deixou com uma convicção inabalável.

    A convicção de que vencemos.

    Vencemos porque lutamos por causas, com a força de quem ama, de quem se apaixona por elas.

    De quem agride mas só com a força das palavras que exprimem essa esperança, que insiste em não morrer e que nos diz que dias melhores sempre virão.

    Como diz Fernando Pessoa:

    “O Homem é do tamanho do seu sonho”.

    O nosso limite é a utopia.

    Essa é a nossa força.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=m-pgHlB8QdQ align:center]

    1. Ronaldo, fui aqui em Porto

      Ronaldo, fui aqui em Porto Alegre também.

      Pessoas sorrindo, se cumprimentando, dando tchauzinho para os que passavam e diziam qualquer contra, enfim uma manifestação de quem tem ideologia (o outro também é importante prá mim) e direção.

      Não vamos entregar de mão beijada essa presidência. Vão colocar quem depois? Temer, Serra, Aécio, Bolsonaro, Cunha,..enfim as opções estão aí e nem é bom lembrá-las.

      Aqui em Poa os únicos vaiados era a Globo golpista e a RBS (globo local) que quando ligava as luzes para transmissão ao vivo já tinha que desligar em função do coro contrário aos seus interesses.

       

  6. Certo por linhas tortas.

    Esse golpe está unindo os brasileiros de bem!

    Que os desdobramentos sejam positivos ao Brasil e que Lula seja ainda mais popular e transforme o Brasil também na sua superestrutura política.

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