O medo e a raiva que a esquerda e a direita têm dos Black Blocs.

manifestacao black

A direita tem raiva, a esquerda tem medo. Tanto um como outro está certo com seu sentimento.

A raiva da direita se resume na destruição dos bens materiais e, talvez na afronta às autoridades constituídas.  A maioria dos governantes, não importa o patamar, foi educado debaixo de o chicote militar. Aprendemos a olhá-los como mitos. Seres acima do bem e do mal. No que seria hoje o ensino fundamental tínhamos que decorar a biografia, autorizada, das personalidades. Cantar hinos. Hastear bandeiras e dobrá-las segundo o modo da caserna. Marchar. Desfilar. Não rezou era terrorista. Pobre, só existia por preguiça e indolência.  Aprendemos a nos calar. Ou no máximo cochichar. Reunião era dispersa. Desempregado, um simples vagabundo. Humilhado, sem força, perdia o respeito próprio. Era o fim.

Mas os ares mudaram. Os usurpadores sufocaram. Procurando ar onde não mais existia. Se auto perdoaram pelos crimes. Uma, duas gerações haviam sucumbido sobre as botas da loucura. Os que restaram lutaram por teimosia.

Renasceram as manifestações. A porrada, também. Os tiros não eram de borracha. E o cassetete era de peroba. A PUC invadida. As diretas-já. O fim e o começo.

Tivemos que iniciar do zero. Eleições vieram. Partidos apareceram. Não dois. Mas quantos necessários. Os sindicatos voltaram. A constituinte de 88. Menestrel de Alagoas.

A democracia é construída no dia-a-dia. Não há choro, nem volta. O sol nasce. A lua também. As estrelas, nem se fala. É na insistência que se faz.

Quem viveu nesses tempos de escuridão sabe ao que me refiro. Nós não derrubamos ninguém. Nós não conseguimos julgar ninguém. Agora que se vasculham as histórias soltas de ex-guerrilheiros, de torturados sem motivos, de desaparecidos. Eles estão impunes. Vão morrer vivendo uma vida roubada de outros brasileiros.

Guardaram todo seu ódio numa caixa. A de pandora. Só esperando o momento de desabrochar. No fundo não há a “Esperança”.

Os lampejos de democracia foram fugazes, fogo de santelmo. Fogo fátuo queimando na lembrança.

Viver democracia não é viver votação. É viver justiça. E justiça é tão difícil de atingir. Há tantos interesses particulares e classistas. E um jogo de equilíbrio de prato chinês. Corre pra lá, corre pra cá. A democracia é dinâmica. Ela  exige cada vez mais democracia, sempre.

A esquerda tem medo. Será que dessa vez vai? Será que dessa vez não irá ter um golpe? Será  respeitada a vontade da maioria? Será que a constituição não será vilipendiada? Será que finalmente amadurecemos? E são tantos serás que nem dá para imaginar. A esquerda nunca ficou tanto tempo no poder. E através do voto. Quem sonhou e morreu por esse dia custa acreditar.  Pois, qualquer oscilação a democracia pode cair, numa lágrima de dor.

Os black blocs não sabem disso. A lógica de Talião é tudo que a direita quer. Quanto pior, melhor. Pode ser um pretexto, como foi o de 64. A Globo notícia, vazio de ideias. Apesar das criticas lhes dão uma visibilidade heroica. Como diriam os inocentes uteis.

A Dilma veio a público defender o coronel, quando os manifestantes apanham, ela não se pronuncia.

A polícia reprime com violência, então fazem o mesmo. Como se justificasse.

Os países berço desse movimento já vivem a democracia há muito tempo, não dá para importar. “Christiane F, Drogada e Prostituída” não tem nada a ver com nossa realidade. Nem eles.

Por essas bandas é hipocrisia. Uma polícia capaz de massacrar 111 presos. E encontrar quem defende essa barbárie. É injustificável. Polícia não é bandida. Ou não deveria ser. A mentalidade vem da ditadura que a treinou e a instituiu.

A truculência e o abuso policial tem que ser combatido com leis e punições. Unificar. E os governantes aprenderem a conviver com essa nova realidade. Nunca fogo-com-fogo. É covardia. Só em caso de quebra constitucional.

Bem, talvez seja isso que os saudosos do poder estejam fomentando, pois o caminho estará aberto  para mais um golpe no pobre continente da América do Sul.

Redação

1 Comentário

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  1. Então os black blocs são ruins ou não ?!

    Viver democracia não é viver votação. É viver justiça. E justiça é tão difícil de atingir.

    Concordo inteiramente, então a solução é colocar uma mascara na cara e sair atirando coquetel molotov em cima de tudo (e de todos) ?

    Texto inteiramente desconexo que basicamente iguala quem sai mascarado na rua cheio de coquetéis molotov e os joga em qualquer direção, não interessando em onde (ou em quem) pegue e as pessoas (de direita ou de esquerda) que estão fazendo suas reivindicações nos termos previstos pela Constituição.

    So p/fazer uma analogia, e se a polícia fizer o mesmo?  E se um grupo paramilitar fizer o mesmo?

    É razoável aceitar que pessoas inteiramente disfarçadas tenham o direito de acuar toda uma população que quer ir as ruas demonstrar suas reivindicações?

    Quando se compara esse povo com a turma de 68 (do Largo de São Francisco em SP e da Cinelândia no RJ) que enfrentou uma regime trinta vezes mais truculento que o regime que temos agora com a cara limpa no meio da rua com essa turma que só faz as coisas sob anonimato dá vontade de ser saudosista…

    Quanto ao julgamento do pessoal da ditadura, temos uma lei de anistia, que vale para os dois lados. Sou a favor da indenização, da apuração e de que se mostre às próximas gerações tudo o que aconteceu. Mas punir retroativamente  não faz nenhum sentido.

    Tem horas que é impossível entender alguns comentários do blog.

    PS: apenas para constar a informação, não tenho parente policial, nem militar, nem do governo da época etc. Apenas acho que a Lei de Anistia representou uma escolha que o país fez em um determinado momento. Retroatividade do direito penal só existia na Alemanha Nazista…

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