Quem está por trás da violência na caravana de Lula no Rio Grande do Sul

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – As visitas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em caravana a cidades do interior do Rio Grande do Sul foram marcadas por brigas e violência de um grupo de manifestantes contrários a Lula, incluindo um ruralista que chicoteou apoiadores do ex-presidente e outro que tirou pedras em um professor, que teve que ser levado ao hospital, em Santa Maria.
 
A violência foi duramente criticada na sequência da caravana pelo líder petista. Em São Vicente do Sul, nesta quarta-feira (21), Lula disse que era caso não só de preconceito, mas de ódio. “Vão mandar para nós um pedido de desculpas por tanta grosseria e tanta falta de respeito”, disse no Instituto Federal Farroupilha, acrescentando: “Já comi o pão que o diabo amassou. Não estou disposto a levar desaforo para casa”.
 
E o desaforo tem motivo: por trás das manifestações de integrantes do MBL nas cidades interioranas do Rio Grande do Sul, também estão envolvidos na organização dos atos de violência representantes ruralistas e do agronegócio. Um deles, Sérgio Malgarin, produtor rural, possui ampla influência na região.
 
O líder ruralista foi mencionado em um áudio enviado a um grupo de whatsapp que planejava a tentativa de impedir a entrada do ex-presidente em São Borja, parada realizada nesta quarta (21), quando Lula visitou os museus de Jango, de Getúlio e o túmulo de Getúlio Vargas.
 
A transcrição do áudio foi trazida pelo Diário do Centro do Mundo, e detalha a estratégia: “Eu sugiro que hoje (terça-feira) a gente se reúna no Sindicato Rural, na medida em que as máquinas vão chegando e de lá a gente saia com uma posição firme sobre a questão amanhã, que é para onde nós vamos nos dirigir, nunca esquecendo que, para a gente trancar trevo e achar que vai trancar a entrada do Lula, nós temos que monitorar lá de Santa Maria a saída dele de lá, e seguir para ver”.
 
Produtor rural e de vinhos, Sérgio Malgarin foi secretário da Agricultura de São Borja e mantém grande influência na região. De acordo com Joaquim de Carvalho, do DCM, a pessoa que narra os planos de barrar a entrada de Lula e que menciona Malgarin como um dos organizadores dos atos contrários à caravana é o presidente do Sindicato Rural de São Borja, Viriato Vargas.
 
“Porque senão botam ele para dentro do carro e o carro entra, e nós estamos em todos os trevos, não tem ninguém aqui, e ele faz e acontece. Muita atenção para isso. E a ideia é, no centro da cidade, nós locarmos um carro de som, um trio elétrico da Cosmos Sonorizações, altamente potente, pedir para o Alemão fazer uma coisa forte, e fazer como fizemos em Bagé, não deixar ele falar”, teria continuado, no áudio.
 
A “SEGURANÇA” DA PM EM SANTA MARIA
 
As críticas durante a Caravana Lula pelo Brasil na cidade interiorana começaram com a segurança realizada pela Polícia Militar, que tratou de proteger o grupo antipetista, mas quando havia conflito destes com os apoiadores de Lula, os militares desapareciam.
 
Logo, tumultos e brigas dominaram o evento organizado pelo ex-presidente. Pedras foram tiradas contra os apoiadores do ex-presidente, e o agredido, um ex-professor da Universidade Federal de Santa Maira, local onde foi realizado o evento, teve que ser atendido no Hospital Universitário de Santa Maria.
 
Em meio à multidão, um homem vestido com pilcha, vestuário tradicional da cultura gaúcha, originária dos primórdios da colonização dos pampas, começou a agredir o público favorável a Lula com um relho, o chicote usado para tocar dolorosamente bois, mulas e cavalos.
 
 
Enquanto parte dos favoráveis ao ex-presidente eram membros do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), entre o grupo verde e amarelo, contrário a Lula, estavam integrantes do MBL e líderes rurais. Somente quando o conflito já parecia ter saído do controle é que o 2º Batalhão de Operações Especiais (BOE) e a brigada militar chegaram para separar os manifestantes.
 
O FRACASSADO PLANO EM SÃO BORJA
 
Apesar das estratégias e das dezenas de tratores que amanheceram em filas, a postos para impedir a passagem do ex-presidente pela cidade [assista abaixo], os planos deram errado. Alguns deles estavam no trevo de entrada da cidade, mas a equipe de segurança de Lula foi informada de outro caminho, por uma estrada municipal que cruza assentamentos – lembrando que parte dos cordões de proteção à caravana são realizados por integrantes do MST.
 
 
Ainda assim, na entrada à praça XV de Novembro, no centro de São Borja, aonde fica o museu de Getúlio, alguns ruralistas com seus tratores e caminhonetes estavam esperando para receber o ex-presidente e seus apoiadores com confronto. Ao contrário do que ocorreu em Santa Maria, neste caso, a Polícia Militar foi alertada antecipadamente dos planos dos ruralistas, sendo obrigada a atual em proteção. Por isso, o tumulto foi evitado com a presença policial. 
 
“Eu resolvi passar aqui para prestar uma homenagem ao Getúlio, onde está o túmulo dele aqui, para prestar uma homenagem ao João Goulart e também para prestar uma homenagem ao Brizola”, disse o ex-presidente, em seu discurso na cidade, afirmando que não esperava a atuação de “fascistas” no berço destes líderes dos trabalhadores.
 
Confira como foi o discurso de Lula em São Borja, a terra de Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola:
 
 
Por isso, apesar dos receios e da violência, a Caravana seguiu seu trajeto normalmente, com o apoio do MST, dos aliados de Lula e da segurança pessoal do ex-presidente. Ainda quando a imprensa tradicional passou a divulgar que a programação do ex-presidente seria modificada, diante das reações dos ruralistas, a executiva nacional do PT emitiu comunicado negando a possibilidade e confirmando que as paradas previstas na Caravana seguiriam as mesmas. Confira, abaixo, o trajeto:
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. O detalhe interessante é que
    O detalhe interessante é que o agronegócio teve sua era de ouro justamente durante o governo Lula. Portanto a aversão desses neonazis ao Lula so se explica por pura cegueira ideológica e ódio de classe. É o uso do famoso argumento de que tudo que ganharam foi por mérito deles não do Lula.

    1. Só por este motivo você vê o

      Só por este motivo você vê o nível de burrice dessa gente.

      Eles não têm menos ódio do Lula do que tem daquilo que o Lula representa, ou seja, um país mais igual com melhores oportunidades para todos o que significa menos trabalhadores escravizados, mais pobres estudando em universidades, mais pessoas melhorando de vida e em consequência eles teriam de pagar melhores salários, etc etc

      A raiva contra tudo isto é descarregada na pessoa do Lula.

      Este pessoal bate todos os recordes de burrice imagináveis já que uma melhora geral das condições de vida da população do país se refletirá em uma melhora da situação de vida deles também.

      Conheço gente que mete o pau no Lula mas admitie que nunca ganhou tanto quanto no governo dele. Mas, esta pessoa também admite que OS EMPREGADOS dele também melhoraram de vida. Alguns compraram carro, moto e até casa.

      Agora diz que a crise é por causa da bonança do governo Lula que está cobrando a conta. É burro ou não?

      Para mim a raiva dele é o fato dos empregados dele também terem melhorado de vida. Esta raiva é direcionada para a pessoa do Lula.

    2. PRODUTORES RURAIS NÃO PAGAM SUAS DÍVIDAS

      É isso mesmo, André!

      Esses mesmos produtores são os que pegam dinheiro emprestado no Banco do Brasil, a juros subsidiados, produzem, vendem e não pagam o banco, diga-se, estatal. Securitizam a dívida todo o santo ano, empurrando com a expressiva barriga até que os deputados, representantes do agronegócio, conseguem uma anistia às dívidas, repassando o débito ao tesouro da união.

      Se os bancos privados financiassem a produção, falariam fino e pagariam suas dívidas de acordo com o contratado, para não perder suas propriedades.

      São eternos e debochados aproveitadores do sistema, cujo lema é – “o que é público é nosso, o que é privado é meu!”

       

  2. Caravana do Lula

    A direita gaúcha está mostrando o atraso, o retrocesso na democracia. O uso de violência na política é coisa de 200 anos atrás. O coronelismo do Rio Grande mostra sua cara – e os ignorantes aplaudem. Se Lula ganhar a eleição de outubro, que façam uma nova Revolução Farroupilha, e vão perder de novo…

  3. Será q leram o alerta da abquim
    Que parente desativou toda a cadeia de produção de fertilizantes só país?
    Impressionante a capacidade de eles darem tiro no próprio pé !

  4. Será q leram o alerta da abquim
    Que parente desativou toda a cadeia de produção de fertilizantes só país?
    Impressionante a capacidade de eles darem tiro no próprio pé !

  5. Se eles tivessem razão, não precisariam usar a força bruta

    Eles têm força, mas não têm razão.

    A violência é o último reduto dos covardes.

  6. As imagens dizem tudo. Nada a

    As imagens dizem tudo. Nada a acrescentar, a não ser externar a vergonha que sinto por ser conterâneo desse tipo de “gente”.

    Tenho vergonha de ver no que boa parte (para não dizer a maior parte) dos gaúchos se transformaram. E não adianta negar. Conheço muitos que apoiam e aplaudem esses nazistas de bombachas.

  7. O erro histórico: quando a

    O erro histórico: quando a televisão no país passou a ser em cores, e o Briza voltou ao país, trocou o lenço branco – sempre picapau, republicano, trabalhista – pelo lenço vermelho – sempre maragato, aristocrático (argh), monarquista, atrasadíssimo, liberal (nos lucros, não nas despesas), para ter maior impacto na tela. Agora, o Lula erra ao usar o lenço vermelho pelo RS, está, sim, homenageando o atraso-ruralista-de-merda. Alguém precisa avisá-lo.

  8. boicote ao vinho malgarim

    Sou grande apreciador de vinhos e acho que os vinhos do Brasil merecem uma melhor projeção. Mas essa marca de vinho desse tal de malgarim deve ser boicotada.

  9. boicote ao vinho malgarim

    Sou grande apreciador de vinhos e acho que os vinhos do Brasil merecem uma melhor projeção. Mas essa marca de vinho desse tal de malgarim deve ser boicotada.

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