Testemunhos da truculência policial em ato na Praça Roosevelt

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Um ato organizado por ativistas, na noite de ontem (1°), na Praça Roosevelt, centro de São Paulo, terminou em detenções e agressões policiais, com sucessivas manifestações truculentas.

O grupo, que decidiu não fazer uma passeata, mas uma plenária para apoiar a luta contra as prisões políticas, contou com a presença da psicanalista e escritora Maria Rita Kehl, do escritor Ricardo Lísias, do jurista Jorge Souto Maior, do fotojornalista André Liohn, da doutora em ciências sociais Esther Solano, do professor de filosofia Edson Teles, do padre Júlio Lancellotti, dos professores Pablo Ortellado e Luiz Renato Martins.

A intenção era promover um Debate Democrático pela Libertação dos Presos Políticos. Entre as discussões estavam a tentativa da PM de impedir passeatas por não haver “líderes” do grupo, mandado de busca e apreensão contra 57 ativistas, prisão e tortura de militantes dentro da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, demissão de 42 metroviários no direito de greve, e os temas relacionados.

Mas antes do início do debate, marcado para as 18 horas, forças militares já sitiavam o local. O coletivo Advogados Ativistas produziu um mapa do cerco promovido pelas polícias:

A partir de uma seleção de vários depoimentos, o resultado constatado na noite de ontem foi: sem justificativa, todos os participantes tiveram que se submeter à revista pessoal, apresentação de documentos e dados pessoais; soldados do choque estavam sem a devida identificação; policiais portavam filmadoras e intimavam os participantes à exposição de suas imagens; as abordagens ocorriam sem nenhuma justificativa prévia e agiam com truculência; apreensão de objetos, incluindo livros; casos de agressões, como do advogado Daniel Biral, que chegou a desmaiar depois de socos na cabeça, e de pelo menos outros 3 advogados; detenção de 6 ativistas, levados ao 78º Distrito Policial, também sem apresentação de motivos. Já na delegacia, os advogados presos não puderam fazer a identificação dos policiais que os prenderam e agrediram, nem registrar boletim de ocorrência por abuso de autoridade e lesão corporal.

Leia trechos dos relatos:

 Pablo Ortellado 

Participei hoje a noite do debate público pela liberação dos presos políticos que aconteceu na Praça Roosevelt. O debate não era uma passeata — havia uma mesa e oradores simplesmente falariam para um grupo cerca de mil pessoas sentadas no chão da praça. Apesar de ser apenas um debate, bem no meio da praça, a Polícia Militar enviou centenas de policiais da Choque e cavalaria, prendeu arbitrariamente e provocou o tempo todo os presentes. A sensação de todos nós é que a comparação com a ditadura não é mais metafórica. Simplesmente a liberdade de reunião e a liberdade de manifestação estão suspensas. Também como nos anos de chumbo, quem está dentro da ordem, apenas acompanhando e torcendo pelos jogos, nem percebe as graves violações pelas quais o país está passando. (http://on.fb.me/1ke1r5E)

 Ricardo Lisias

PM filma participantes do atoHavia uma quantidade impressionante de polícia cercando a praça: Tropa de Choque, Cavalaria etc. Ninguém chegava muito perto deles. De repente, um negócio me deixou pasmo: dois policiais sem identificação entraram no meio da manifestação e se colocaram na frente da mesa onde a gente iria falar! Um deles tinha uma câmera (bem obsoleta, parecia câmera de VHS) e ficava filmando o rosto das pessoas. 

Repito: dois policiais entraram no meio da manifestação para intimidar o pessoal. Foi a mais ou menos três metros de onde eu estava. Aí um grupo ficou tenso e começou a gritar. Os dois policiais continuaram enfiando a câmera na cara das pessoas em clara atitude de intimidação e na verdade ainda uma outra coisa: para causar um incidente. Bastava que um jovem caísse ali na frente dele e um policial escorregasse para que os cavalos viessem em cima da gente.

É isso que está acontecendo. Agradeço às pessoas que me convidaram: eu vi a três metros de mim que vocês estão apenas fazendo uma manifestação. É preciso deixar claro para toda a sociedade o que acontece: manifestações tranquilas até que a polícia consegue provocar algo: incrível, eles se colocaram em frente a uma mesa onde professores da USP, um juiz, eu e um cara do movimento gay iríamos falar.

Não podemos aceitar isso. A polícia serve para me proteger e não para tentar retirar a minha fala. Eu protesto: soltem os inocentes! (http://on.fb.me/1pUQYQf)

 Bruno Torturra

Cerco da PMMas antes da turma aparecer, a praça Roosevelt foi absolutamente cercada, incontáveis policiais do Choque, de armadura nova, pretorianos de Alckmin, em todas as entradas da praça, nas laterais, filmando e intimidando manifestantes no meio do ato absolutamente pacífico. Caminhões do Choque, Cavalaria, desde a Augusta até a Consolação.

Dois advogados presos, um deles foi desacordado.Gás lacrimogêneo jogado quando, de forma arbitrária, prenderam mais dois. Isso até eu sair…

Mais grave para mim é o silêncio, a omissão, a naturalidade com que minha geração trata esses episódios. Especialmente grave quando penso que estamos no meio da Copa do Mundo. Tragicamente grave quando leio que Alckmin tem 44% de intenções de voto. E penso que esse tipo de Estado de Exceção virou uma ostensiva plataforma eleitoral… (http://on.fb.me/1iXKxgD)

 Beatriz Seigner

Deprimente ver a polícia cercando um ato/debate em praça pública, revistando as bolsas das pessoas, filmando seus rosto a um palmo de distância destes, prendendo arbitrariamente e batendo na cabeça de advogados ativistas até desmaiarem e poderem ser levados em seus camburões, prendendo morador de rua só pra provocar as cerca de mil pessoas sentadas no chão, pacificamente, no ato em solidariedade aos presos políticos nas manifestações. Deprimente. Quem vai conseguir depois cortar as asas das policias quando a copa acabar? (http://on.fb.me/1qy0nkk)

 Julio Lancellotti

PM prendeu dois advogados ativistas que questionavam falta de identificação dos policiais. Foto: Mídia NINJA

Voltei agora da manifestação pela libertação do Fábio e do Rafael , mais presos, violência, bombas de gás, balas de borracha, intimidação. Inacreditável o que vimos e vivemos hoje em S.Paulo.
Agredidos dois advogados ativistas e mais 8 manifestantes foram detidos e levados para o 78 DP.
Na dispersão fomos intimidados até a estação do metro pela Topa de choque e outro grupo nos aguardava dentro do metro.
Intimidação e cerceamento da liberdade , coação e tratamento vexatório.
(http://on.fb.me/1mky737)

 Claudinei Vieira

PM apreende livroSeis pessoas presas, algumas espancadas até à inconsciência, revista insultuosa de mochilas e pessoas, falta de identificação de qualquer policial, filmagem agressiva dos manifestantes, sem nenhuma provocação, sem nenhum tumulto, sem nenhum motivo. E, mesmo assim, houve as prisões, houve o cerceamento, houve a tortura psicológica, houve as pancadas, e houve explosão de bomba de gás. Se tudo não degenerou para a porradaria ainda pior costumeira, foi pela organização do evento que conseguiu acalmar e equilibrar a indignação dos presentes para não cairem na provocação dos policiais e poderem continuar as discussões.

Quem puder não ver, não veja; quem puder não ouvir, não ouça. Mas entenda, nada disso acaba aqui. Entenda, o pior sequer começou. Só está se instalando. Ou melhor dizendo, só está assumindo que já instalado. (http://on.fb.me/TORYLd)

 Pablo Ortellado

Quem está calado, não pense que essa viva experiência do estado de exceção vai deixar nossa frágil democracia incólume. O que estamos vivendo para que o espetáculo da Copa ocorra “sem transtornos” é um terrível precedente no qual, por meio de acordo aberto ou velado, nossas instituições autorizaram a suspensão dos fundamentos mais básicos da democracia: a liberdade de reunião, a liberdade de organização e a liberdade de expressão. (http://on.fb.me/1pJnuJk)

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

18 Comentários

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  1.  Quando quebram tudo a culpa

     

    Quando quebram tudo a culpa é da PM que não foi “preventiva”.

    Quando prendem, a PM é “truculenta”.

    O fato é que houve ação da PM e não houve quebra quebra!

    A última manifestação do PL foi um exemplo do deixa com os movimentos que a gente controla e o resultado foi de depredações de concesssionárias e bancos.

    Responsáveis? Os líderes não tem nada com isso!

    A destruição nunca é responsabilidader de ninguém, a não ser da polícia!

    Raciocínio tosco que leva à desordem.

    Os petistas, quando é contra o partido, defendem a “truculência” e, quando vêem chance de atacar politicamente o outro lado do balcão, defendem os “movimentos sociais”.

    Esse negócio de julgar a partir da posição política é a característica mais marcante do petismo.

    Sarney, Maluf e Collor contra Eduardo Campos, o traíra. Uma metamorfose ambulante descontrolada!

    1. Que vontade de soltar um palavrão

      A diferença, seu imbecil, é que ninguém que estava na praça não fez nada.

      Estavam lá exercendo seu direito de manifestação. Foram provocados o tempo todo pela polícia, e pelo que vi, não reagiram com violência.

      Só quem saiu destruindo foi a polícia, que só se mete com quem não quer violência. Vide a inação deles com relação àqueles que realemente vêm promovendo a violência nos protestos há um ano, no varejo, e com o PCC em geral, no atacado.

  2. Ora, ora, que bobagem

    “A partir de uma seleção de vários depoimentos, o resultado constatado na noite de ontem foi: sem justificativa, todos os participantes tiveram que se submeter à revista pessoal, apresentação de documentos e dados pessoais (…) policiais portavam filmadoras e intimavam os participantes à exposição de suas imagens;”…

    Vá viajar, apresente os documentos, e fique nu quando passa “radiografia”.

    Vá em uma Arena, mesmo fora da Copa, e seja revistado até em suas partes íntimas.

    Vá a um shopping e se veja o tempo todo filmado.

    Entre num elevador e dê bye bye  para as câmeras logo acima de você.

    Estamos sendo violentados nos quatro cantos.

    O modelo faliu.

  3. Manifestação é caso de polícia?

    … e novamente se manifesta a tolerância dos governistas com a PM diante de atos discricionários, compatíveis àqueles praticados pela ditadura.

    É preciso separar o joio do trigo: o direito à manifestação é garantido, e a manifestação na Roosevelt sob a presença de batalhões de choque não justificava o aparato, pois não se colocava a possibilidade de desdobramento violento por parte dos manifestantes. O que cabia ali era o acompanhamento da PM sem aparato para eventual controle de algum desajuste provocado por algum black block da vez, que geralmente de infiltra onde não é chamado nem bem vindo.

    Mas temos que parar com isso de tratar manifestação pública como caso de polícia.

    1. “Governistas” estaduais, dado

      “Governistas” estaduais, dado que a PM é estadual, como o senhor sabe, né? Quando se fala em “governo” e “governista” é bom não enganar os outros.

  4. Manifestações

    Que seja verdade a truculência e mais que válido os proestos.  Gostaria que a Patrícia (é teu o comentário pois não?) mostrasse nos faces dos depoentes-pesquise- manifestações semelhantes quanto ao vandalismo ocorrido em algumas manifestações mais que conhecidas. Sei que são situações distintas, mas é só para saber se ao menos se manifestaram (contra ou a favor).

  5. Após a Copa, intervenção em SP

    Sempre digo aos amigos, eu não poderia ser político.. SP se tornou um antro de golpistas de toda ordem..

    Sei que o que eu faria talvez não fosse a melhor ideia, mas não suporto ver o golpismo imperando…

     

    Os que protestam precisam ver que é um game montado pra desestabilizar o governo federal e estão dando munição a provocação aberta qe pode inclusive desembocar numa guerra civil. SP pŕecisa ser detido, o Brasil é maior que SP.

     

  6. Estive presente, os policiais

    Estive presente, os policiais pareciam nervosos ( como sempre..) mas

    tambem surpresos . Creio que esperavam  digamos..outra coisa.

  7. Em ano eleitoral e agora a

    Em ano eleitoral e agora a policia de SP  mostra “serviço” para o eleitor conservador do Alckmin ? Como disseram acima, com a bandidagem real do PCC, Alckmin não se mete a besta. 

    1. O que se quer é presevar a

      O que se quer é presevar a ordem ao  máximo para não macular a bela festa da Dilma para elite branca curtir em paz

      1. É isso, se não fosse FHC  ter

        É isso, se não fosse FHC  ter  idealizado essa copa la atras certamente

        hoje  ela seria um fiasco! E pensar que ele mesmo diz ter um “pé na cozinha”

        logo não é da elite branca.

        Pum!

        Quem?

  8. Bela matéria.
    Aguardo o

    Bela matéria.

    Aguardo o Ministro da Justiça vir à público, pois para referender o uso de aparato repressivo e policial contra manfestações ele vem á público. Ou será se ele é na verdade Mnistro da Polícia?

    E  Gimar Mendes então, esse mesmo que nao riá abrir o bico sobre Estado Policial.

    A luta de classes está escancarada, e o lugar de cada um no tabuleiro está bastante nítido.

  9. Tavam esperando o que?
    Depois

    Tavam esperando o que?

    Depois daquele acordo que o MPL ofereceram para a PM e depois deixaram os blac block deixarem um prejuizo tanto para o logista como para a imagem da PM como omissa,   

     

     

  10. Calma, quem está cercado é o alckmin

    Mantenham a calma.

    Quem está cercado é o Alckmin e ele sabe disso.

    É desespero e ele está tentando romper o cerco criando outro.

    Mas não tem saída.

    Ele quase perdeu a eleição passada quando tinha mais apoio e menos problemas.

    Dessa vez não passará.

  11. Adianta reclamar?

    Essa é minha pergunta: adianta reclamar que a polícia tucana é assim, fala grosso com um monte de garotos e fala fino com quem realmente tem bala na agulha, como um PCC da vida?

    Depois o policial diz que ganha mal e parte pra porrada em cima de um mendigo, pois não vai fazer isso com quem tanto admira, ou seja, o seu superior hierárquico.

    A psique destes policiais toscos não se resolve. Melhor obedecer e descer o cacete. É simples, não precisa pensar.

    Mas também não adianta dar carteirada de advogado. Quando sofrer violência, tem que denunciar e continuar a luta. Que sejam mudadas as estratégias. Mas comer um pouco melhor, dormir direito, levantar uns ferros e aprender autodefesa ajudam um bocado. Ler ajuda bastante. Nem sempre dá pra se fiar nos pensamentos do grupo, que reiteram vícios.

    Na minha época, de ditadura, tempos tão duros quanto os de hoje, a gente se reunia na igreja.

    As minhas sugestões são ruins, delirantes? Ótimo. Posso até pensar a respeito. Mas qual é a solução que vocês propõem?

  12. Aos que concordam tudo aos que discordam menos que a lei

    Está me dando calafrios entrar nesse blog que já frequentei diariamente como fonte de informação e, por que não, fé na humanidade. Parece que por aqui o vejo-governismo dominou geral, a porrada, prisão arbitrária e a intimidação de manifestantes é vista como legítima, caso seja contra a “extrema esquerda que faz o jogo da direita”, e o fato da constituição ter ido parar nas cucuias só importa se quem tem os direitos constitucionais violados for da cúpula do PT. Aqui em BH ontem 13 ocupações urbanas em luta pela moradia ocuparam orgãos municipais, foram cercados pela PM em clima de ninguém entra e ninguém sai, que inclui a proibição da entrada de alimentos para grupos de pessoas que incluem crianças e gestantes. Quando alguns militantes  tentaram levar comida para o pessoal das ocupações foram atacados pela polícia, resultando em uma militante de braço quebrado e outro detido pelo crime de arremessar um saco com pães para o pessoal que estava dentro da ocupação https://www.youtube.com/watch?v=WXpfHkmabew&feature=youtu.be  A última informação é a seguinte:

    “A Policia Militar do Estado de Minas Gerais proibiu no fim desta manhã do dia 03/07/14 a entrada de alimentos na ocupação do prédio da AGE, por ordem do Coronel Machado da PM, a última vez que se permitiu a entrada de alimento, foi hoje pela manhã, sendo que o café não foi liberado, existem crianças dentro da ocupação, e a PM já disse que o almoço também não vai poder entrar!
    Estamos chamando a todos e todas para irem para a porta da AGE e ajudar a pressionar a entrada de comida para os moradores das ocupações urbanas que ocupam este prédio!”

    Antes disso já vários casos como a prisão arbitrária e espancamento da reporter ninja Karinny de 19anos http://www.ocafezinho.com/2014/06/13/reporter-ninja-espacanda-e-presa-pela-policia-mineira/ e do cerceamento ao direito de manifestação http://tarifazerobh.org/wordpress/uma-democracia-dentro-do-cerco-da-policia/

    Mas aqui no mundinho maravilhoso do portal Luís Nassif tudo é black block logo “extrema esquerda que faz o jogo da direita” logo dane-se a constituição. Não tenho paciência para ser troll e por isso vou me retirar para sempre do que imaginava ser um espaço de maior abertura em termos de informação. Comecei a frenquentar o site em 2010, como uma forma de me refugiar da cobertura da grande imprensa da eleição daquele ano. Vibrei com a demonstração da farsa da bolinha de papel. Me emocionei com uma mãe do blog dialogando com o Gunter Zibell sobre como revelar ao filho que sabia que ele era gay. E agora entro aqui para me sentir lendo os comentários da revista Veja, o mesmo descaso com o sofrimento e os direitos dos que discordam ou são diferentes. Para mim acabou. Tchau

     

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