“Indivíduos prósperos” são os manifestantes do impeachment, diz The Economist

Jornal GGN – Reportagem do The Economist, traduzida e publicada no Estado de S. Paulo, intitula o cenário de manifestações a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff como “Tea Party Tropical”, fazendo referência aos americanos republicanos que lutam por um governo mínimo. O jornal descreve que “os manifestantes brasileiros simpatizam com os partidos de oposição e esperam poder influenciá-los”, além de não serem de esquerda. 

Outro destaque do texto do Economist é que traça o perfil do público que esteve nos atos: “três quartos dos manifestantes têm renda mensal de pelo menos cinco salários mínimos, coisa que, para os padrões brasileiros, faz deles indivíduos prósperos”. 
 

Do Estado de S. Paulo, por The Economist

Tea Party tropical quer derrubar Dilma

Qualquer que seja o parâmetro, a conclusão é inevitável: os atos anti-Dilma e contra a corrupção realizados em 12 de abril foram enormes. Aproximadamente 660 mil pessoas saíram às ruas em 152 cidades. Um mês atrás, porém, foram cerca de 2 milhões. A redução no número de manifestantes deve esfriar um pouco o entusiasmo de um movimento que sonha em derrubar a presidente com gigantescas demonstrações de insatisfação popular. Os organizadores terão de mudar de estratégia e afinar sua mensagem confusa.

Mas o descontentamento não refluiu, e o movimento não vai desaparecer. Segundo o Instituto Datafolha, três quartos dos brasileiros apoiam as manifestações. Dois terços são favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff por causa do escândalo de corrupção envolvendo a Petrobrás. Membros do PT e de outros partidos da coalização governamental estão sob investigação, embora a presidente não tenha sido implicada. Dos 40% de aprovação que tinha a presidente em janeiro, no início de seu segundo mandato, a popularidade de Dilma caiu para 13%. Mesmo no Nordeste do País, onde se concentram os redutos eleitorais petistas, a maioria está insatisfeita com o governo.

Comparação. O movimento anti-Dilma se assemelha aos protestos ocorridos na Europa e nos Estados Unidos, mas com grandes diferenças. Ao contrário do Syriza, na Grécia, e do Podemos, na Espanha, os organizadores das manifestações brasileiras não são de esquerda e não pertencem a um partido político. Há quem os compare aos americanos do Tea Party, que, de dentro do Partido Republicano, luta por um governo mínimo. Essa última comparação é mais apropriada. Os manifestantes brasileiros simpatizam com os partidos de oposição do País e esperam poder influenciá-los. Renan Hass, do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos principais organizadores das manifestações, quer que o PSDB seja “mais macho”. Mas, diferentemente do Tea Party americano, o movimento ainda é muito recente e fragmentado para ter voz no Congresso. Os protestos de rua foram convocados por dezenas de pequenas organizações.

Aos olhos dos simpatizantes do governo Dilma, os manifestantes representam uma elite privilegiada, alguns dos quais se mostram inclusive dispostos a atingir seu objetivo por meio de um golpe militar. A primeira alegação é, em parte, verdadeira; a segunda só se aplica a uma minoria lunática. Levantamentos indicam que três quartos dos manifestantes têm renda mensal de pelo menos cinco salários mínimos, coisa que, para os padrões brasileiros, faz deles indivíduos prósperos.

Mas o professor Carlos Melo, do Insper, diz que ao colocar a questão em termos de um conflito “nós contra eles”, o PT se esquece de que o lado “deles” hoje é muito maior, graças ao crescimento econômico observado até pouco tempo atrás e às políticas destinadas a reduzir a pobreza. Até mesmo pessoas de renda relativamente baixa se consideram de classe média.

Isso as tornam receptivas à mensagem que pode ser lida nas entrelinhas dos slogans anticorrupção: um Estado gigante precisa ser mantido sob vigilância. Muitos dos que aderiram ao MBL se identificam claramente com o laissez-faire extremista do Tea Party e chamam o PT de “comunista”. E mesmo grupos menos radicais, como o Vem Pra Rua, o maior dentre os organizadores das manifestações, argumentam que a carga tributária brasileira, que chega a 36% do PIB, é muito alta, e a burocracia do governo federal, com 39 ministérios, grande demais. Um congressista do PT acusa o movimento de ser financiado pela CIA.

O fato, porém, é que eles não precisam desse tipo de dinheiro. O serviço de mensagens WhatsApp serve de escritório para os 2,5 mil ativistas do Vem Pra Rua. Nas manifestações de março, o grupo diz ter gastado menos de R$ 20 mil com a impressão de cartazes e o aluguel de um caminhão de som. Alguns grupos juntam dinheiro vendendo itens com palavras de protesto. Uma camiseta “Fora PT!” custa R$ 40 no site do MBL. Designers gráficos, publicitários e advogados contribuem com trabalho voluntário. Entre suas atividades, está a divulgação de mensagens no Facebook, atualmente usado por dois quintos da população brasileira.

Descartada. Sem a perspectiva de atrair mais gente para as ruas, os grupos precisam encontrar outras maneiras de pressionar o governo. Em 15 de abril, cerca de 40 representantes do movimento foram até Brasília com uma lista de exigências, incluindo penas mais elevadas para o crime de corrupção, um sistema eleitoral distrital nos moldes do adotado por Grã-Bretanha e Estados Unidos (para reduzir os gastos com as campanhas eleitorais) e o fim da reeleição para presidente e governadores. Significativamente, a lista foi divulgada no Congresso, não no Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff delegou a condução da economia ao ministro da Fazenda Joaquim Levy e as articulações políticas ao vice-presidente Michel Temer. Embora ainda exijam sua saída, os manifestantes começam a agir como se ela já fosse carta fora do baralho.

© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

Redação

17 Comentários

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  1. Não vai dar no JN e portanto

    Não vai dar no JN e portanto não vai sair no pool midiatico que só atua em rede para mostrar qualquer noticia que seja negativa pro governo

  2. Trampo fácil

    Leio no uol que 350 mil sonegadores deram um calote de 6,7 bilhões na Receita esse ano. Truques, falcatruas e xavecos de toda ordem foram usados..

    Como prender essa quadrilha gigantesca?

    Fácil: na próxima passeata dominical pró Golpe de Estado, na Avenida Paulista, devem estar por lá uns noventa por cento desses sonegadores berrando contra a “corrupção no governo”. Só encostar os camburões e ir “jogando os moleque pra dentro, tá ligado?”

  3. Quase ao mesmo tempo um na

    Quase ao mesmo tempo um na BBC sai uma reportagem sobre o quanto a evasão fiscal tira dos cofres públicos e como isso afeta a vida dos brasileiros muito mais do que a carga tributaria de 36% bem menor que em muitos países europeus. O estado “minimo” que eles defendem é na verdade um estado EXCLUSIVO dedicado apenas aos interesses de uma parcela muito pequena da população que acredita está onde está graças a apenas à seu esforço enquanto o resto é pobre porque é preguiçoso. Além do mais quanto mais gente pobre e de baixa renda o “Estado Minimo” gerar mais mão de obra barata vai existir para a classe média poder se sentir uma elite!

  4. Se acham elite.

    Aqui em Curitiba a maior parte dos manifestantes pró impeachment de Dilma, são de classe média alta, muitas mulheres idosas e empresários(honestíssimos).

  5. É compreensível

    É compreensível que os manifestantes anti-Dilma sejam indivíduos de um nível sócio-econômico mais alto, pois são esses indivíduos que pagam impostos diretos, e portanto, são esses indivíduos que se sentem pessoalmente lesados pela corrupção. A maioria dos brasileiros não paga imposto direto, seja por viver na informalidade, seja por ter rendimentos inferiores à alíquota mínima (pagam os impostos indiretos embutidos no preço das mercadorias, é verdade, mas esses não têm valor didático porque não são sentidos) então não se sente pessoalmente lesada pela corrupção. Não saiu do bolso deles.

    Pode-se afirmar que esses indivíduos prósperos que participaram do ato são uma minoria na sociedade. Mas não são uma minoria qualquer: eles são a vanguarda da nação em termos de conhecimentos e consciência. São eles os primeiros a ver no horizonte o iceberg, e se houver o choque, todos naufragarão. É um enorme contrassenso afirmar que a classe pobre deve ter a classe média como antagonista – isso só faria sentido se ambas não pertencessem à mesma sociedade. Mas o objetivo da classe pobre sempre foi ascender à classe média. Então, se esse cidadão pobre dá apoio a políticas que sacrificam a classe média, estará dando um tiro no próprio pé, matando seu futuro.

    Há momentos em que sonegar impostos pode ser uma prova de grande patriotismo. Foi assim no tempo da tea Party de Boston, está sendo assim agora no Brasil.

    1. “…eles são a vanguarda da

      “…eles são a vanguarda da nação em termos de conhecimentos e consciência. São eles os primeiros a ver no horizonte o iceberg, e se houver o choque, todos naufragarão”.

      Se o país dependesse dessa gentalha que só compra importados, sonega tributos e trata o país como se fosse uma merda, já estaríamos no fundo do mar.

      Quanto mais pobre, maior o esforço tributário. Para o seu próprio bem, pare de acreditar nas asneiras que ouve por aí, meu caro.
      Pena que o povão não sabe disso. São levados a acreditar que só os granfinos (acima dos R$5.000,00 já está valendo) pagam tributos. Pelo contrário, estes além de fazer um menor esforço tributário muitas vezes ainda sonegam.

      Ainda quer justificar a sonegação por causa da corrupção. A sonegação corresponde a cerca de 8x os desvios de corrupção (PGFN).
      Auto-defesa? Não, assalto aos cofres públicos e ao consumidor.
      O sonegador é o pior ladrão que existe, rouba duas vezes: do consumidor que paga pelo que não existe e o governo que não recebe o que lhe é devido.
       

    2. Por acaso conhece o

      Por acaso conhece o “Sonegômetro”? Sabe que o país tem a quarta posição no “ranking” de valores nas contas em paraísos fiscais? São os petistas que estão nessa?

    3. Lesados só no sentido nordestino da palavra

         Quem mais depende dos serviços públicos são os maiores prejudicados, não os lesos que reclamam de barriga cheia

  6. Esta tal pesquisa, onde e em que momento foi feita

    Olha, a tal pesquisa da datafolha foi executada onde? Em que momento? Fizeram perguntas aos que estavam no footing dominical? Qual o critério? Po, vai na torcida do Vasco perguntar o que eles acham do Flamengo?

    Afirmam: “..Mesmo no Nordeste do País, onde se concentram os redutos eleitorais petistas, a maioria está insatisfeita com o governo”. Tá, cade esta maioria? Cade as métricas? Por que as fotos do footing do último domingo só retratam a tal av paulista (tamanho do sambódromo carioca) e a Atlantica na ZS RJ.

    Vejam a importância do PT e como mudou o pais: Quando vcs viram o Brasil despertar tanto interesse no exterior. Até pouco era tratado como uma republiqueta de infinitesima importância.

    Olha, outra coisa: Tenho certeza que o PT ganha qq eleição, principalmente se o Lula entrar. Se o AI5PR cair na asneira prender o Lula será melhor ainda, povão adora mártir e ele vai de seus confortáveis 50% de aprovação para 60% fácil. 

     

  7. País das Maravilhas

    E conseguiram melhorar de vida só porque foram atrás. Como se o Brasil fosse o país das Maravilhas. É pra acabar.

    O Aécio louco só está tirando a bundinha da cadeira porque chamaram ele de Cagão pra baixo no twitter.

    Sobre esse jornal The alguma coisa é suspeito, não é de hoje. Não sitaram os movimentos socias, falaram como se só os aloprados usassem o Facebook e redes em geral. Dizer que são poucos os que pediram intervenção Militar é brincar com a inteligência de muitos.

    Outro ponto quem traduzio foi o Estadão então fiquemos com a pulga atrás da orelha. Outra coisa 3 Milhões só pra eles que são informados por essa imprensa partidária e polícia do Psdb de São Paulo.

    Por que não deixam claro que a melhora de fato se deu de 12 anos para cá? E que é agora que de fato está se apurando a corrupção? Que não tem mais Engavetador da República como na época do senhor FHC? 

    O resto como dizia Nelson Rodrigues é Luar de Paquetá. A também o medo fervoroso porque sabem que em 2018 Lula provavelmente retornará e com boas chances de vitória, pois, se com tanta artilharia pesada uma pesquisa indicou empate técnico enre ele e o mocinho da direita, imagine com espaço para falar e mostrar os fatos , fora o enorme talento da Oratória e de liderança que Deus lhe deu. Assim as pessoas irão poder novamente puxar pela memória e comparar o antes com o depois e ver que um retrocesso não cabe mais.

  8. interpretações

    “Há momentos em que sonegar impostos pode ser uma prova de grande patriotismo. Foi assim no tempo da tea Party de Boston, está sendo assim agora no Brasil.”

    Sei; corruptos são sempre os outros

     

  9.  Ao contrário do Syriza, na

     Ao contrário do Syriza, na Grécia, e do Podemos, na Espanha, os organizadores das manifestações brasileiras não são de esquerda e não pertencem a um partido político

     AI É  QUE  A  ECONOMIST  CAGOU FORA DO PINICO,  ELES  PERTECEM SIM   AO PARTIDO DA  DIREITA, e  sao financiados pelo  PSDB,  E EMPRESARIOS  ESTRANGEIROS.  So  dito pela  revista  é para se jogar no lixo  a revisteca

  10. Independente…

    … do que a revista tenha escrito (sabemos que os paneleiros não são pés-rapados), “The Economist” não é séria…

  11. “…12 de abril foram

    “…12 de abril foram enormes…” somente para os padrões da Inglaterra, que tem mais ou menos 50 milhões de habitantes. O Brasil tem 4 vezes isto. Cá 600 mil pessoas não representam mais de 10% da população como na Inglaterra. O jornóialismo inglês não conseguiu avaliar corretamente o que ocorre em nosso país. No 1o. de maio a esquerda colocará muito mais que 600 mil pessoas nas ruas. 

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