Manuel Castells analisa manifestações em São Paulo

Jornal GGN – No momento em que o sociólogo espanhol Manuel Castells dava  uma palestra, no Teatro Geo no Complexo Ohtake Cultural, em Pinheiros sobre seu novo livro, na terça-feira (11), primeiro dia dos protestos contra o reajuste nas tarifas, a Avenida Paulista era palco de tensão entre a Polícia Militar e os manifestantes contra o aumento da tarifa de ônibus.

Ao ser indagado pela plateia sobre a situação na cidade, o sociólogo explicou que esse movimento, bem como os movimentos sociais da história, são, principalmente emocionais e não pontualmente indicativos. Ele aponta que em São Paulo, as manifestações não são por causa da alta no transporte. “Há um fato que traz à tona uma indignação maior e, por isso, meu livro se chama Redes de indignação e esperança”, diz.

O sociólogo apontou que, quando a população acredita que compartilha o mesmo sentimento, é que surge a esperança de fazer algo diferente. “Fundamentalmente, os cidadãos do mundo não se sentem representados pelas instituições democráticas”, disse. Castells disse que os cidadãos são contra a parcela que se diz democrática, que se apropria da representação e, em nenhum momento presta contas. Pelo contrário, justifica suas decisões como sendo “interesse do Estado” e da classe política. Não há respeito pelo cidadão e esse é o sentimento que prevalece.

Mundo real x mundo virtual

O sociólogo comenta, ainda, que quando há um pretexto para unir uma reação coletiva, todos se concentram e, então, surgem todos os motivos. “Quando falo de espaço público, me refiro ao físico, urbano, e, também, o online: o ciberespaço”. Ele explica que, no entanto, o espaço físico é muito importante, porque a capacidade da população de se unir é negada constantemente. “Há uma destituição sistemática do espaço público da cidade, que está sendo convertido em espaço comercial. Shopping centers não são espaços públicos, são espaços privados organizando a interação das pessoas em direção a funções comerciais e de consumo. Os cidadãos resistem a isso”, comenta.

Na palestra, ele cita as manifestações em Istambul, que acontece há meses. A população protesta contra a destruição do último parque no centro histórico da cidade, onde será construído um shopping. “Eles protestam pela negação de um direito básico, de se reunir e ocupar um espaço, sem ter que pagar, consumir ou pedir permissão às autoridades”, analisou.

Embora não tenha se comprometido a opinar diretamente sobre São Paulo, o sociólogo disse que há características de manifestações para fazer com que as autoridades reconheçam que a cidade é dos cidadãos. “E este é o elemento fundamental em todas as manifestações que eu observei no mundo”, analisa.

Castells apontou que a mudança é que, atualmente, os cidadãos têm um instrumento próprio de informação, auto-organização e automobilização que não existia. “Antes, se estavam descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir diretamente para uma manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo negociavam em nome das pessoas”, observa. Entretanto, o sociólogo relata que a capacidade de auto-organização, hoje, é espontânea. “Isso é novo, e isso são as redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a novidade. Sem depender das organizações, a sociedade tem a capacidade de se organizar, debater e intervir no espaço público”, finaliza.

 

Redação

1 Comentário

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  1. Isso mesmo, agora descobrimos

    Isso mesmo, agora descobrimos uma forma de pressionar sem sermos manipulados por “representantes” que, na verdade, não passam de carreiristas que querem fazer a vida às nossas custas. E isso não vai parar, pois o povo percebeu que pode pressionar sem esses movimentos idiotas.

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