Um paralelo entre as manifestações de 1960 e os movimentos atuais, por Assis Ribeiro

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

A procura do “novo”

Por Assis Ribeiro

As sociedades experimentam padrões de vida em deterioração, crescente insegurança social e pessoal e decadência dos serviços públicos enquanto as minorias abastadas prosperam cada vez mais.

As tentativas das populações em exercer influência nas decisões e no destino das suas cidades parecem não serem mais atendidas pela instituição do voto já que  mudanças de governos e parlamentos ocorridas pelo mundo em várias eleições não foram suficientes para que surgisse uma nova política que atendesse de forma mais ampla aos anseios dos governados.

A resposta subjetiva a estas condições tem sido as revoltas esporádicas que podem ganhar uma musculatura incontrolável pela fraqueza e lentidão das respostas dadas pelos governos. Em outras palavras, as condições objetivas não têm sido acompanhadas pelo crescimento das forças subjetivas capazes de transformar o Estado ou a sociedade.

Daí a procura incessante pelo “novo” sem nos darmos conta que transformações estão em pleno andamento no continente sul-americano com as políticas progressistas, de melhorias sociais e de inclusão, com mais empregos, apontados por estudiosos estrangeiros como o que de melhor está sendo feito no mundo atual.

Nos últimos anos uma série de movimentos de ruas iniciou o que pode se tornar algo próximo dos acontecimentos da década de 1960.

O Movimento 15M na Espanha desencadeou uma série de protestos espontâneos de cidadãos inicialmente organizados pelas redes sociais e se inicia em 15 de maio de 2011. Trata-se de uma série de protestos pacíficos que reivindicam uma mudança na política e na sociedade espanhola, com a bandeira de que os partidos políticos não os representam nem tomam medidas que os beneficiem. São reivindicações políticas, econômicas e sociais heterogêneas, reflexo do desejo de seus participantes de mudanças profundas no modelo democrático e econômico vigente.

Occupy Wall Street,  Movimento de protesto contra a desigualdade econômica e social, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas – sobretudo do setor financeiro – no governo dos Estados Unidos. Iniciado em 17 de setembro de 2011, no distrito financeiro de Manhattan, na cidade de Nova York. Posteriormente surgiram outros movimentos Occupy por todo o mundo.

Primavera Árabe.  As redes sociais desempenharam um papel considerável nas manifestações dos países árabes. A propagação do movimento conhecido como Primavera Árabe começa em 2010 na Tunísia quando um jovem tunisiano, Mohamed Bouazizi, ateou fogo ao próprio corpo como forma de manifestação contra as condições de vida no seu país e se estende para todo o Norte da África e Oriente Médio. O termo é uma alusão à Primavera de Praga.

No Brasil o movimento de junho de 2013, convocado igualmente pelas redes sociais, desencadeia uma série de manifestações questionando melhorias das condições de vida da população.

Todas essas manifestações tiveram em comum a aversão à classe política e a decepção do “sonho prometido” que não consegue mais empolgar a juventude e são ampliadas pelo autoritarismo e violência das instituições de “controle”.

Movimentos das populações negras também surgem nos EUA após o “incidente” de Ferguson quando Michael Brown, um jovem negro, foi assassinado por Darren Wilson, um policial branco.  Esse acontecimento provocou o crescimento das manifestações e tornou-se símbolo da violência contra negros nos Estados Unidos.

Os problemas da intolerância contra os LGBT têm desencadeado uma série de protestos por parte das populações mundiais.

A intolerância aos imigrantes segue esse mesmo rastro.

A proliferação de igrejas é outra semelhança com os movimentos da década de 60 onde se procurava alternativas espirituais para um mundo melhor.

Se há semelhanças com o que ocorreu na década de 60, as dessemelhança são muito maiores.

1 – O fato é que os governos se utilizaram, após a década de 1960, de instrumentos de distorção que visaram eliminar todos os argumentos fora dos parâmetros para que se mantenha o “status quo” da cultura neoliberal e da globalização. Uma verdadeira ação de tentativa de aculturação das populações e despolitização da sociedade.

2 – Na atualidade o que se pretende é que o poder político da população se resuma ao momento do voto, às eleições. É como se fazer política fosse somente votar, e qualquer descompasso que não seja eleitoral tem que ser suprimido.

3 – Outra forma utilizada para conter alternativas foi o cientificismo empregado na política, como um fenômeno mundial, onde cada vez mais a política gira em torno da gestão.  A ideia é um pouco essa: ao invés de atacar os problemas, nós vamos gerir os problemas.

4 – Mais grave ainda é a conotação dada pelo sistema que tem conseguido transformar toda auto-organização da sociedade na ideia de quadrilha, ou a retórica da chamada bolivarização para qualquer iniciativa que pretenda incluir a população nas deliberações e decisões sobre o destino do país.

Se os itens acima enfraqueceram os instrumentos de mudança na sociedade, trazem como efeito colateral a despolitização dos governos e a falta de pensamento, tanto que é uma constatação mundial a busca por estrategistas, sejam líderes políticos ou grandes escritores e compositores que sirvam de horizonte e apontem novos caminhos.

Diferentemente das décadas próximas à 1960 hoje não se vislumbra líderes como John F. Kennedy, Leonid Brejnev, Charles de Gaulle, Ho Chi Minh, Getúlio Vargas, nem ativistas da estrutura de Nelson Mandela, Che Guevara, Martin Luther King, pensadores como Darcy Ribeiro e Paulo Freire, escritores da envergadura de Jack Kerouac que conseguiu sintetizar a insatisfação e reivindicação de melhorias, Alan Ginsburg, Carlos Castañeda, Luiz Carlos Maciel, músicos que revolucionaram os costumes como Hendrix, Bob Dylan, Joan Baez e os brasileiros do “tropicalismo”,  cineastas com o conteúdo de Luis Buñuel, Pasolini, Antonioni, Fellini, Glauber Rocha e o teatro com José Celso Martinez.

Sim, o mundo volta a buscar melhorias culturais e comportamental. Continuamos sequiosos por mais liberdade e cada vez mais surgem grupos que passam a contestar a ordem social e mundial em múltiplos aspectos, como a sexualidade, os costumes, a moral, o consumismo, as novas guerras, a representatividade e a melhoria dos serviços públicos.

Os riscos não são mais os mesmos dos movimentos da década de 60. São mais graves.

A manipulação do sistema com o uso da mídia provoca a apropriação da linguagem das ruas e canalizam tais descontentamentos para a criminalização da política.

Esse é o maior risco que é aumentado pelo outro instrumento utilizado para manter as formas de controle; a violência da repressão dos movimentos que ao invés de procurar solucionar os problemas colocam a sociedade em um estado de exceção permanente com a utilização da ideologia da direita de que o dispositivo da segurança pública é o esvaziamento da política.

Pode ocorrer, tal como na década de 60, uma reação ao sistema em duas fases distintas. A primeira marcada por um sabor de inocência e até de lirismo nas manifestações socioculturais e no âmbito da política com o evidente idealismo juvenil e o entusiasmo no espírito de luta do povo. E a segunda fase com um tom mais ácido, com a perda da inocência e a exacerbação dos protestos contra o endurecimento dos governos, com a radicalização dos movimentos que podem protestar por protestar, sem nenhuma ideologia específica, o que provocará um caos nas relações sociais e de poder.

Para que as transformações que estão ocorrendo no Brasil se tornem claras e percebidas é preciso que o governo:

1) Estabeleça o contato diário com a população;

2) Torne claro a sua ideologia;

3) Explique as políticas implantadas;

4) Mesmo convergindo com a sua base disforme e antagônica, estabeleça o seu lado político;

5) Aponte com clareza os novos rumos;

6) Que a presidenta, o  Ministro  da Casa Civil, o chefe das relações institucionais e todos os demais Ministros façam política e deixem a gestão para os funcionários dos ministérios;

7) Dê atenção as novas formas de comunicação e aos novos grupos de formação de opinião;

8) Se antecipe aos movimentos “macartistas” da grande imprensa.

Só dessa forma o governo bloqueará a tentativa da mídia de igualá-lo a tantos outros, como expressado por Noblat: “Dilma se rende e fará no segundo governo o que negou que faria.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Algumas coisas a acrescentar…

    Gostei da sua análise Assis, apesar de não concordar com tudo eu me coloco numa posição contribuir com alguns detalhes que acho que você deixou de citar:

    1.Se há semelhanças com o que ocorreu na década de 60, as dessemelhança são muito maiores.- Nesta lista eu incluiria um número 5. É o fato das atuais “manifestações” serem motivadas e convocadas pelas tais “redes sociais”( detesto este nome por ser por natureza mentiroso e extremamente publicitário- mas se não usá-lo talvez as pessoas não saibam do que estou falando). Como pessoas inteligentes como todos os analistas que se propõe a analisar os fatos se deixam iludir e ignoram um fato marcante sobre essas “redes sociais”! A príncipio nunca pode se deixar de perceber que as tais “redes sociais” nada mais são do que produtos comerciais inventados, controlados, e manipulados por grandes corporações com interesses políticos e comerciais particulares, portanto sem nenhum vínculo ideológico, político ou de classe com os ideiais de participação popular, democratização, reinvidicações populares ou libertação de minorias reprimidas. Estas corporações (Facebook, Twitter, Google, etc) são inclusive fornecedoras assíduas de informação para CIA e NSA, como foi amplamente comprovado por Eduard Snowden. Portanto alguém que se pretende analista isento não pode nunca ignorar o fato de que essas corporações ao servirem para o serviço de  “convocar manifestações” estão simultânemente se utilizando dos recursos de comunicação que elas próprias criaram para controlar “os perfis de seus clientes”. Ou seja, é muita ingenuidade achar que corporações, que nasceram e são mantidas pelas mesmas forças criminosas e reacionárias contra as quais os movimentos lutam e se utilizam delas para difundir ideias e convocar manifestações, não estejam também manipulando as informações que chegam aos seus HDS (todos situados nos EUA) para defenderem suas ideologias e interesses. É realmente uma das maiores burrices que os ditos intelectuais fingem não perceber: NÃO EXISTE REDE SOCIAL, NUM SENTIDO AMPLO, LIVRE E HORIZONTAL, E SIM PRODUTOS COMERCIAIS MANIPULADOS PELAS GRANDES CORPORAÇÕES PARA DIFUNDIR SUAS IDEOLOGIAS E OBTER LUCROS, E ASSIM PERPETUAR A ESCRAVIDÃO MORAL, ECONÔMICA, CULTURAL E CONCEITUAL QUE VIVEMOS!

    E daí eu acrescento na sua lista final sobre os conselhos ao governo:

    – NÃO UTILIZE “REDES SOCIAIS” DAS EMPRESAS FACEBOOK, TWITTER OU SIMILARES, POIS FAZENDO ISSO VOCÊ AJUDA AOS ESPIÕES DO NSA E CIA E AINDA POR CIMA É ESVAZIADO DE TODO O RECURSO REAL DE REAÇÃO FRENTE A ESSAS VERDADEIRAS PRAGAS DA INTERNET QUE SÃO AS TAIS REDES SOCIAIS ( EM DESTAQUE O FACEBURRO).

  2. Uma analise mais profunda

    Uma analise mais profunda sobre as tais “manifestações populares” exige olhares bem atentos.

    Faz-se ate hoje uma enorme apologia das “manifestações de 68”, na Europa, mas pouco se fala sobre os resultados que elas causaram.

    Na França derrubaram o governo que se opunha ao dominio americano no continente europeu.

    Foi o primeiro passo para a derrubada da União Sovietica, que aconteceria depois.

    Os interessados no assunto deveriam pesquisar onde andam e o que fazem os “revolucionarios” lideres do movimento frances.

    Podem se assustar. Eles não se encontram atras de nenhuma nova barricada, mas muitos na direção de grandes multinacionais.

    Alias as tais “primaveras” nem começaram em 68, em Paris, ou agora no Egito.

    Manifestações de coxinhas na Polonia e em Praga, acontecidas anteriormente, foram o estopim para a derrubada dos governos socialistas do leste europeu.

    Qualquer participante da diretoria de uma associação de moradores ou mesmo um sindico de um predio sabe das dificuldades para se levar pessoas para uma reunião, mesmo aquelas que dizem respeito a interesses diretos delas.

    So os que acreditam em Papai Noel entendem que milhares se reuniram “espontaneamente” numa praça do Cairo ou numa avenida de São Paulo ou para se “manifestar” contra a derrubada de uma arvore na Turquia.

    O uso politico do “fervor juvenil” é coisa antiga.

    Hoje é mais perigoso porque se utiliza de uma arma nova, as tais “redes sociais”.

    No Brasil, aconteceu justo as vesperas das eleições, quando a vitoria do governo ja estava garantida em primeiro turno.

    A unica defesa que o pais tem contra essa nova arma é que aqui é mais arriscado usa-la.

    Com a desigualdade social existente ela pode inflamar alem dos coxinhas os pobres das favelas.

    Ai o tiro pode sair pela culatra.

     

      1. No dia em que os pobres das

        No dia em que os pobres das favelas descerem dos morros para “manifestar”, voce pode ficar certo que não sera o “socialismo” que sera derrubado.

        Veremos muita gente  pendurada em postes.

        Espero, pela paz, que os coxinhas não consigam “derrubar” o governo como pretendem.

        O rio vai virar mar.

        Mar de sangue.

  3. .

    É preciso separar o joio do trigo, com relação aos movimentos que têm surgido ao redor do mundo. O fim do texto, com numeração de 1 a 8, deveria ser afixado nas portas dos ministérios e, não por último, da presidência.

  4. simpatizo com esses daqui

    O programa econômico do Podemos: a casa pelo telhado

    A imprensa hostil encontrou no ‘programa econômico’ do Podemos um novo material para continuar alimentando a campanha de intoxicação contra o partido.

       +

    Fernando Luengo* – Publico.es

     Facebook Podemos

     

    As elites econômicas e políticas e os grandes meios de comunicação passaram da incredulidade inicial e de uma confusão posterior em relação ao Podemos a uma posição aberta e de crescente hostilidade. A razão? As pesquisas de opinião revelam que boa parte da população está farta quanto à classe política enredada em inúmeros episódios de corrupção e incapaz de oferecer uma saída para a crise. Estas mesmas pesquisas também falam da contínua ascendência do Podemos. Em caso de se consolidar esta tendência, este novo partido estaria em condições de governar. Uma ameaça bastante inquietante – muitos privilégios para preservar, diria eu – que é preciso levar a sério.

    O nó górdio da estratégia encaminhada para desacreditar o Podemos reside no programa econômico, bem como em sua ausência, bem como na inconsistência das políticas a aplicar, bem como as consequências desastrosas que teria para a economia espanhola se fossem implementadas. Tudo vale quando o objetivo é criar confusão.

    Até o momento, a referência para sustentar a estratégia do descrédito eram o programa apresentado às eleições europeias e a resolução sobre a dívida aprovada na assembleia cidadã constituinte. Agora contam com um novo material para continuar colocando lenha na fogueira: o documento elaborado pelos professores Vicenç Navarro e Juan Torres “Democratizar a economia para sair da crise melhorando a equidade, o bem-estar e a qualidade de vida”. Não me interessa neste momento analisar o conteúdo do texto, mas compartilhar com o leitor algumas considerações relativas ao processo de elaboração do programa econômico, dentro e fora do Podemos.

    Estamos curados do espanto e achávamos que tínhamos visto tudo; mas não, ainda sobrou um espaço grande para surpresas. Os que insistiram até dizer chega que o Podemos não tinha nada a dizer em matéria de economia – salvo proclamar alguns clichês roubados dos antissistema – e os pregadores dos sete maus em caso de aplicar suas “ocorrências” econômicas, representam o PP e o PSOE, os mesmos partidos que enganaram seus eleitores com programas que, depois de eles serem eleitos, foram atirados diretamente no lixo. São os mesmos, SIM, EXATAMENTE OS MESMOS que levaram a economia e a cidadania à crítica situação atual e os que aplicaram políticas que resultaram em uma fratura social de dimensões históricas e em um enriquecimento desmedido e obsceno das oligarquias.

    Nada disto importa em um país onde o cinismo e a mentira estão nos discursos midiático e político. Tudo vale nesta inédita operação de acusação e ataque contra o Podemos. Com o texto de Torres e Navarro, a imprensa hostil encontrou um novo material para continuar alimentando a campanha de intoxicação, pois já tinham em suas mãos o programa econômico ou, pelo menos, um rascunho muito avançado dele. O documento se tornou público há alguns dias e escutamos que o Podemos abriu mão de seus objetivos mais emblemáticos – como, por exemplo, a renda básica cidadã, a redução da idade de aposentadoria ou a quitação da dívida – e que o texto supõe uma viagem ao centro, onde estão ou querem estar os partidos políticos da “casta” que tanto criticavam os dirigentes do novo partido. 

    Nada disto me surpreende, era o esperado. E estamos no começo de uma campanha de descrédito que terá muito jogo sujo. 

    Entretanto, os passos dados pela direção do Podemos em todo este processos me confundiram sim. Diante da inevitável perseguição midiática reclamando medidas concretas e a exigência de que “calculemos!”, teriam que ter lançado outra mensagem, UMA MENSAGEM EM TOM POLÍTICO DO PODEMOS:  a elaboração do programa econômico incumbia os círculos e a cidadania ativa, que anseia por encontrar uma ponte de diálogo com os círculos, e também, claro, aos que, reunindo os conhecimentos técnicos necessários (não gosto da denominação especialistas, categoria continuamente utilizada pelas elites políticas para tirar as pessoas do debate dos grande assuntos) querem colocá-los à serviço de uma alternativa que mude o estado atual das coisas.

    É um procedimento parcimonioso e finalmente ineficiente? Não, absolutamente, é um mecanismo que conecta com uma nova maneira radicalmente diferente da tradicional, de fazer política, que não busca atalhos, pois eles não existem quando se trata de mobilizar a ampla base cidadã agrupada em torno do Podemos. Proceder desta maneira, além de nos situarmos no caminho da nova e da boa política que queremos impulsionar, é possível que tivessem tirado a pressão midiática. 

    É evidente que o grupo dirigente do Podemos preferiu seguir outro caminho, que nos situa no olho do furacão midiático. Apesar de se ter enfatizado que o texto de Torres e Navarro seja somente um documento que quer contribuir para um debate que deve culminar no programa econômico (esclarecimento que a mídia ignorou), o certo é que, como antes demonstrei, foi revelado em todas as plataformas midiáticas como o programa, com o alarde com que o grupo dirigente do Podemos apresentou o referido texto e as declarações de algumas das figuras mais conhecidas do partido apontam, objetivamente, para a mesma direção. 
     
    Não é um documento, mas O DOCUMENTO DE REFERÊNCIA que vai articular – na minha opinião, que condicionará – o debate dentro e fora do Podemos. Ainda que estivéssemos diante de um material boníssimo, acredito sinceramente que este não é o caminho para construir uma força social e política com potencial transformador, que empodere a cidadania dentro e fora dos círculos. Porque é disso que se trata, não? 

    * Fernando Luengo é professor de economia aplicada na Universidade Complutense de Madri e membro do Círculo 3E (Energia, Ecologia e Energia) de Podemos e da associação econoNuestra.

     

  5. excelente texto para analisar

    excelente texto para analisar a situação não só economica como social.

    lembrei de 68, a revolução era mundial, hippies,etc,

    mas internamente vivíamos o paradoxo do golpe cívil-militar.

    agora, a despolitização…

    ótimas sugestões…

  6. Deixar a década de 1960 na História

    Acho que os movimentos de hoje refletem muito da ideologia – para usar um termo da época que parece ter caido em desuso – da estratégia e das táticas dos movimentos dos anos 1960. Mas o contexo é absolutamente diferente: enquanto o mundo estava no final do maior perido de crescimento da história, hoje enfrenta a sua maior crise com crescimento patinando, renda cada vez mais concentrada e taxas de desemprego estratosféricas. Falar de fim da classe trabalhadora nesse contexto, pode ser suicídio.

    Antes havia a URSS hoje não há mais. Isso significa que não há mais stalinismo a ser contestado pela esquerda, mas também não há mais ‘comunismo real’ a ser temido pelos capitalismos ocidentais. Movimentos de esquerda que combatem o ‘autoritarismo’ da esquerda lutam contra um fantasma e abrem o campo para a direita.

    A hegemonia cultural hoje é crescentemente conservadora, das músicas escapistas e superfeciais aos filmes de destruição em série de hollywood. A cultura virou um grande negócio, inclusive as expressões culturais contestatórias dos anos 1960. Esperar ‘revolução cultural’ é ficar esperando o convidado que nunca chega.

    Após os anos 1960 a direita – da liberal extrema à neofascista -se repaginou e se  remodelou,  inclusive absorvendo ideias, lemas e estratégia dos movimetnos de contestação dos anos 1960. Usar essas estratégias e ideias hoje pode ser botar agua no moinho do adversário ou fazer uma aliança suicida.

    Nesse contexto tão diferente, não seria melhor deixar os anos 1960 irem para a história, olha-los criticamente  e ir para a frente? Não seria melhor entender as transformações do mundo desde aquela época para entender como transformá-lo hoje? Não seria um tiro pela culatra tomar a década de 1960 como um farol, um mito, com um saudosismo do tipo ‘agora vai’? 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador