66 anos de Chico Buarque: o pensamento vivo do compositor carioca

66 anos de Chico Buarque: o pensamento vivo do compositor carioca

Luiz Filipe Tavares
Publicado em 19/06/2010 08h00

Televisão e ditadura

“Era televisão e futebol. Construíram estádios e essa rede impressionante de telecomunicações por todo o Brasil, e ao mesmo tempo uma degradação crescente em termos de educação e saúde. Tudo isso foi descuidado.”

Progressista e retrógrado

“Nem toda a loucura é genial, nem toda a lucidez é velha”

Chico por Chico

“Eu não daria tudo para ter feito música nenhuma de outro compositor. Mas existem músicas que amo. Gosto mais do que as minhas. Eu não gostaria de ter feito uma música alheia. É uma coisa que não me ocorre. Porque o maior prazer da música está exatamente no momento em que você a cria. Nunca mais vai ser a mesma coisa. Quando você grava ou repete nos shows, não vive a mesma sensação. Ignoro qual terá sido esse prazer em outro autor. Prefiro, então, sentir o prazer que sinto a cada composição minha, por menor que seja.”

Censura

“Isso tem de acabar e não voltar nunca mais. Ela mutila todas as características de uma época. Esses meninos que estão começando a fazer música agora. Já imaginou? Se nas primeiras tentativas, como tem havido tantas — e tantas que ninguém nem sabe — tudo já vem proibido, isso produz a monstruosidade da autocensura, fatal a qualquer tipo de atividade criadora.”

Resistência

“Surgia a idéia de que, se estavam me proibindo, proibindo tudo que fazia, isso devia ter alguma importância. Meu trabalho, então, parecia poder ser útil a alguém. Minha resistência também. Daí eu só podia resistir. E continuei.”

A direita

“Há no PT a idéia de que ou você é petista ou é calhorda, assim como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro”.

A esquerda

“Eu conheci o grau de agressividade do PT, sei como é. Eu já falava isso, tem muito chato neste PT. Ficam enchendo o saco da gente, enchendo o saco dos artistas, cobrando isso e aquilo.”

Presidente Lula

“O preconceito de classe contra o Lula continua existindo – e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado, eu nunca vi igual (…) Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! – até assassino eu já ouvi.

Terra da Garoa

“São Paulo é detestável, um desastre, a cidade que não deu certo. Estou falando da arquitetura, do urbanismo.”

Cidade Maravilhosa

“Essa coisa do cariocão não tem muito a ver comigo, da mesma forma que acho paulistice chata, baianice chata, mineirice chata”.

Economia

“Eu tendo a acreditar nos economistas quando dizem ser impossível gerenciar países como o nosso de outra forma. Quem sou eu para opinar? Tenho também pouco interesse em ler opiniões de leigos, de gente desavisada a esse respeito. Às vezes podem dizer coisas interessantes, ou até brilhantes, mas quando chega a hora de uma discussão mais séria essas opiniões soam quase como um escárnio, coisa de poeta.”

Matrimônio

“Casar é a metade do divertimento pelo dobro do preço.”

Medo de palco

“Medo não. É pânico de público. Se fosse só o momento de pisar no palco ainda daria para entender. Mas todo o meu dia, todo trabalho que esteja fazendo ficam prejudicados pela idéia de que à noite vou estar à frente de centenas, milhares, sei lá, de pessoas, escondidas naquele buraco escuro que é a boca de cena. A gente é visto sem ver. Terrível. “

Envelhecendo

“Sou hoje um músico mais completo, um compositor mais exigente que há 30 anos, menos prolixo e mais apurado. Em compensação, com o tempo você perde em fluência, em espontaneidade.

Perdendo gás

Quando eu tinha 20 anos, comecei a desconfiar que ia envelhecer (Risos). Mas o tempo vai passando aos poucos, não é assim de uma hora para a outra. Você nem se dá conta. É claro que se aborrece quando estica a perna e não alcança a bola….”

Sexo na terceira idade

“Tesão não pode. Já sou avô e meus netos estão aí. Depois vai ser aquela coisa: ‘vovô viu a vulva'”.

Drogas

“Não experimentei tudo. Nunca fui à heroína, nunca me piquei. Foi o básico: fumei, cheirei, tomei ácido. E larguei isso tudo. Na verdade, nunca fui um bom maconheiro. Posso eventualmente fumar aqui e ali, não vejo muito mal. Mas não sou adepto”

A garrafa de beber

“Não tomo mais uísque. Cantar bêbado pode ser engraçado, mas não a temporada inteira. Faz mal para o fígado.”

A garrafa de atirar

“Como eu bebia muito, fiquei encarregado de arrumar garrafas para fazer bomba molotov.”

Saudosismo

“Não acho nada simpática (a virada da década de 60 para 70). Não dá para abstrair a ditadura. Uma coisa é Maio de 68 na França. Outra, completamente distinta, o nosso dezembro de 68.”

http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/musica/2010/06/18/251862-66-anos-de-chico-buarque-o-pensamento-vivo-do-compositor-carioca

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