A evolução e a complexidade do piano

Sugerido por Marcos RTI

Da Estação Musical

Cravo ou piano?

Texto de Guilherme Bartz

Na primeira aula de piano, é comum o professor mostrar ao aluno o interior do instrumento. Debruçado sobre a parte de cima do piano, o estudante costuma ficar admirado com a quantidade de cordas que observa:

– Nossa! Existe uma corda para cada tecla? – pergunta o aluno.

– Não, para algumas teclas são duas ou até três cordas. Para as notas mais graves, aí sim é apenas uma corda – responde o professor, satisfeito com a admiração causada.

O piano em geral apresenta 88 teclas e aproximadamente 220 cordas. É um instrumento complexo, que exige, sobretudo, muito trabalho dos afinadores. Mas o piano não foi inventado da noite para o dia, como um pombo tirado da cartola. Este instrumento é resultado de séculos de evolução na família dos instrumentos de teclado.

O antepassado mais ilustre do piano é o cravo, cujas referências mais antigas datam do final do século XIV e início do XV. Este instrumento foi bastante utilizado até o final do século XVIII, mas no século seguinte caiu em esquecimento. Seu reflorecimento ocorreu no final do século XIX. As origens do piano, por sua vez, remontam ao início do século XVIII, mas o instrumento só se popularizou mesmo em meados daquele século. Uma série de evoluções posteriores no instrumento deram origem ao piano tal como o conhecemos hoje.

O cravo e o piano são classificados como instrumentos de teclado, mas existem diferenças fundamentais entre eles. A principal delas é o modo como as cordas são tocadas, num e noutro. No piano, as cordas são percutidas com martelos; no cravo, elas são pinçadas. São essas diferenças mecânicas que afetam o timbre de cada um dos dois instrumentos, fato que os diferencia sonoramente.

Atualmente, o piano encontra-se muito mais difundido que o cravo, mas no passado a realidade era inversa. O cravo pode ser encontrado hoje em dia como instrumento contínuo na música de câmara e na ópera, em especial na música do período barroco. O piano possui um uso muito mais disseminado, sendo empregado não apenas na música clássica, mas também na música popular, por exemplo.

Além do cravo e do piano, cabe citar como pertencentes à categoria dos instrumentos de teclado o órgão, o clavicórdio, o virginal, a espineta, o pianoforte, o harmônio, a celesta, o glockenspiel e, como criação mais recente, o sintetizador.

Abaixo você encontrará dois exemplos musicais que lhe permitirão ouvir as diferenças sonoras entre o piano e o cravo. Nas duas gravações, as peças executadas são as mesmas, o Prelúdio e Fuga em Dó Maior (BWV 846) do Livro I de O Cravo Bem Temperado, de Johann Sebastian Bach. Preste atenção nas cordas marteladas do piano e nas cordas pinçadas do cravo. Num segundo momento, aprecie as soluções interpretativas que cada músico encontrou para a mesma peça, levando em conta o instrumento que cada um toca.

J. S. Bach: Prelúdio e Fuga em Dó Maior (BWV 846) – Sviatoslav Richter, piano

J. S. Bach: Prelúdio e Fuga em Dó Maior (BWV 846) – Ton Koopman, cravo

Luis Nassif

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