Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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A “gata” Francineth, por Aquiles Rique Reis

Francineth & Batuqueiros e Sua Gente é um disco de sambas preciosos, cantados por uma grande cantora

Capa do CD “Francineth & Batuqueiros e Sua Gente”

A “gata” Francineth

por Aquiles Rique Reis*

Está na praça o CD Francineth & Batuqueiros e Sua Gente (independente). Francineth Germano é um fenômeno. Há mais de vinte sem subir num palco, e muito menos gravar, essa mulher, do alto de seus 78 anos, canta total. Suas interpretações são dignas de uma grande dama do samba – como o foram, tempos atrás, Clementina de Jesus, a divina Elizeth Cardoso (que amadrinhou Francineth) e, recentemente, Dona Ivone Lara (outra que via Francineth como uma grande cantora).

Veterana, dos anos 1970 até os 1980 ela integrou o grupo As Gatas. Lembro-me bem, elas eram sempre arregimentadas para fazer coro em discos de inúmeros intérpretes. Identificadas como “coro qualificado” (uma honraria), suas vozes estão registradas em álbuns de grandes intérpretes da MPB.

Com dezesseis músicos de uma nova geração, a participação do Batuqueiros e Sua Gente é boa pra dedéu! Enquanto dá show, a rapaziada ampara o canto de Francineth. O que permite a ela demonstrar afinação impecável e voz poderosa. Suas divisões rítmicas são cheias de picardia. E sua respiração, fator de segurança para as interpretações… ora, Francineth é uma cantora e tanto!

Com direção musical de Gian Correa e Henrique Araújo, arranjos da moçada do Batuqueiros e as participações especiais de Nailor Proveta, João Camarero e Zeca Pagodinho, o CD abre com um lindo samba, “Império do Samba” (Zé da Zilda e Zilda do Zé). Ad libtum a intro deságua em Francineth cantando um trecho a capella, mas logo cai no samba. O suingue é doido.

Importante frisar que Francineth foi quem gravou a primeira composição de Dona Ivone Lara, “Amor Inesquecível”. Regravada, a faixa começa com a dama do samba reafirmando o fato e cobrindo Francineth de elogios. Junto com as percussões, o naipe de sopros carrega um toque mágico: Dona Ivone Lara está no samba que compôs e que a “gata” cantou e ainda hoje canta como poucos!

Outro momento admirável: Francineth cantando o samba-canção “Nossos Momentos” (Haroldo Barbosa e Luiz Reis). Um arranjo fino e sensível dá a Francineth a ventura de gravar o grande sucesso, renovando-o.

Outra música de Dona Ivone Lara, parceria com Délcio Carvalho, é “Nasci Pra Sonhar e Cantar”: que linda! Mais um arranjo adequado à beleza da música.

“Cambão” (Luiz Vieira): a intro vem com os sopros somados ao ritmo. O violão e o tamborim vêm com o canto. Por vezes o compasso desdobra, mas logo volta à levada inicial.

“Amor Infinito”, única composição de Francineth no CD, é uma parceria com Guilherme Lara. O cavaco chama a melodia. Logo o sete cordas se achega. À frente, todo o grupo do Batuqueiros se mostra. Nisso o sax pontua até chegar a um improviso no intermezzo. A levada lenta do samba é supimpa.

Enfim, Francineth & Batuqueiros e Sua Gente é um disco de sambas preciosos, cantados por uma grande cantora. Acompanhada por um grupo que exala qualidade nos arranjos, e em levadas plenas de energia e graça, a “gata” Francineth retoma sua trajetória musical. O samba agradece.


*Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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