A Marcha do Lepo Lepo contra o capitalismo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Hugo 1

Se a Marcha da Família é contra o comunismo, que tal a Marcha do Lepo Lepo contra o capitalismo?

‘Lepo Lepo é um grito contra o capitalismo’, diz cantor do Psirico

De Caras

Por Kellen Rodrigues

‘Eu não tenho carro, não tenho teto e se ficar comigo é porque gosta do meu lepo lepo’. É bem provável que você já tenha cantarolado ou pelo menos ouvido o refrão por aí. Lepo Lepo da banda baiana Psirico é a principal aposta para ‘música do carnaval’ e conquistou fãs anônimos e famosos mundo afora. Entre os que se renderam à história do cara que não tem carro e nem teto estãoNeymar e Daniel Alves – ao comemorar um gol no Barcelona e fazer a canção virar hit na Espanha – e Ivete Sangalo, que já incluiu Lepo Lepo no repertório de seu show.

“Já é a música do carnaval, o povo já decidiu. O prêmio do carnaval é uma coisa muito importante, a gente sonha e quer muito ganhar, mas o amor do povo, de toda imprensa, dos jogadores de futebol, já fez com que fosse a música do carnaval”, acredita Márcio Victor, vocalista da banda.

Mas o que significa o Lepo Lepo, afinal? “É o amor. É uma forma baiana de dizer do meu amor, do meu carinho”, explica o cantor à CARAS Digital. “Acho que cada um vê de um jeito, as crianças veem de um jeito inocente, a turma mais jovem leva para a azaração e tem a turma do lelelê”, diverte-se Márcio. “É uma forma de gritar não ao capitalismo e sim ao amor. Acredito que mulher de verdade prefere o lepo lepo. Tem muita mulher que prefere o dinheiro, bens materiais. No meu caso não tenho nada disso. Comigo é amor, alegria e diversão”, garante o cantor de 34 anos, que está solteiro. “Mas pretendo ter uns 11 filhos”, conta rindo.

O Psirico está há 12 anos na estrada, mas a carreira de Márcio Victor começou muito antes – aos 13 ele já cantava profissionalmente no Timbalada. De lá pra cá já tocou com Caetano Veloso,Daniela Mercury, Carlinhos Brown, Gilberto Gil, entre outros nomes consagrados da música brasileira.

No carnaval serão 14 shows em seis dias. Para aguentar a maratona, ele conta com uma equipe grande com direito a nutricionista, laringologista, fonoaudióloga e massagistas. “Minha equipe já tem experiência em fazer carnaval, já está comigo há muito tempo. Fico tranquilo”, diz.

Polêmica deu empurrãozinho

Uma polêmica envolvendo o cantor Cristiano Araújo, que gravou uma versão de Lepo Lepo em sertanejo, contribuiu para o sucesso da música. Vários artistas se mobilizaram e fizeram vídeos ressaltando que a canção era do Psirico, o que ajudou na divulgação. “O empresário dele me ligou, a gente resolveu essa questão, até penso em encontrar com ele. Isso acabou ajudando a gente a tocar em lugares que não tocava, todo mundo comprou a briga”, lembra Márcio Victor. “Há males que vem para o bem. Tomei um susto, pedi muito, rezei muito. Fui muito na igreja do Senhor do Bonfim pedir que ajudasse, sou devoto de Cosme e Damião também”, diz.

Passada a polêmica, agora é só comemoração. Segundo Márcio, a música caiu no gosto também dos pequenos foliões. “Tenho mais de 300 vídeos no meu celular de crianças dançando Lepo Lepo. Quando tem criança na coisa é benção de Deus”, celebra.

Da favela ao Grammy

Nada foi fácil na história da banda que começou no subúrbio de Salvador. Foram muitos nãos até conseguirem seu espaço. “O que me deixou triste é que a gente pediu muito, bateu muito nas portas de produtores de programas de televisão e poucos acreditaram na gente. A gente tem problema em fazer alguns programas grandes nacionais, acho que é falta de percepção de diretores”, acredita.

Mas o sonho de levar a música brasileira aos quatro cantos do mundo é maior que algum preconceito que possa surgir. “A gente sonha com muito mais. Em levar a música do Brasil ao mundo todo, de trazer o Grammy Latino”, conta. “Vou continuar viajando o mundo inteiro buscando tendências, quero ir para a África esse ano buscar novos ritmos”, adianta. A banda já tem convites para cantar nos Estados Unidos e Europa. 

Enquanto isso, ele segue aproveitando o sucesso do Lepo Lepo. “Eu sou muito famoso antes do sucesso de Lepo Lepo, diversos fã-clubes, já sou muito popular no norte e nordeste. Mas agora com o Lepo Lepo não posso mais chegar na janela da minha casa que tem gente”, comemora. “E ver Caetano falar que prefere o Psirico a Beyoncé, não tem preço”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

19 Comentários

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  1. O sucesso é resultado de briga entre o axé e o sertanejo?

    É só o hit de mais um empobrecido e fadonho carnaval. Engraçado que o significado original de carnaval vem de, “ir além da carne” e o que mais se deseja, os famintos e carentes, parece ser se esbaldar da carne alheia. Vi bastante bobagem para poder aderir a mais esta pérola da mpb, esquecida daqui há dias, como produtos do capitalismo a encarecer nossos lixões. Ah, é tão moderno ser adesista e aquele que diz aceitar a tudo (contanto que não me venham com opiniões contrárias a mim. Aí, viro bicho) tenho até medo de suas adocicadas palavras.

    A melhor “desculpa” para ter feito o hit, veio do próprio intérprete:

    “’Lepo Lepo’ é coisa de Deus”, diz intérprete do hit do carnaval 2014

    http://noticias.gospelmais.com.br/lepo-lepo-coisa-deus-hit-carnaval-2014-65713.html

     

  2. Se não tem carro é porque não

    Se não tem carro é porque não aproveitou o IPI zerado e os juros baixos

    Se não tem teto é porque não se inscreveu no Minha Casa Minha Vida

    Agora lepo-lepo o povo todo já nasce sabendo!!!

  3. Perdeu a noção de ridiculo.

    Perdeu a noção de ridiculo. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Ideologia na música que diz Lepo lepo.kkkk

  4. Para os que fazem ode a esta

    Para os que fazem ode a esta nova música, e mesmo para os que ignoram esta tendência.

    Estava à toa na vida
    O meu amor me chamou
    Pra ver a banda passar
    Cantando coisas de amor

    A minha gente sofrida
    Despediu-se da dor
    Pra ver a banda passar
    Cantando coisas de amor

    (…)

    A moça triste que vivia calada sorriu
    A rosa triste que vivia fechada se abriu
    E a meninada toda se assanhou
    Pra ver a banda passar
    Cantando coisas de amor

    (…)

    Mas para meu desencanto
    O que era doce acabou
    Tudo tomou seu lugar
    Depois que a banda passou

    E cada qual no seu canto
    Em cada canto uma dor
    Depois da banda passar
    Cantando coisas de amor

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=OBDfWikT34M%5D

  5. Uma f…

    A palavra “psirico”, na década de 60 pronunciava-se no Ceará “pisirico” e era uma gíria que tinha o sentido de relação sexual. Algum nordestino contemporâneo de matusalem sabe?

  6. É amigo Assis…
    Ver crianças

    É amigo Assis…

    Ver crianças simulando tapinhas no bumbum…é de matar de vergonha mesmo.

    Enfim, como dizia Sartre: “A dança é a realização de desejos horizontais…na vertical”

    Só não precisam avacalhar tanto…

    Abraços.

    1. Gardenal

      Gardenal, sempre há possibilidade de redimí-la..nem precisa recorrer ao João..segue uma música que vc pode vivê-la todo ano no desfile do Gandhi em Salvador..a Bahia não é descartável, ela está viva nas ladeiras de Salvador, nas Praias de seu Litoral, no tabuleiro da baiana, nas Festas de Largo, no Recôncavo Baiano, na luta dos Quilombolas na Baía de Todos Santos, nos Tupynambás no Sul da Bahia, e muito mais..ela não sucumbe às modas e ao sucesso imediatos , é Natureza, Cultura, História, Poesia e Arte em estado puro..se liga cabeção..

       

      [video:http://www.youtube.com/watch?v=-7MHBZmdvis%5D

    2. Não precisa.

      E quem disse que a Bahia precisa de redenção.

      Quem tem Elomar Figueira de Melo não precisa de dizer mais nada.

      Talvez o sudeste é que precise de redenção, colocaram até um redentor pra poluir a paisagem.

      E todo carnaval ou importam ou imitam os bahianos.

      Que precisa de redenção?

      Em tempo: Antes que me chamem de bairrista: Sou mineiro.

  7. A criatividade das letras dos

    A criatividade das letras dos compositores baianos não é fácil.

    Lá atrás tinha um letra que dizia abre a rodinha.

    Carrinho de mão

    Depois seguraram o tchan

    Depois dançando na boquinha da garrafa.Essa todo mundo dançou, da classe A a Z, principalmente quando estavam bêbados.  Como o cara pode imaginar uma letra como esta.

    Rebolation

    E agora essa tal de lepo lepo

    E muitas outras que não lembro.

    Vão ser criativo assim lá na Bahia

     

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