A milagrosa festa do jazz manouche, por Carlos Motta

A milagrosa festa do jazz manouche, por Carlos Motta

Depois de seis horas de música, os participantes do 6º Festival de Jazz Manouche de Piracicaba foram chamados, no domingo, 25 de novembro, ao palco montado atrás do Teatro Erotides de Campos, no belo conjunto cultural do Engenho Central, às margens do Rio Piracicaba. Alguns deles já tinham ido embora, mas mesmo assim, o palco ficou cheio. Eram brasileiros, argentinos, colombianos, venezuelanos, e um romeno, o violinista Florian Cristea, que mora no Brasil há 20 anos. 

E foi ao som de “Besame Mucho”, clássico bolero da mexicana Consuelo Velásquez, uma obra atemporal, que a grande festa musical terminou. Violões, violinos, contrabaixos, acordeão e trumpete se fundiram no ritmo inconfundível criado pelo belga Django Reinhardt para acompanhar o  chileno Sebastian Abuter, que trocou seu clarinete pela voz. “Besame, besame mucho”, cantou, ao que o coro de três dezenas de vozes, “regido” pelo violonista Bina Coquet, respondeu: “Mucho, mucho”…

Foi um final surpreendente para uma tarde/noite igualmente surpreendente, pela qualidade dos artistas que se apresentaram e pelas próprias características do festival, idealizado e organizado por José Fernando Seifarth de Freitas, um juiz de direito que leva a música muito a sério: na adolescência, integrou o conjunto Bombom, que estourou no Brasil com o hit “Vamos a la Playa”, e anos depois foi um dos fundadores do Hot Club de Piracicaba, um dos grupos pioneiros do jazz manouche, ou cigano, no Brasil.

José Fernando já gravou vários discos e participou de inúmeros shows com seu violão rítmico no Brasil e exterior. Na grande apresentação de domingo, porém, tocou pouco. Foi mais visto nos bastidores, na plateia, nos arredores do palco, infatigável. Pegou o microfone apenas para anunciar as atrações. Numa dessas vezes, agradeceu o apoio recebido para pôr de pé o festival – uma lista que inclui desde a prefeitura de Piracicaba até uma padaria.

Por mais que tenha sido extensa a lista – José Fernando confessou, na hora, que não se lembrava de todos os que precisava agradecer -, ela, à primeira vista, parece ser insuficiente para realizar o milagre que é organizar um concerto com tal qualidade artística.

Seja como for, o fato é que nem a forte chuva no começo da noite atrapalhou o festival. O som estava ótimo, o público não cansou de aplaudir, muitas vezes entusiasticamente, os artistas, e eles, pela expressão em seus rostos, pareciam também estar, mais que satisfeitos com suas performances, felizes por participar da festa.

Pois o jazz manouche, além de um gênero musical arrebatador, é justamente isso, uma festa. Uma festa mais que necessária nestes tempos confusos em que vivemos.

Redação

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