A morte de Dino Sete Cordas na semana passada me pegou de surpresa. Há tempos se sabia que sua saúde não ia bem. Tinha tido um derrame, deixara de tocar, mas seu nome continuava a referência viva maior do choro, ao lado de Altamiro Carrilho. E sempre fica a sensação de que os deuses não morrem.
Só quem é do mundo do choro saberá avaliar corretamente a importância do Dino para nossa tropa. Ele não foi o inventor do violão de sete cordas, que possui uma corda a mais nos bordões, mas foi o seu consolidador. Em dupla com Meira, produziu o que de melhor o acompanhamento brasileiro já criou, uma inovação de contrapontos que permitiu ao choro chegar perto do jazz, como criação coletiva contrapontística.
Tocando no Regional do Canhoto e, principalmente, no Época de Ouro, acompanhando Jacob do Bandolim, Dino criou uma escola de contraponto que serviu não apenas ao violão. O próprio Jacob, em suas inesquecíveis gravações com Elizeth Cardoso, utilizava os recursos de Dino nos desenhos que bordava ao bandolim.
Até o irascível Jacob se curvava ao talento e à personalidade de Dino. Tanto que, contam as lendas, mantinha duas formações de choro: a titular com Dino; depois, havia um terceiro violão, que aparecia menos, mas que era necessário porque acompanhava Jacob em qualquer sarau, enquanto Dino se restringia às gravações profissionais.
A primeira vez que vi pessoalmente Dino foi no Festival de Choro da Bandeirantes, lá pelos idos de 1977. Fui cobrir pela revista Veja, mas não resisti e pedi seu autógrafo. Ele era a estrela maior, cercado pelos jovens músicos e fãs do choro, atraindo mais gente que outras figuras históricas como K-Ximbinho ou mesmo os conjuntos da jovem guarda do choro da época, como os Carioquinhas (onde pontificava o futuro sucessor de Dino, Raphael Rabello) e A Cor do Som.
Em 1995 lancei um CD de choro, que foi lançado no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Pouco antes, Raphael produziria uma homenagem especial ao Dino, gravando em duo com ele. Sua gravação de “1 x 0”, está entre as maiores da história, de uma música que foi executada ao longo de todo o século.
Meu amigo Pelão, produtor do CD, levou o mundo do choro para lá. Nosso sete cordas, o Zé Barbeiro, estupendo acompanhador, passou a tocar em uma rapidez insuportável. “Calma Zé”, pedi-lhe. E ele, como se tivesse visto a face de Deus: “Mas, bicho, é o Dino lá na platéia”.
Terminado o show, Dino veio até nós e elogiou a interpretação de “A Feia”, valsa de Jacob do Bandolim. Saímos dali, o Conjunto Nosso Choro e eu, como se pisássemos em nuvens.
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