Sugerido por alfeu
Da Revista Brasileiros
Morre aos 99 anos o Arnesto do samba de Adoniran Barbosa
Faleceu hoje (26), aos 99 anos de idade o personagem que inspirou um dos sambas mais populares, o “Samba do Arnesto”, de Adoniran Barbosa. Ernesto Paulelli morreu de causas naturais, segundo a sua filha Valéria Paulelli. O velório será realizado no Cemitério do Araçá a partir das 19h30 desta quarta.
Para a edição 16 da Brasileiros, o descendente de italianos e violinista, Ernesto abriu as portas de sua casa, na Mooca, para contar não só sobre o samba que o colocou como o “grande furão” da história, mas para dar pistas de quem foi um dos grandes patronos da música de Adoniran.
Ernesto costumava se encontrar com Adoniran e certa vez, reclamou:
– Ô Adoniran, você me meteu numa treta. Por que você foi colocar que eu te dei um bolo, rapaz?
– Arnesto, se não tivesse mancada não tinha samba. Segura essa pra mim!
Ernesto já fez de tudo e não se cansou. Além de chuchu, vendeu secos e molhados, miudezas, trabalhou com jogo do bicho e tocou violão em cantinas. Em 1973, aposentou-se como vendedor de produtos químicos. Aos 60 anos, formou-se em direito pelas Faculdades Integradas de Guarulhos (FIG). Antes, fizera o supletivo para adultos – o curso de Madureza – para concluir o ginásio e o colegial. Trabalhou como advogado na área de Direito Civil por 30 anos e só parou em 2005 devido a um AVC.
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Isto não se faz Arnesto!
‘Prazer, meu nome é Ernesto Paulelli. Er-nes-to, mas pode me chamar de Arnesto, como Adoniran me rebatizou.’
O BLUES DO ARNESTO
‘Adoniran achava que tinha que falar errado para o povo entender.’
[video:http://youtu.be/wLpjJ19AcTE%5D
A lucidez impressiona, aos 95 anos. Ele relembra tudo com detalhes, nome e sobrenome. ‘É que a cabeça não para’, garante. ‘Estudo sem cessar, diariamente.’ E o que estuda? ‘Português, filosofia, matemática’, diz, apontando para a pilha de livros com equações para lá de complicadas. ‘E teoria musical. Porque só tocava violão de orelha. E não pegava bem o Arnesto do samba não saber teoria musical.’
Arnesto nunca parou de estudar, cultor do autodidatismo. Só aos 60 anos, depois de uma vida dedicada ao comércio, realizou o sonho de ser diplomado em Direito – ainda advogou por 30 anos. Aprendeu a falar bonito bem antes, com os livros mesmo.
Vez ou outra, lágrimas escorrem do rosto do Arnesto. ‘Perdoe-me se eu choro’, murmura. ‘Fico comovido quando relembro tudo.’ E completa: ‘Tenho saudades das noitadas que passei tocando violão nas cantinas de São Paulo.’
“Ele cantava para o Zé Povinho. Mostrava o rosto risonho, mas no fundo era triste’, diz Paulelli. ‘Adoniran reclamava que não conseguia subir na vida. Dizia que era como se quisesse tentar entrar num elevador vazio e o ascensorista dissesse: ‘Está lotado!… e fechasse a porta.'”
Homenagem aos Cem Anos de Adoniram, 25/04/2010, Ibirapuera
Jair Rodrigues e Ernesto Paulelli
[video:http://youtu.be/uj6l2JYOPOs%5D
O texto foi publicado, no dia 23 de abril de 2010, pelo Estadão.
Descanse em paz, Arnesto !
Descanse em paz, Arnesto !