Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Alaíde Costa, melhor do que sempre, por Aquiles Rique Reis

Uma das nossas maiores cantoras está completando sessenta anos de carreira. Mesmo com toda a festa que fizermos, toda homenagem que prestarmos, todas as mais lindas palavras que escolhermos, ainda assim tudo será pouco para o tantão que Alaíde Costa já nos acarinhou com sua voz afetiva.

Só que ela agora se revela também como autora, que cria valendo-se de um velho piano que lhe foi presenteado por Vinícius, e surpreende ao lançar Canções de Alaíde (Gravadora Eldorado, com apoio do ProAc). Nele, todas as músicas são de sua autoria, sendo quatro só dela e sete com parceiros diversos.

Chama atenção, por exemplo, uma inversão: Alaíde compôs a melodia de “Você É Amor”, enquanto Tom Jobim fez a letra. Nesta música, com arranjo de Giba Estebez (diretor musical do álbum), ouvimos apenas o piano do próprio Giba, o violão de Fernando Corrêa e a voz de Alaíde Costa. Com direito a um belo intermezzo de violão, Alaíde arrasa.

Para abrir o disco, Alaíde escolheu uma canção só dela: “Qual Palavra?”. Versos como Quisera encontrar a palavra capaz/ De um dia traduzir o meu amor, profundo amor/ Palavras não existem que possam te falar, são emoldurados por um belo arranjo de Conrado Paulino, ele que toca o violão, sola um intermezzo muito bonito e serve de amparo para ela cantar deliciando-se – e encantando a todos nós que a escutamos.

A terceira faixa tem duas músicas ligadas, “Ternura” (Alaíde Costa e Geraldo Julião) e “Cadarços” (Alaíde Costa e Hermínio Bello de Carvalho). As duas canções realçam o quanto Alaíde canta saboreando as palavras, deixando a impressão de que as letras são para ela um banquete que nos é servido em baixelas de prata e em pratos com frisos de ouro nas bordas finas. E ela degusta a poesia singular de Hermínio com tamanha ênfase que ao poeta restará se emocionar ao ouvir alguém cantar seus versos assim.

“Saída” (Alaíde Costa) é outra boa composição, interpretada apenas pela sua voz e pelo piano de Giba Estebez. Após uma linda introdução, vem ela, mais afinada do que sempre. Um intermezzo cria o clima para que a melodia volte a soar por suas cordas vocais.

Aliás, os arranjos são recheados de intermezzos e introduções. Sejam eles criados pelo violão, pelo piano ou pela flauta, os instrumentistas esmeraram-se e criaram belezas dignas de um álbum de Alaíde Costa.

Numa parceria encantadora com Geraldo Vandré, “Canção do Breve Amor” é um momento belíssimo do disco. É quando pela primeira e única vez ouve-se um contrabaixo acústico. Tocado por Mário Andreotti, somado ao piano de Giba Estebez, autor do arranjo, o baixo dá peso consistente aos versos de Vandré: Breve/ Como a perdida flor que longe floresceu/ E o homem não colheu pro seu amor.

Neste disco, Alaíde Costa confirma que o tempo conservou e amadureceu sua veia musical, deixando intacta a sua afinação, adicionando ainda mais sentimento e recriando a atmosfera de intimidade liberada àqueles que ouvem o seu cantar.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

4 Comentários

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  1. Sobre a parceria com Tom Jobim

    http://www2.uol.com.br/tomjobim/novidades_especial_alaide.htm

    Alaíde Costa revela música inédita de Tom Jobim
    por Luiz Roberto Oliveira, curador do site oficial Tom Jobim

    “Você é amor”, parceria de Alaíde Costa com Tom Jobim, ainda não foi lançada em disco, mas a cantora apresentou-a num show, ocasião em que a música foi gravada ao vivo.

    Quase desconhecida do público, a parceria foi revelada meio por acaso, quando conversávamos com Alaíde sobre o bate-papo que gravaríamos para o site oficial de Antonio Carlos Jobim (veja o especial abaixo). A cantora, com sua voz inconfundível, já havia gravado várias músicas de Tom, e seria uma convidada à altura para comemorarmos o 76º aniversário do maestro.

    Eu já sabia que ela, além de grande amiga do poeta Vinicius de Moraes, era também sua parceira na canção “Amigo Amado”. Mas a história que quase ninguém conhece é que um dia, em casa de Vinicius, Alaíde começou a tocar no piano o esboço de uma nova música. Tom Jobim estava lá, e se interessou pelo que ouvia. Logo começou a dar palpites na melodia e na letra, e sentava-se ao piano ao lado da cantora para sugerir alguns acordes. Esta colaboração continuou em outras ocasiões, até que deram a música por pronta. Embora o estilo de compor da cantora esteja mais presente, Alaíde atribui à participação de Tom importância decisiva para o bom resultado que conseguiram atingir.

    Tom aceitou o convite de Alaíde para que assinassem a canção como parceiros.

  2. Alaíde, juntamente com a

    Alaíde, juntamente com a Elizeth Cardoso, forma o Duo das “Senhoras da MPB”, não no sentido de idade, mas no de respeito à música ea seus fãns. Duas Damas, ficaria melhor.

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