Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Ana Lee, uma grande intérprete, por Aquiles Rique Reis

Eu nunca ouvira falar em Ana Lee. Foi quando a primeira audição me perguntou: que cantora é essa, meu Deus? Que voz diferençada é essa que tanto me agrada?

Uma grande intérprete

por Aquiles Rique Reis

A cantora Ana Lee lança agora Labirinto Azul (independente), seu terceiro álbum em formato físico – aguarda-se a versão digital a ser lançada em diversas plataformas.

Eu nunca ouvira falar em Ana Lee. Foi quando a primeira audição me perguntou: que cantora é essa, meu Deus? Que voz diferençada é essa que tanto me agrada? Que arranjos são esses, concebidos com tal beleza que os habilitaria – caso os arranjadores assim desejassem – a virar melodias que, nas mãos de um poeta, ganhariam versos e tornar-se-iam composições de respeito?

Belezas que envolvem melodia, harmonia e a voz, como um cobertor felpudo. Daqueles que despertam a vontade de ficar ali, protegido e aquecido, enquanto a sonoridade, quase sempre grave, nos vêm alma adentro.

Com arranjo de Bráu Mendonça e Ozias Stafuza, “Toada” (Cássio Grava e Zeca Baleiro) traz o som grave do violoncelo de Mario Manga, que se ajunta ao baixo de Paulo Bira, à guitarra portuguesa de Bráu Mendonça e ao violão de Ozias Stafuzza. Juntos, criam um desenho na região grave e, como um mantra, o repetem por inúmeros compassos. Amparada pelas percussões de André Magalhães e Ricardo Stuani, a atmosfera sonora, ouvida nas vozes de Ana Lee e Zeca Baleiro, tira a brasilidade para dançar. Belo início.

Com arranjo de Itamar Vidal e Lula Gama, Ana Lee inicia “Xote da Navegação” (Dominguinhos e Chico Buarque) cantando à capella: “Eu vejo aquele rio a deslizar/ O tempo a atravessar meu vilarejo (…). E logo vem o fagote de Luís Antonio Ramoska a imprimir no arranjo um clima de opulenta sabedoria. Energia engrandecida pelo som do clarone de Itamar Vidal, do violão de sete cordas de Lula Gama e das percussões de André Magalhães. Certamente, Ana encara com carinho que é chegada, enfim, a hora de se afirmar como uma grande intérprete: afinada, com bom sentido rítmico, sabendo o que canta e dando aos versos sentida emoção.

Com arranjo de Swami Junior, “Meia-Noite”, a linda canção de Edu Lobo e Chico Buarque, vem apenas com as cordas dos violões de seis e do requinto, além do baixo fretless de Swami. Em melódica introdução e num intermezzo arrebatador, as cordas conclamam Lee a soltar a voz. Sem gabolice, ela não nega fogo.

Outra bela canção é “Labirinto Azul” (que titula o álbum), de Lincoln Antonio e Walter Garcia. É quando se vê que os agudos de Lee são como seus graves, afinados incontestáveis. Ela vem acompanhada apenas pelo piano de Lincoln Antonio – e pra que mais? –, e se entrega à canção para, sem dúvida, derreter as almas fugidias.

Antonio Herci musicou o poema “O Amor É Uma Droga Pesada”, de Maria Rita Kehl. Com percussões de Ricardo Stuani e André Magalhães, e com Lee dobrando a própria voz, os versos finais traduzem o carisma da poetisa e da cantora: “(…) O amor é uma droga pesada/ E eu uma velhíssima mulher/ Gozando pela milésima vez/ A viagem infernal”.

E eu, que não a conhecia, tornei-me seu fã. Ana Lee há de ter um espaço para chamar de seu no mundo da música.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

 

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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