“Arraial”, um disco que é uma festa entre amigos, por Carlos Motta

“Arraial”, um disco que é uma festa entre amigos

por Carlos Motta

O Vento em Madeira, quinteto instrumental paulista, está lançando seu terceiro disco, “Arraial”. O nome sintetiza o espírito no qual ele foi criado, uma festa entre cinco amigos que se divertem e gostam de fazer música juntos. 

“Arraial” traz nove composições instrumentais inéditas, com direção musical de Teco Cardoso e engenharia de som de Homero Lotito, que trabalharam juntos na mixagem e masterização. Na execução, Léa Freire atua nas flautas, Teco Cardoso nos saxofones e flautas, Tiago Costa no piano, Fernando Demarco no contrabaixo acústico e Edu Ribeiro na bateria. O disco conta com a participação da cantora Mônica Salmaso, que usa a sua voz como um sexto instrumento do grupo. 

Teco Cardoso, ao explicar o trabalho do quinteto, diz que a música instrumental é “ultra necessária para mundo de hoje” e embora exija do ouvinte “uma atenção, uma concentração e uma entrega de audição”, ela permite às pessoas “sentir coisas e embarcar em viagens”. Para ele, “o mais legal dessa música é isso, é ela ter uma mensagem universal”.

Léa Freire completa: “A música instrumental é para você pensar o que você quiser, para você sentir o que você quiser, para você criar seu próprio enredo.”

O novo trabalho representa, segundo os músicos do grupo, o auge da maturidade na interação entre eles. “Arraial” é o álbum mais coletivo que já gravaram e isso se percebe, explicam os músicos, na criação das composições, na troca de experiências, e na intensa interação promovida pela convivência e explícita afinidade entre todos eles. 

Léa Freire explica mais detalhadamente o momento do quinteto: “O Vento em Madeira tem uma cara cada vez mais de grupo, de soma, amalgamando as diferentes personalidades de seus integrantes num coletivo coeso, afiado e feliz. Essa felicidade vem da busca pelo ambiente perfeito para a prática da música, que passa pela convivência frequente do ensaio, pela gastronomia, pelo humor e pelo respeito mútuo, para desembocar no criativo, na intimidade musical, no ouvir e até adivinhar o outro. Sinto também que esse trabalho fecha um ciclo e inicia outro. Prevemos voos em diferentes contextos musicais daqui para a frente, num processo completo de criação coletiva.”

O Vento em Madeira é originário de uma parceria entre Léa Freire e Teco Cardoso, iniciada na década de 70. O quinteto foi formado em 2008 e recebeu duas indicações no Prêmio da Música Brasileira em 2014, nas categorias “Revelação” e “Melhor Álbum Instrumental”, com seu segundo CD “Brasiliana”. 

Vem realizando shows no Brasil e exterior. Em 2016, fizeram uma turnê pela Inglaterra e País de Gales em turnê e desde 2015 o grupo vem desenvolvendo um projeto de formação de público e de divulgação da música instrumental, com workshows em faculdades de música, conservatórios e escolas, tendo, até agora, a participação de cerca de 3 mil alunos da capital paulista e Interior do Estado. 

As músicas, pelos seus autores:

1 – Samba da Lana (Léa Freire)

“Fiz para minha primeira neta, Lana, que mudou a minha vida. É um partido alto pequenino, com uma melodia no contratempo, que a certa altura transfere o batuque para o agudo enquanto a melodia fica no grave.”

2 – Azul Cobalto (Tiago Costa) 

“Surgiu de brincar com a figura rítmica de 5 contra 3. Escrevi na véspera de uma gravação de um projeto coletivo nos EUA em 2016. Me deixei levar pelo colorido de lá misturado com o lirismo das terra de cá. Lá, ganhou o nome de “Cobalt Blue” pelo seu tom de lamento noturno. Na versão de cá, ficou da cor do céu do fim da madrugada.”

3 – Maracatim (Edu Ribeiro)

“A palavra Maracatim não existe e nem adianta procurar nos dicionários. Foi o nome de batismo criado para a primeira música que fiz pensando exatamente nos músicos do Vento. Dentro da minha limitação como compositor e arranjador lembrei dos ensaios onde todos discutem que voz vão dobrar ou abrir ou responder enquanto o baterista faz palavra cruzada, e comecei então a ouvir na minha cabeça o Fernando tocando a linha de baixo, o Tiago tocando as melodias, o Teco e a Léa respondendo e assim foi saindo uma série de perguntas e respostas que mais parecia um exercício de improvisação onde você dá o motivo para o outro responder. Num dos primeiros ensaios onde ela apareceu, o Teco trouxe uma flauta contrabaixo para a Léa, Instrumento com uma sonoridade linda e a Léa comentou que queria usá-la no grupo. Imediatamente com a minha total falta de noção de arranjador fiz umas linhas para ela e adicionamos aquela sonoriDade grave na música que por sorte, contou com a ajuda de todos os meus amigos do grupo para o arremate. Os direitos podem até ser meus, mas a música é coletiva.”

4 – Temperança (Léa Freire)

“Feita para a cantora Liliana Herrero, com letra de Francesca Ancarola, que fala sobre as pessoas que enfrentaram ferro e fogo e continuam doces, como o aço doce, que sofre um processo a temperaturas altÍssimas. Liliana é argentina, Francesca, chilena. Daí o ar de chacarera.”

5 – Sete Almas (Teco Cardoso)

“Acordei de madrugada com uma linha de baixo em 7 por 8, com cara de quem não ia me abandonar facilmente caso não fizesse algo com ela, então da cama mesmo fui improvisando linhas melódicas sobre ela, que já vinham com uma segunda voz inclusa com a cara do Vento em Madeira. Resultado, nasceu o sol e “Sete Almas”, que dediquei inicialmente àqueles cujo conhecimento transcende uma só existência. No caso me lembrei inicialmente do Egberto Gismonti e a medida em que fui trabalhando as vozes e a harmonia, vi que tinha que incluir também o Wayne Shorter nessa homenagem.”

6 – Ares de Bolero (Léa Freire)

“Tirei essa do baú, é de 96. Gostei muito da cara que o Vento deu para ela, me dá vontade de dançar.”

7 – Pintou um Grilo (Léa Freire) 

“É um experimento visual de um grilo pulando, que acabou gerando compassos estranhos, mas que soa muito natural, quase pop, divertido e desafiador, bom de tocar, bom de ouvir. A parte mais difícil foi descobrir que raio de compasso era aquilo. Edu Ribeiro foi preciso: 31/16.”

8 –  Zezé (Léa Freire)

“É uma bossa que fiz para o melhor cachorro da história do universo, cujo nome completo era José Carlos Freire. Um pit bull de caráter irretocável, manso ao extremo, grande companheiro, tudo de bom.” 

9 – Arraial na Rumaica (Tiago Costa)

“Os encontros gastro-musicais regulares que iniciamos em 2008 até os dias de hoje tiveram imenso impacto no meu modo de compor – e possivelmente na minha silhueta. Quando fiz esta música levei ela intencionalmente incompleta para o ensaio na rua Rumaica, já sabendo que o nascimento dela se completaria nas primeiras passadas com o Vento. No esboço original já havia um pouco de cada um desses meus geniais amigos e nada mais lógico que levar o rebento pra receber a benção deles.”

O disco digital está disponível nas principais plataformas para download ou streaming.

Assista ao vídeo sobre a criação de “Arraial”: 

www.youtube.com/watch?v=jqSkbWBod3k

Clipe da faixa “Pintou um Grilo”: 

www.youtube.com/watch?v=jTYHxmwdanY&feature=youtu.be

Site do grupo:

www.ventoemmadeira.com

Redação

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