Brasil Negro, de Caco Velho

Compositor Caco Velho, um dos autores de “Mãe Preta”.

A letra da toada “Mãe Preta”, assinada por Caco Velho/Piratini, e gravada pelo Conjunto Tocantins, em 1943, é um doloroso retrato do “Brasil Negro”.

“Mãe Preta” (Caco Velho/Piratini: letra/música) # Conjunto Tocantins. Disco Continental (15107A), 1943.

Velha encarquilhada
Carapinha branca
Gandola de renda
Caindo na anca
Embalando o berço
Do filho do sinhô
Que há pouco tempo
A sinhá ganhou

Era assim que mãe preta fazia
Criava todo branco
Com muita alegria
Porém na lá senzala
Pai João apanhava
Mãe preta mais uma lágrima enxugava
Mãe preta, mãe preta,
Enquanto a chibata
Batia em seu amor
Mãe preta embalava

O filho branco do senhor.

Laura Macedo

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  1. No 30 de novembro dois dos

    No 30 de novembro dois dos poemas negros de Jorge de Lima

    Em Poesia Completa, Ed. Nova Aguilar

    ANCILA NEGRA

    Há ainda muita coisa a recalcar,

    Celidônia, ó linda moleca ioruba

    que embalou minha rede,

    me acompanhou para a escola,

    me contou histórias de bichos

    quando eu era pequeno,

    muito pequeno mesmo.

    Há muita coisa ainda a recalcar:

    As tuas mãos negras me alisando,

    os teus lábios roxos me bubuiando,

    quando eu era pequeno,

    muito pequeno mesmo.

    Há muita coisa ainda a recalcar

    ó linda mucama negra,

    carne perdida,

    noite estancada,

    rosa trigueira,

    maga primeira.

    Há muita coisa a recalcar e esquecer:

    o dia em que te afogaste,

    sem me avisar que ias morrer,

    negra fugida na morte,

    contadeira de histórias do teu reino,

    anjo negro degredado para sempre

    Celidônia, Celidônia, Celidônia!

    Depois: nunca mais os signos do regresso.

    Para sempre: tudo ficou como um sino ressoando.

    E eu parado em pequeno,

    mandigando e dormindo,

    muito dormindo mesmo.

     

    FOI MUDANDO, MUDANDO

    Tempos e tempos passaram

    por sobre o teu ser.

    Da era cristã de 1500

    até estes tempos severos de hoje,

    quem foi que formou de novo teu ventre,

    teus olhos, tua alma?

    Te vendo, medito: foi negro, foi índio ou foi cristão?

    Os modos de rir, o jeito de andar,

    pele,

    gozo,

    coração…

    Negro, índio ou cristão?

    Quem foi que te deu esta sabedoria,

    mais dengo e alvura,

    cabelo escorrido, tristeza do mundo,

    desgosto da vida, orgulho de branco, algemas, resgates, alforrias?

    Foi negro, foi índio ou foi cristão?

    Quem foi que mudou teu leite,

    teu sangue, teus pés,

    teu modo de amar,

    teus santos, teus ódios,

    teu fogo,

    teu suor,

    tua espuma,

    tua saliva, teus abraços, teus suspiros, tuas comidas,

    tua língua?

    Te vendo, medito: foi negro, foi índio ou foi cristão?

  2. A ´MÃE PRETA´ de um Brasil racista que a transforma em ´negra´.

        O Brasil ´negro´ do comentarista não é o mesmo Brasil da Mãe ´Preta´ de Caco Velho.

         A ´Mãe Preta´ do compositor era um ser humano que sofria com o tratamento cruel de seu amado.

        Como dizem os racistas: preta é a cor humana; a raça é ´negra´  para quem é racista. Eis um exemplar da linguagem racista: nós humanos podemos ter a cor da melanina mas não temos ´raças´. Menos ainda a ´raça negra´ aquela criada artificialmente pelo racismo no século 18 como a ´raça inferior´.

         O Brasil é de humanos pretos, pardos, brancos e miscigenados em geral em que ninguém está submetido à prisão de pertencimentos raciais conforme ensina SERGIO BUARQUE em ´Raízes do Brasil´: “o brasileiro é um ser nacional, livre, mutante”. O Brasil ´negro´ é esse dos racistas: presos a crenças raciais, imutáveis.

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