“Manifestação”, a canção de 32 artistas por direitos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A canção “Manifestação” foi escrita por Carlos Rennó, em homenagem aos 70 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em maio deste ano, com a interpretação de dezenas de artistas brasileiros. “E proclamamos que não se exclua ninguém, senão a exclusão”, é o refrão da música.
 
Criolo, Pericles, Rael, Rico Dalasam, Paulo Miklos, As Bahias e a Cozinha Mineira, Luedji Luna, Rincon Sapiencia, Siba, Xenia França, Ellen Oleria, BNegao, Filipe Catto, Chico César, Paulinho Moska, Pretinho da Serrinha, Pedro Luis, Marcelino Freire, Ana Canãs, Marcelo Jeneci, Márcia Castro, Russo Passapusso, Larissa Luz, Ludmilla e Chico Buarque, Camila Pitanga, Fernanda Montenegro, Letícia Sabatella e Roberta Estrela D’Alva, Siba Veloso e Marcelo Jeneci cantam a música.
 
Abaixo, a letra:
 

Manifestação

Letra de Carlos Rennó / Música de Russo Passapusso, Rincon Sapiência e Xuxa Levy

Aqui ´stamos na avenida,
Pelas ruas, pela vida,
Marchando com o cortejo
Que flui horizontalmente,
Manifestando o desejo 
De uma cidade includente 
E uma nação cidadã tra-
Duzido numa canção,
Numa sentença, num mantra,
Num grito ou numa oração…

… Por todo jovem negro que é caçado
Pela polícia na periferia; 
Por todo pobre criminalizado
Só por ser pobre, por pobrefobia;
Por todo povo índio que é expulso 
Da sua terra por um ruralista;
Pela mulher que é vítima do impulso
Covarde e violento de um machista;

Por todo irmão do Senegal, de Angola
E lá do Congo aqui refugiado;
Pelo menor de idade sem escola,
A se formar no crime condenado; 
Por todo professor da rede pública
Mal-pago e maltratado pelo Estado;
Pelo mendigo roto em cada súplica;
Por todo casal gay discriminado.

E proclamamos que não
Se exclua ninguém senão
A exclusão.

Aqui ´stamos nós de volta,
Sob o signo da revolta,
Por uma vida mais digna
E por um mundo mais justo,
Com quem já não se resigna
E se opõe sem nenhum susto
A uma classe dominante
Hostil à população,
Numa ação dignificante
Que nasce da indignação…

… Por todo homem algemado ao poste, 
Tal qual seu ancestral posto no tronco;
E o jovem que protesta até que o prostre 
O tiro besta de um PM bronco;
Por todo morador de rua, sem saída, 
Tratado como lixo sob a ponte;
Por toda a vida que foi destruída 
Em Mariana ou no Xingu, por Belo Monte;

Por toda vítima de cada enchente,
De cada seca dura e duradoura; 
Por todo escravo ou seu equivalente;
Pela criança que labuta na lavoura;
Por todo pai ou mãe de santo atacada
Por quem exclui quem crê num outro deus;
Por toda mãe guerreira, abandonada,
Que cria sem o pai os filhos seus.

E proclamamos que não se exclua ninguém 
Senão a Exclusão.

Eis aqui a face escrota
De um modelo que se esgota. 
Policiais não defendem;
Políticos não contentam;
Uns nos agridem ou prendem;
Outros não nos representam. 
E aquele que não é títere,
E é rebelde coração,
Vai no Face, no zapp e Twitter e
Combina um ato ou ação…

… Por todo defensor da natureza
E todo ambientalista ameaçado;
E cada vítima de bullying indefesa;
E cada transexual crucificado;
E cada puta, cada travesti;
E cada louco, e cada craqueiro;
E cada imigrante do Haiti;
E cada quilombola e beiradeiro;

Pelo trabalhador sem moradia,
Pelo sem-terra e pelo sem-trabalho; 
Pelos que passam séculos ao dia
Em conduções que cansam pra caralho;
Pela empregada que batalha, e como,
Tal como no Sudeste o nordestino;
E a órfã sem pais hetero nem homo,
E a morta num aborto clandestino.

Impelidos pelos ventos
Dos acontecimentos,
Louvamos os mais diversos 
Movimentos libertários
Numa cascata de versos
Sociais e solidários
Duma canção de protesto
Qual “Canção de Redenção”, 
Uma canção-manifesto,
Canção “Manifestação”…

… Por todo ser humano ou animal
Tratado com desumanimaldade;
Por todo ser da mata ou vegetal
Que já foi abatido ou inda há-de;
Por toda pobre mãe de um inocente 
Executado em noite de chacina;
Por todo preso preso injustamente,
Ou onde preso e preso se assassina;

Pelo ativista de direitos perseguido 
E o policial fodido igual quem ele algema;
Pelo neguinho da favela inibido
De frequentar a praia de Ipanema; 
E pelo pobre que na dor padece
De amor, de solidão ou de doença;
E as presas da opressão de toda espécie, 
E todo aquele em quem ninguém mais pensa…

E proclamamos que não se exclua ninguém 
Nem nada senão a Exclusão.

Dando à vida e à alma grande
Um sentido que as expande,
Cantamos em consonância 
Com os que sofrem ofensa,
Violência, intolerância,
Racismo, indiferença; 
As Cláudias e Marielles,
Rafaeis e Amarildos
Da imensa legião
De excluídos do Brasil, do S-
Ul ao norte da nação.

E proclamamos que não se exclua 
Ninguém senão a Exclusão.

 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Eles sabem o que fazem

    Por toda maldade humana

    Estúpida, Imbecil e Ignorante

    Que pelo poder, dinheiro e ganância

    Serve, feito penitente, ao ódio, ao caos e a intolerância.

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