Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
[email protected]

Canta, canta, Martinho da Vila

Reunindo seis filhos e uma neta em torno de si (Mart’nália, Analimar, Juju, Martinho Filho, Tunico da Vila, Maíra Freitas e Dandara) para gravar seu “Sambabook” (Musickeria) em DVD, CD e Blu-Ray, acompanhado de fichário com partituras, livro discobiográfico, site e aplicativo (direção artística de Afonso Carvalho), Martinho da Vila nos permite visitar sua ampla obra e melhor apreciar sua fluência no tempo, seu desenvolvimento histórico como autor.

Além de duas faixas-bônus, interpretadas pela Orquestra Petrobras Sinfônica, são 24 músicas divididas entre grandes intérpretes que se esmeram e dão o melhor de si em cada uma das canções (bem) escolhidas. Para tanto, com direção musical do cavaquinista Alceu Maia, eles contam com ótimos arranjos e instrumentistas.

Paulinho da Viola canta “Quem É do Mar Não Enjoa” (Martinho). Com seu jeito elegante de cantar, ele contrasta com a exuberância de Ney Matogrosso em “Ex-Amor” (Martinho). Show de bola de dois grandes intérpretes.

João Donato ao piano canta “Meu Laiá-Raiá” (Martinho). Seu jeito bossanovista realça a levada sambista de Moyseis Marques cantando “Renascer das Cinzas” (Martinho). Duas maneiras distintas, mas igualmente preciosas de mostrar o que é que Martinho da Vila tem.

Toni Garrido se entrega com vontade em “Deixa a Fumaça Entrar” (Beto Sem Braço e Martinho). Logo após, Martinho conta que fez “Odilê, Odilá” (dele e João Bosco) – interpretada delicadamente por Ana Costa – quando João e ele, buscando um lugar para beber a penúltima, viram uma baiana diante de um tabuleiro. Foram até ela. Ao vê-los chegar, ela sapecou “Odilê!”, saudação à qual Martinho respondeu “Odilá!”.

Para cantar “Filosofia de Vida” (Fred Camacho, Marcelinho Moreira e Martinho), Dorina se desmancha em brejeirice e encanta. Já Jair Rodrigues espalha sua histrionice em “Amor Não É Brinquedo” (Martinho e Candeia). Dois estilos para um só fim: louvar Martinho da Vila.

Pitty surpreende ao mandar muito bem em “Roda Ciranda” (Martinho).  Marcelinho Moreira, com sua competência, também arrasa cantando “Na Minha Veia” (Martinho e Zé Catimba). Cantores díspares, talentos iguais.

Maíra de Freitas canta ao piano “Fim de Reinado” (Martinho). Sua voz minimalista, afinada, suingada, amplia a de Paula Lima, fervorosa, interpretando “Grande Amor” (Martinho).

O Casuarina e Fernanda Abreu, esta com a bateria da Vila Isabel, cantam sambas-enredo, gênero no qual Martinho é bamba.

Ao fim, ele reúne todos os convidados para cantarem “Canta, Canta, Minha Gente”. Numa bela sacada, a mixagem vai destacando, uma a uma, a voz dos cantores que integram o grande coral.

E assim o mestre dá inestimável contribuição para que o mundo em que vivemos seja melhor. Martinho José Ferreira é o gênio que faz do público admirador cativo do seu jeito malandro de comer pelas beiradas. Assim ele constrói sua vasta obra musical. Mas, recatado que é, parece não se dar conta da importância que tem para a música.

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador