Enviado por Cris Kelvin
Marumbi-Pr, década de 60
Dizem que a memória é traidora e tendemos a modificar o passado, olhá-lo com indulgência e achá-lo melhor do que foi. O mesmo com certos tempos que não vivemos e se confundem com a cálida e confortável imobilidade desse colo que empresta e deriva ao sonho, às crenças e faz supor da caverna conhecê-los por chiaro-oscuros, lampejos, música que sem dizer nos fala como um redundante signo a que recorremos para traduzir um novo verbo. E eis o lugar das semelhanças e identificações, medusa ante a qual o poeta e leitor dialogam com a experiência do outro. Mas pela reflexão de seus escudos, sem trocar os pontos-de-vista.
Chorinho reencontrado
Bondes e Rios que não vi
os tenho por assim dizer
do tempo que eu vivi
sonhando meu armazém:
manhã, quintal – eu menino –
ao pé dos avós e cafés
e um bom Jesus sob os sinos,
sem cruz a o suspender.
A geada veio depois,
ainda não havia o devir,
nem a memória que flauta
essa falta por ouvir
o terno afeto, o chorinho
em carrilhos ao reler
no verso a melancolia
de Marumbis a haver
por descaminhos, é certo,
como enxerto no papel,
Bandeira em Pixinguinha
tocando em fuga o céu.
Hugo Abati
https://www.youtube.com/watch?v=2PXcBTmHS_A height:394
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Chorinho Reenconrado
Belo e reconfortante devaneio. A memória pode produzir prazeres vários…depende da trajetória de cada um…dos afetos de cada um…do meio familiar e social de cada um…podemos até chorar….. rindo. A emoção é o calibrador da memória.
Chorar sorrindo…
…acho que essa a alma da coisa, Vicente… algo que a ingenuidade do chorinho e a lírica da infância raduzem bem… reconforto (como um paradoxo) que dói porque queda perdidamente guardado….