Descobrindo Tom Jobim em 78 rpm, por Laura Macedo

O objetivo desta postagem é o resgate do início da carreira de Tom Jobim e suas primeiras gravações, inicialmente, em 78 rpm e depois em outros formatos.

Um dos seus primeiros sucessos, como arranjador e compositor, foi o samba “Tereza da praia”, em parceria com Billy Blanco. Essa música foi elaborada para duas grandes estrelas da gravadora Continental onde Tom Jobim trabalhava: Dick Farney e Lúcio Alves.

“Tereza da praia” (Antonio Carlos Jobim/Billy Blanco) # Dick Farney/Lúcio Alves [arranjo Tom Jobim]. Disco Continental (16.994-A) / Matriz (C-3401). Gravação (07/06/1954) / Lançamento (junho/1954).

Tudo começou por volta de 1950, quando Tom era recém casado, entrou para a gravadora Continental. Uma das suas funções era passar para o papel as músicas que chegavam a gravadora. Alguns anos mais tarde ele já dava conta também dos arranjos das músicas gravadas pelo selo Continental.

Vamos ouvir agora Tom Jobim e sua Orquestra acompanhando Dalva de Oliveira. Ouçam a delícia do piano de Tom Jobim.

“Há um Deus” (Lupicínio Rodrigues) # Dalva de Oliveira. Disco Odeon (14.259-A) / Matriz (11737). Gravação (06/05/1957) / Lançamento (1957).

Encontro de Tom Jobim com Vinicius de Moraes resultou numa das principais Duplas da MPB.

Por volta de 1956, Vinicius de Moraes, procurava um compositor para musicar sua peça “Orfeu da Conceição”. O jornalista/crítico musical Lúcio Rangel circulava nas melhores rodas da boemia e cultura da Cidade Maravilhosa. E foi na Casa Vilarino que ocorreu um episódio, hoje, lendário.

Tom que vivia com o salário contado logo perguntou ao Lúcio: “Tem um dinheirinho nisso?”. Ao que Lúcio Rangel, reagiu: “Como é que você me fala em dinheiro, diante de um convite desses? Tom, este é o poeta Vinicius de Moraes!

“Frevo de Orfeu” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # Wanda Sá/Célia Vaz.

Depois da peça veio o filme “Orfeu do Carnaval”, em 1959, ganhando o Oscar de melhor filme estrangeiro, dirigido pelo francês Marcel Camus.

Agora vamos ouvir duas composições da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes para o filme “Orfeu do Carnaval”.

“O nosso amor” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # Diana Montêz. Disco Polydor (324-A) Matriz (POL-3657). Gravação (24/07/1959)

“A felicidade” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # Carlos Augusto. Álbum ‘Falando ao coração’. Disco Polydor, 1959.

Outro que gravou “A felicidade” foi Agostinho dos Santos acompanhado por Tom Jobim ao piano. Uma maravilha! Essa gravação não chegou a ser lançada por ter sido considerada muito moderna para a época. Confiram no vídeo abaixo.

“A felicidade” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # Agostinho dos Santos [voz] / Tom Jobim[piano]. Gravação RGE (23/07/1959).

Pelos anos de 2000 a Gravadora ‘Revivendo’ lançou uma coleção de três CDs com gravações muito pouco conhecidas das composições de Tom Jobim, ou seja, as primeiras gravações do Tom. Foi batizada como “Coleção – Tom Jobim Raros Compassos”.

O que surpreendeu foi uma dupla caipira cantando Tom Jobim. E o enigma era: quem são as componentes da dupla caipira feminina, identificada apenas como “Mara e Cota”, interpretando – “Eu não existo sem você” e “Eu sei que vou te amar”, gravadas em outubro de 1959 na Odeon? Chega de suspense: Mara e Cota eram pseudônimos que escondia as identidades secretas de Sylvinha Telles e Stelinha Egg.

Durante décadas ninguém conseguiu desvendar mistério. Quem finalmente desvendou foi o pesquisador e escritor Ruy Castro.

“Eu não existo sem você” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # Mara & Cota [Sylvinha Telles/Stelinha Egg]. Disco Odeon (14.556-A) / Matriz (13898). Gravação (30/10/1959) / Lançamento (novembro/1959).

“Eu sei que vou te amar” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # Mara & Cota [Sylvinha Telles/Stelinha Egg]. Disco Odeon (14.556-B) / Matriz (13899). Gravação (30/10/1959) / Lançamento (novembro/1959).

O cantor Albertinho Fortuna, também, gravou – “Eu sei que vou te amar”

“Eu sei que vou te amar” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # Albertinho Fortuna. Disco Continental (17.720-A) / Matriz (C-4194). Lançamento (setembro/1959).

Continuando com mais uma das preciosidades da Coleção “Tom Jobim – Raros Compassos”.

“Por causa de você” (Tom Jobim/Dolores Duran) # Vera Lúcia. Disco Continental (17.574-A) / Matriz (C-4095). Lançamento (julho/agosto/1958).

“Se todos fossem iguais a você” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # Vicente Celestino. Disco RCA Victor (80.2050-A) / Matriz (13K2PB0581). Gravação (30/01/1959) / Lançamento (abril/1959).

Outra grande estrela da turma do gramofone canta Tom Jobim: Isaura Garcia acompanhada de Walter Wanderley e seu Conjunto.

“Meditação” (Tom Jobim/Newton Mendonça) # Isaura Garcia. Disco Odeon (14.575-A) / Matriz (50336). Gravação (19/10/1959) / Lançamento (dezembro/1959).

“Canção da eterna despedida” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # Orlando Silva. Disco RCA Victor (80.2433-A) / Matriz (N2CAB-1580). Gravação (05/02/1962).

“Estrada do sol” (Tom Jobim/Dolores Duran) # Maria Helena Raposo. Disco Molambo (15.211-A) / Matriz (R-939), 1958. [Perceberam o sopro de lindas flautas?]

“Dindi” (Tom Jobim/Aloísio de Oliveira) # Sylvinha Telles [voz] / Rosinha de Valença [violão]. Disco Odeon (14.551-B) / Matriz (13866). Gravação (15/10/1959) / Lançamento (novembro/1959).

Vamos encerrar com – “Chega de Saudade” – de Tom Jobim/Vinicius de Moraes, gravada por João Gilberto, um marco na história da nossa Música Popular Brasileira.

“Chega de saudade” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) # João Gilberto. Disco Odeon (14.360-A) / Matriz (12725). Gravação (10/07/1958) / Lançamento (agosto/1958).

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Fontes:

– Áudios SoundCloud / Montagem: Laura Macedo.

– Base de Dados do Arquivo Nirez (AQUI).

– Fotomontagem: Laura Macedo.

– Portal Cultura Brasil / Fundação Padre Anchieta (AQUI).

– Site YouTube/Canais: “professor raionald”, “luciano hortencio”, jazznik2”, “FabyoAOKi”, “Ana Constança Messeder”, “Pedro Salomao”, “Irapuran Marques da Silva”, “George Kaplan”, “Paulo Baritono” , “fungenti”, “alfeuRIO”.

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Laura Macedo

10 Comentários

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  1. Durante certo tempo…

    … levado pela crítica musical  que forma mundividências – – aí pelos final dos 700,  início dos 80 – acreditava , que a música de Tom Jobim era elitista. Essa noção falsa  vinha de quem esperava que o cancioneiro brasileiro se adequasse  às necessidades do momento histórico  ou de quem queria  colher audiência com  e embate  e intriga. Com o tempo, percebi que a crítica não tinha razão de ser. Não apenas por tentar fundamentar o seu discurso como alienação de quem fala só em amor,  sol e mar ( uma coisa não esxclui a outra)  mas porque percebia em Tom Jobim as raízes de nossa cultura, sua beleza e sua dor.    Há alguns anos atrás, confirmei o que compreendia, Drante uma conversa com o  escritor Raduan Nassar ele observou: “Tom Jobim é popular”.  Sua obra está aí, para quem quiser  ou tiver a oportunidade de ouvir, sem preconceito. Cantando a  o copo de mar para navegar (Jorge de iIma) em um  tempo sombrio

    Parabéns, Laura,  pelo resgate.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=VIzE4X07W9w%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=W6hEHSy_J3g%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=E1tOV7y94DY%5D

     

     

     

     

     

     

     

     

    1. Excelente comentário!

      Cris Kelvin,

      Adorei seu comentário! Pertinente e atual, assim como a grande obra do Maestro Soberano Tom Jobim.

      Os grandes compositores que deixam a veia artistica fluir sem remosos, sem obsessão, fazem parte do time dos campeões.

      “Só tinha de ser com você” (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira) # Tom Jobim, 1964.

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=GrqUU5AE7Nk%5D

      Grande abraço!

    1. Feliz por você ter gostado!

      mcn,

      “Solidão” (Tom Jobim/Alcides Fernandes) # Tom Jobim, 1954.

      A historinha de bastidores dessa canção é a seguinte:

      “Alcides Fernandes era marido de Silvia, uma diarista que prestava serviços á mãe de Tom e depois passou a trabalhar na casa do maestro. Inúmeras vezes Tom ia até a favela onde Alcides morava e lá permanecia horas a fio; às vezes, ficava compondo com o amigo e Sá retornava de madrugada.

      Sambista de morro, autor de músicas de carnaval, Alcides trabalhava numa sociedade arrecadadora de direitos autorais. Foi ela quem indicou Tom, logo no início da carreira, para fazer parte de uma sociedade de compositores. Juntos fizeram cinco canções”. “Solidão” foi gravada por Tom Jobim [instrumental] / por Nora Ney [1954]. Em 1986 por Caetano Veloso. Em 1991 foi a vez da interpretação de Gal Costa.

      Grande abraço!

      Tom Jobim / Instrumental.

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=OG1jWXTg11E%5D

      Nora Ney (1954)

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=5Yw4E2u8Aso%5D

      Caetano Veloso (1986)

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=qC_aWAYr5nU%5D

      Gal Costa (1991)

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=qnJaf-hCqLA%5D

  2. Bacanérrimo

    Muito rico e pertinente o post. Conheço bastante a obra e a vida de Tom Jobim, e penso que ele foi não apenas um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, como foi também um dos mais lúcidos intérpretes e conhecedores do país chamado Brasil.  O post de Laura Macedo mostra isso com toda a clareza, e mostra também como era o país cuja história cultural foi profundamente atacada e interrompida pelo golpe de 1964. Muitas das pequenas gravadoras então existentes, como o Selo Festa de Irineu Garcia e o Elenco de Aloysio de Oliveira (que aparece na foto ao lado de Jobim e Sylvia Telles foram obrigados a fechar as portas, interrompendo o trabalho de alta qualidade que vinha sendo feito em diversas áreas culturais e intelectuais. Há um outro disco sobre esse momento da vida e obra de Tom lançado pela Revivendo chamado Meus primeiros passos e compassos, mas o Raros Compassos eu não conhecia. São muito divertidas as gravações da dupla “Mara e Cota” (rsrs). É muito difícil qualificar a música de Jobim como popular ou erudita, pois ele recebeu em sua formação o que havia de melhor nas duas áreas, tendo aulas com maestros como Radamés Gnatalli e Alceo Bochinno, ao mesmo tempo em que compunha sambas com Alcides Fernandes, o marido da diarista, como bem lembrado pela Laura. No momento em que parecemos estar perdendo mais uma vez o país para as oligarquias internacionais, é cada vez mais importante que nos atenhamos a figuras como Antônio Carlos Jobim, pois ele amava profundamente o Brasil e sua obra nos comunica com o que temos de melhor. Parabéns ao Nassif, à Laura e ao Cris kelvin!

     

    1. Assino embaixo!

      Caríssimo comentarista Carlos Ernest Dias,

      Confesso que seu comentário me tocou profundamente ao falar do contexto que reinava à época onde nossos artistas foram censurados e bloqueados pelo famigerado golpe militar de 1964. Realmente as excelentes gravadoras, como você bem citou, não tiveram o fôlego necessário para continuar no mercado fonográfico. Nosso Maestro Soberano soube transitar nas vertentes popular e erudita com bastante desenvoltura. Acho que o grande maestro Radamés Gnattali teve papel fundamental nessa consolidação.

      Grande abraço!

      “Chovendo na  roseira” (Tom Jobim) # Radamés Gnattali.

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=8rqyvb17BxY%5D

       

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