Dona Ivone Lara, a força da mulher na música popular brasileira, por Carlos Motta

Dona Ivone Lara, a força da mulher na música popular brasileira

por Carlos Motta

A música popular brasileira deve muito às mulheres. Muitas delas a engrandeceram e a ajudaram a se tornar um dos mais ricos tesouros da humanidade.

Essa volumosa corrente de beleza, todos sabem, começou com a revolucionária, em todos os sentidos, Chiquinha Gonzaga, lá pelo fim do século XIX.

O trabalho da maestrina deu frutos extraordinários – a lista de instrumentistas, cantoras e compositoras populares brasileiras é imensa, em quantidade e qualidade.

Uma, porém, merece todas as homenagens possíveis. Trata-se de Ivone Lara, ou melhor, Dona Ivone Lara, nascida em 13 de abril de 1921, no Rio de Janeiro, prestes, portanto, a completar gloriosos 97 anos de idade.

Dona Ivone Lara, a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba, a sua querida Império Serrano, é autora de dezenas de composições que se tornaram clássicos da música popular brasileira – “Sorriso Negro”, “Acreditar”, “Sonho Meu”, “Quem Disse Que eu te Esqueço”,  “Nasci Pra Sonhar e Cantar”, “Tiê”, “Sorriso de Criança” e “Força da Imaginação” são apenas algumas de suas canções mais conhecidas.

Seu parceiro mais constante foi Délcio Carvalho, também como ela um intérprete de voz rara.

A vida de Dona Ivone Lara daria um filme, um filme dos bons. Sua vida e obra podem ser conhecidas no site que leva o seu nome (clique aqui).

E enquanto essa excepcional artista aguarda as homenagens do Brasil oficial, o Brasil real não para de prestar tributos a ela. São várias as músicas compostas em louvor da “Grande Dama do Samba”. Uma delas, “Canto de Rainha”, dos grandes Arlindo Cruz e Sombrinha, se destaca. O vídeo abaixo é uma beleza só – uma beleza que evoca um país gigante, que se faz anão por culpa de alguns homens sem música em suas almas.

https://www.youtube.com/watch?time_continue=164&v=eaMCkbikUGw

Canto de Rainha

(Tentando)

Tentando esquecer os amargos da vida
Um dia saí
E consegui disfarçar minha solidão
Pois descobri algo mais que a inspiração

Quando ouvi Ivone cantar
E vi toda a poesia pairar no ar

Seu canto entrou na minha vida
E fez o que quis
Hoje até posso afirmar
Samba é minha raiz
Quem nasceu pra sonhar e cantar
E tem sorriso de criança
Pode embalar em cada canto uma esperança
E eu descobri o que é viver
E não é sonho ver
O fruto de tanta maldade desaparecer
Se o mundo inteiro ouvir
Ivone cantar ao alvorecer
(Mas olha)
Olha como a flor se acende
Se o mundo inteiro ouvir
Ivone cantar ao alvorecer
Tiê, tiê
Oia lá, oxá
Se o mundo inteiro ouvir
Ivone cantar ao alvorecer
(Acreditar)
Acreditar eu não
Se o mundo inteiro ouvir
Ivone cantar ao alvorecer
(Liberdade)
Liberdade
Se o mundo inteiro ouvir
Ivone cantar ao alvorecer
Força da imaginação, vai lá
Se o mundo inteiro ouvir
Ivone cantar ao alvorecer
(Sonho meu)
Sonho meu, sonho meu
Se o mundo inteiro ouvir

Ivone cantar ao alvorecer

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Depoimento de Zélia Duncan sobre Dona Ivone Lara

    Todos os que conhecem, desfrutam, respeitam e deleitam-se com a obra e a personalidade de Dona Ivone Lara, reconhecem a compositora musical e incrivelmente intuitiva, somada à cantora, dona de uma voz cujo timbre embala, conduz, convida o ouvinte e confirma o poder do samba e da Música Popular Brasileira. Seus famosos e cobiçados contra-cantos revelam nas canções as mais lindas melodias, que estavam ali sem que ninguém se desse conta. É a música dentro da música, a beleza no fundo da própria beleza. Seu timbre de mãe, de raiz, de olho d’água, faz parte do que há de mais sincero e fundamental na nossa cultura. Assim como os improvisos de Pixinguinha, a força de Clementina, a poesia de Cartola, as músicas de Caymmi, sem esforço, sem artimanhas, repousam na sua grandeza.

    Numa conversa extremamente agradável e descontraída, na casa do querido compositor Moacyr Luz, Dona Ivone revelou serenamente, que muitas vezes sonha com música, canta dormindo e acorda lembrando das melodias inteiras… achei isso tão revelador, tão poético, tão predestinado. É como se uma pessoa como ela, tivesse o direito de ser a preferida de alguém lá em cima. Vai ver que Morfeu em pessoa, cuida para que seu sono seja assim, embalado por melodias, harmonias, contracantos, que só Dona Ivone vai saber reproduzir quando acordar! Então ela acorda, munida das mais belas canções… e nos faz sonhar! Dona Ivone é um sonho meu, um sonho seu, nosso melhor sonho, pois ela é real!

    Zélia Duncan

     

    Fonte: http://www.memoriavisual.com.br/catalogo/biografias/album-retratos-som-dona-ivone/

  2. Os contracantos de Dona Ivone Lara

    Os “famosos e cobiçados contracantos” de Dona Ivone Lara, que Zélia Duncan menciona, provavelmente, foi um aprendizado que fez quando ainda menina cantava no coral de canto orfeônico dos Apinacás, da Rádio Tupi, cujo regente era Heitor Villa-Lobos, o próprio.

    Não sei de outro cantor ou cantora de samba que domine esse tipo de improviso vocal com a beleza e o lirismo que ela fazia.

    No vídeo abaixo, em duo com a grande Nilze Carvalho, dá pra se ouvir um pouco dessa arte única. Enquanto Nilze canta a letra, Dona Ivone Lara improvisa, soberana.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=KvuE40S_3KI%5D

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador