Por mcn
Acrescentando uns pitacos aos belíssimos posts desta semana em homenagem aos 100 anos de Dorival Caymmi, gostaria de falar um pouco sobre a inusitada canção Sargaço Mar.
Quando se for esse fim de som
Doida canção
Que não fui eu que fiz
Verde luz verde cor de arrebentação
Sargaço mar, sargaço ar
Deusa de amor, deusa do mar
Vou me atirar, beber o mar
Alucinado desesperar
Querer morrer para viver com Iemanjá
Iemanjá, odoiá…
Foi a última canção praieira de Caymmi. Última em todos os sentidos. Em termos temáticos, a última da série marinha iniciada nos anos 1940. Em termos poéticos, a última expressão da alma que morre, se dilui na divindade líquida e deixa de existir.
Filosoficamente falando, não concordo muito com essa visão panteísta de Caymmi, mas impossível não se deixar arrebatar pela impactante e estranha beleza de Sargaço Mar.
Há um podcast no site do Instituto Moreira Salles, com texto e narração do músico Paulo da Costa e Silva, destrinchando ponto a ponto essa canção (16 min – aqui):
“Sargaço Mar é uma canção que espanta. Espanta por sua estranha beleza, cercada de mistério. Pela irresistível aura de misticismo que exala. E pela profundidade da sabedoria que ecoa. Ela reflete a maturidade de um mestre absoluto do artesanato da canção. De um criador que durante toda a vida manteve seus olhos fixos no mar”.
Na biografia escrita por sua neta, Stella, há um episódio curioso sobre essa música. A primeira vez que Caymmi a cantou foi num show com Gal Costa, no RJ, em 1976. Caetano Veloso que assistia a estreia, alucinou ao ouvir a canção. Voltou todos os dias da turnê só para ouvi-lo cantar novamente. Uma nova canção de Caymmi era um acontecimento. Depois, tentou de todo jeito a autorização para que Maria Bethânia a gravasse, mas Caymmi não deixou: queria ser o primeiro a registrá-la em disco.
A gravação dele é bonita. Nana e Alice Caymmi e outros também a gravaram. Mas, para meu gosto, a versão de Adriana Calcanhotto com o violão de Gilberto Gil é sublime.
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