Em Roma de Janeiro, carnaval o ano inteiro: a “roda di samba” do Coletivo do Bigode

Em Roma de Janeiro, carnaval o ano inteiro: a “roda di samba” do Coletivo do Bigode

por Francy Lisboa

Dando continuidade à série “Quando Roma é Mais Brasil”, trago o artigo da amiga Clara Queiroz, o qual disserta sobre a força do samba na cidade de Roma – Itália. Em especial, o lindo trabalho desenvolvido pelo Coletivo do Bigode nas entranhas da boemia romana no bairro de San Lorenzo.

Por Clara Queiroz

Todo domingo, faça chuva ou faça sol – e, às vezes, até neve – tem roda de samba com o Coletivo do Bigode no Baffo della Gioconda, em San Lorenzo, bairro universitário e alternativo de Roma, Itália. Uma comunidade de brasileiros saudosos, italianos entusiasmados e estrangeiros curiosos têm ali garantido um ponto de encontro que virou tradição. É uma das mais queridas rodas de Roma.

O grupo foi fundado no verão de 2013 por italianos apaixonados pela música brasileira e hoje é formado por 8 elementos. Violão, 7 cordas, cavaco, pandeiro, surdo, tantã, reco-reco, tamborim, repique de mão, cuíca, agogô e ganzá. Não falta nada.

O nome do grupo vem da brincadeira com a palavra Baffo, bigode em italiano. A associação cultural sem fins lucrativos, além de organizar a roda, promove outras atividades, a maioria gratuitas. Aulas de samba no pé, degustação de comidas de boteco, laboratórios de percussão e de português. As letras dos sambas são a base das aulas, o que aumenta o coro. A casa também projeta filmes brasileiros e, recentemente, promoveu um debate sobre a violência policial nas favelas do Rio de Janeiro.

Regado a caipirinha, o pagode começa tímido, mas não demora a contagiar. O repertório inclui bossa nova, samba enredo, samba de raiz, pagode e funk carioca. Na mesa dos músicos e convidados – profissionais e amadores – a cerveja bem gelada não pode faltar.  A noite avança e palco e platéia se fundem, todos no coro e na palma da mão.

Irene, 35 anos, professora de línguas e romana “da gema”, diz: “Eu descobri o samba aqui. Conhecia só o desenho animado do Zé Carioca e Pato Donald! (Aquarela do Brasil, 1942)”.  E admite sorrindo: “ Acho que mesmo se um dia eu puder ir no Brasil, o samba no Baffo continuará sendo o meu primeiro amor, o primeiro contato com o samba.”

Samba Cacio e Pepe

Além dos clássicos do samba, o Coletivo gravou e toca na roda repertório próprio (vídeo) que versa sobre o cotidiano e a vida metropolitana de Roma, além de propor arranjos originais para músicas italianas e romanas. “É o samba ‘cacio e pepe’!”, descreve o cavaquinista Pierpaolo Skaccia, em uma referência ao prato mais popular da cozinha romana. (Tanto pe canta)

Roma 40 graus

No verão, quando a temperatura beira os 40 graus na sombra do Coliseu, a roda sai do Baffo e ocupa a rua, enchendo de gente e alegria a praça Santa Maria Immacolata. E, quando acontece, não estamos mais no centro de Roma, estamos em Roma de Janeiro. Para Evandro dos Reis, músico de São Paulo e convidado especial do Coletivo, “a roda de samba do Bigode é a continuação natural das rodas de samba brasileiras. É tocada por músicos apaixonados, assim como os músicos que fazem roda de samba do Brasil. Músicos que aprenderam a arte assistindo a velha guarda, assim como nós aprendemos um dia. Então, não vejo nenhuma diferença”.

Além de se apresentar por toda a cidade, desde 2016 o Coletivo promove um “gemellaggio”  (agregação) com outro grupo de samba, o Galera de Rua  de Nápoles.  Está formada a “Mega Roda de Samba”, um verdadeiro “arranjo territorial sambístico”. A intenção é fortalecer laços e valorizar a cultura da união. E, claro, fazer muita festa.

A roda de samba dessa vez explode em cores, vitalidade e potência e ocupa os becos e ruas do bairro mais popular de Nápoles (I Quartieri Spagnoli). Dezenas de músicos compartilham a mesa. Na praça lotada, os sambas dividem espaço com o rumor das motocicletas, o zum zum zum das crianças, os panos pendurados nas janelas, os cheiros e os gritos dos vendedores de comidas de rua.

Em tempos difíceis no Brasil, na Itália, pelo jeito, ninguém deixa o samba morrer, nem deixa o samba acabar.

 

LINKS

Soundcloud: https://soundcloud.com/coletivo-do-bigode

Facebook: https://www.facebook.com/coletivodobigode

Instagram: https://www.instagram.com/coletivodobigode/

 

 

Redação

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