Na sexta-feira, tive um dos dias mais emocionantes de minha vida. A convite do grande Fernando Faro, gravei um programa “Ensaio”, com composições próprias.
Faro me conheceu nos idos dos anos 60, quando produzia os festivais universitários da TV Tupi. Estava no colegial, mas conseguia na Faculdade de Filosofia de Poços uma declaração de que era aluno de lá.
Dos 16 aos 20 segui a carreira de compositor. Diria que cheguei à maturidade musical aos 20, quando venci uma das etapas da Feira Permanente de Música Popular Brasileira, da Tupi, indo para a final tendo como competidores duas músicas de Jorge Ben (entre os quais o clássico “Domingas”), duas de Paulinho da Viola (“Foi um rio que passou em minha vida” e “Papéis”) e uma da revelação Suely Costa (“Flor da Campina”). Minha música se chamava “Congresso Internacional do Medo”, feita em parceria com João Cleber Jurity. A final acabou não acontecendo, por conta da crise da Tupi.
Acontece que aos 20 me tornei jornalista. E o jornalista matou o compositor. A composição exige concentração em todos os momentos, assim como o jornalismo. Sabia que poderia fazer uma carreira razoável como compositor, mas jamais me ombrear com os maiores. E, apesar do fascínio da música, as palavras sempre foram o meu forte, e o jornalismo, a paixão maior.
De lá para cá, as composições rarearam. Durante logo período compus poucas músicas, duas celebrando o nascimento das minhas duas filhas mais velhas, a Mariana e a Luiza. Há cerca de cinco ou seis anos atrás mergulhei de novo na música, intensamente mas por curto espaço de tempo, inspirado pelo teclado que passei a usar. O teclado abre novas perspectivas para o compositor. O violão deixa a melodia muito intuitiva e próxima da voz e da fala. O piano permite voar para outros limites.
Desse conjunto de composições, houve duas parcerias com Vicente Barreto (ele na música, eu na letra), uma com Jorge Simas (“Restos de Saudade”, magnificamente interpretada pelo Renato Braz e pelo conjunto Flor Amorosa”), com Alexandre Lemos (letristas de duas valsas minhas). Foi composto também um dobrado, gravado pela Banda da Polícia Militar de São Paulo, e um conjunto de valsas.
Foi um período dolorido, de acerto final de contas com fantasmas do passado onde, mais uma vez (a exemplo do período da adolescência) a música e a composição foram minhas companheiras preciosas.
O “Ensaio” contou com a participação da cantora Verônica, uma graça de sambista que se apresenta às segundas feiras no “Ó do Borogodó”, com o “Canto Quatro”, um clássico dos conjuntos vocais dos anos 70, que está de volta com outra formação; acompanhamento do Zé Barbeiro, o melhor sete cordas da atualidade. E duas interpretações antológicas da Fabiana Cozza, para as valsas com Alexandre Lemos. Quando Fabiana terminou, o público (operadores, técnicos, produtores e músicos) ficaram uns dez segundos meio catatônicos, depois explodiram em uma salva de palmas.
Ainda não sei quando o programa vai ao ar, mas, graças ao Faro, atendi a um desejo de dona Teresa, cuja influência me tornou jornalista: a, de um dia, gravar as músicas que compus naqueles tempos que não voltam mais.
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