Maestro Isaac Karabtchevsky
Por Henrique Marques Porto
A demissão do maestro Isaac Karabtchevsky (a pedido ou não) da Presidênca do Theatro Municipal do Rio de Janeiro é péssima notícia para a vida musical carioca. Alguém poderá dizer que este humilde comentarista está pensando com uns parafusos de menos na cabeça. Afinal, na gestão do maestro a programação do TM foi muito fraca, marcada pela improvisação, e pela carência de planejamento, apesar das suas melhores intenções e das boas ideias e projetos que certamente ele devia ter em mente para a casa, inclusive a captação dos recursos financeiros necessários para programar uma boa e variada temporada de arte, como exige o público do Rio e de outros estados. Saiu e ninguém sabe ao certo as motivações. Contudo, existem suspeitos de terem contribuído, ou mesmo maquinado a saída do maestro Isaac.
Seria bom explicar melhor
Não quero cometer a audácia de ficar dando sugestões ao maestro Isaac, mas creio que ele já deve ter percebido que o episódio precisa ser esclarecido para não ficar boiando nas marolas das versões disse-que-disse das notinhas das colunas, inclusive as especializadas em fofocas mundanas e temas que nada têm a ver com arte e música. Só o maestro pode colocar os pingos nos ii.
Outra pequena parte do que circula em notas curtas da imprensa quem deve esclarecer é a Secretaria de Cultura. Diz a Secretária que também foi demitido, ou demitiu-se, o Sr. Emílio Kalil, que assessorava o maestro Karabtchevsky. Como assim, Dona Doris? Como pode a Secretaria “demitir” alguém que jamais “contratou”? Cada uma… Também não encaixa a justificativa, no melhor estilo desculpa esfarrapada, de “problemas de agenda” do maestro. Ora bolas, ele já tinha essa agenda quando assumiu o cargo! Ou não tinha?
O fato é que o maestro Isaac conseguiu o que muitos tentaram antes dele sem nenhum sucesso. Em muitos anos. Ele conquistou o apoio dos artistas do Municipal. Além disso, têm o respeito e a admiração do público. Todos -artistas e público- estavam esperançosos de que o TM, dirigido por Karabtchevsky, tinha reais possibilidades de recuperação e reerguimento no médio prazo. Apenas para lembrar, foi o maestro que, de público, pediu ao Governador do Estado maior atenção ao Theatro Municipal, mencionando a necessidade de maior suporte financeiro. Terá sido esta a razão dos conflitos que culminaram com o seu afastamento? É possível.
Governantes apreciam os funcionários subservientes, que não reclamam por melhor posição no orçamento e são dóceis a seus interesses, algo difícil de acontecer na área da cultura quando o funcionário é pessoa séria e comprometida com a arte.
Terceirização?
Mas, pode ter coisa pior nessa encrenca. Há quem suspeite –com fundadas razões- que, por trás da demissão do maestro Isaac Karabtchevsky estaria uma nova tentativa de terceirizar o Theatro Municipal, como foi tentado em 2009, e entregá-lo a alguma OS (Organização Social) dessas que existem por aí, algumas sendo investigadas pelo Ministério Público e pelos órgãos de fiscalização do Estado. Se essa hipótese se confirmar, o Governo de Luiz Fernando Pezão terá pela frente fortíssima oposição. O bom senso recomenda que ele ouça com muita cautela seus conselheiros para essa área.
Futuro
O futuro presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio terá pela frente grandes desafios. O primeiro deles será conquistar de imediato a confiança dos funcionários da instituição e também do público. Belos discursos vazios, recheados com as frases de efeito de sempre, não funcionarão!
A Orquestra quer tocar. O Coro e os solistas querem cantar. Os bailarinos e bailarinas querem dançar. São funcionários da casa e estão lá para isso. É o seu trabalho e o público quer vê-los trabalhando no mais nobre palco do Estado.
Se quem chegar ao TM para ocupar o posto do maestro Isaac Karabtchevsky não apresentar projetos sólidos, exequíveis e capazes de conquistar a confiança da comunidade musical do Rio de Janeiro terá pouquíssimas chances de sucesso. Não importa o quão festejado (a) seja.
O Municipal do Rio, apesar de pauperizado e mal tratado por sucessivas administrações é ainda alvo da cobiça de muitas pessoas e grupos de pessoas, cujos egos se inflam diante da hipótese de dirigi-lo. O que se quer é algo bem simples: seriedade e compromisso sincero com uma instituição tão importante como o Municipal do Rio. De forma discreta e lentamente Isaac Karabtchevsky vinha semeando. Saiu e a colheita aparentemente está perdida. O que plantará o seu sucessor é um mistério. Trocaram o que podia dar certo pelo imponderável. O Municipal do Rio definitivamente não é um teatro para principiantes.
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Quantos anos ele tem?
Quantos anos ele tem?
Athos,
Ele está com 80 anos e
Athos,
Ele está com 80 anos e com uma agenda, nacional e internacional, de fazer inveja a maestros jovens. Creceram hoje as suspeitas de que deram uma rasteira no maestro.Várias demissões estão acontecendo. Algumas a pedido, em solidariedade ao Karabichevsky.
Abraço,
Henrique
Não se surpreendam…
… se amanhã o Theatro Municipal do Rio virar templo evangélico. Já realizam cultos dentro do congresso de um estado declarado laico, por que haveria limites para o “realismo político” da fisiologia que ocupa o poder? Tudo é uma questão de acertos políticos para garantir “governabilidade”, a reeleição, a perpetuação no poder. Vivemos uma situação em que um governo de “progressista” entrega bens público, para concessões privadas, não estranhem o dia em que o Municipal será palco do domingão do faustão, e ainda terão a cara de pau de chamar isso de promoção da cultura.
ESTADO LAICO
Estado laico não quer dizer que não possa haver expressão de sentimento religioso dos seus cidadãos que são laicistas. O Estado é laico no sentido de ter uma única religião oficial, mas não que sua grande maioria de componentes venha a ocultar o seu sentimento religioso.
Senti falta de mais palavras
Senti falta de mais palavras sobre o que quer dizer projetos sólidos e exequíveis, afinal. E por que é tão difícil assim “conquistar a confiança” dos músicos e demais funcionários da casa.