Led Zeppelin IV, lançado há 50 anos combinou contrastes e mudou a história do rock, por Carolina Maria Ruy

Até para aquela época de desbunde, o Led Zeppelin IV foi ousado. Isso porque ele não apenas quebrou padrões de comportamento como também ousou transitar entre estilos e referências com grande liberdade artística.

Led Zeppelin IV, lançado há 50 anos combinou contrastes e mudou a história do rock

por Carolina Maria Ruy

Peso, ritmo, delicadeza e fluidez em diferentes estilos orquestrados em uma peça única: foi essa a façanha que Robert Plant, Jimmy Page, John Bonham e John Paul Jones conseguiram imprimir no disco Led Zeppelin IV lançado em 8 de novembro de 1971, há 50 anos.

O álbum traz elementos da psicodelia que marcou a música dos anos 1960, com bandas como The Doors e Velvet Underground, traz também um pouco do folk, que foi muito presente na cultura hippie, mas já apresenta arranjos mais robustos abrindo caminho para bandas como AC/DC, Rush, Iron Maiden e The Cult.

A faixa de abertura, Black Dog, não deixa dúvidas de que o tempo do pacifismo ficava para trás e prenuncia toda a pauleira que viria nos anos pela frente. O disco também homenageou as raízes do rock´n´roll na faixa Rock And Roll, com uma batida de fundo que lembra o velho rock dos anos 1950, atualizando-o, entretanto, através da bateria bem marcada e do jeito libidinoso e agressivo do vocal de Robert Plant.

Uma canção psicodélica e suave. Assim como Going to California, onde ouvimos a delicadeza do bandolim que a mim lembra o frescor das manhãs.

Já Misty Mountain Hop tem uma pegada mais urbana e industrial. Embora ela se chame “Salto da Montanha Enevoada”, a música tem uma base de repetição e fragmentação, além de um backing vocal robótico, que remetem à vida nas grandes cidades.

Mas a canção mais marcante de Led Zeppelin IV é a longa e poderosa balada Stairway to Heaven. Com oito minutos e sem repetições a música é um complexo arranjo com viradas de densidade e entonações que vão do introspectivo ao explosivo. A música também tem um importante solo de guitarra de Jimi Page, um dos maiores guitarristas da história. Mesmo com toda sua complexidade Stairway to Heaven emplacou em paradas de sucesso – foi a música mais pedida nas rádio dos EUA na década de 1970 – , em festas da juventude e em diversos rankings de melhores músicas de todos os tempos.

Até para aquela época de desbunde, o Led Zeppelin IV foi ousado. Isso porque ele não apenas quebrou padrões de comportamento como também ousou transitar entre estilos e referências com grande liberdade artística.

Na foto da capa se vê um trabalhador rural sobre um papel de parede desgastado e ao fundo uma paisagem industrial, estabelecendo uma relação entre velho e o novo, entre o moderno e o arcaico. O álbum em vinil, embora seja só um disco com oito músicas, traz uma capa dupla com a ilustração, em seu interior, de um eremita segurando uma lamparina no alto de uma montanha, criada por Barrington Colby Mom. Diz a lenda que a figura foi inspirada na carta de tarô O Eremita, que simboliza isolamento, reflexão e uma fuga da sociedade.

Do lado de fora a representação de aspectos do mundo real e, por dentro, o simbólico e o mítico: na capa, assim como nas músicas, está presente o contraste entre o concreto e o imaginário, entre o peso e a fluidez. Um estilo que consagrou a banda dos jovens ingleses de classe média como uma das maiores e mais inovadoras da história do rock.

Led Zeppelin IV chega aos 50 anos como um clássico de qualidade incontestável. Um álbum marcante que prima pela autenticidade, apropriado para se ouvir tanto em uma meditação individual, quanto em um grande festival de rock.

Carolina Maria Ruy é jornalista, pesquisadora e coordenadora do Centro de Memória Sindical.

Redação

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Boa lembrança e bela homenagem.
    O álbum não tinha título algum, mas não teve jeito, “Led Zeppelin IV”.
    Foi o ápice do rock/hard rock e do Led também. Ali o rock era pesado, denso, estruturado e limpo. Uma referência.
    Ao se ouvir profundamente a faixa que encerra esse maravilhoso álbum “When the Levee Breaks” o pensamento nos leva a divagar pela banda, pelo álbum e até mesmo pelo rock, muitas vezes de forma simbólica.
    Depois de muita pauleira, “When the Levee Breaks” baseada na música de Memphis Minnie, com arranjos de altíssima qualidade, induz a um clima de “jam session”, uma comemoração do dever cumprido.
    Nada mais foi como antes.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador