Emicida só na “Boa Esperança”

O CLIPE NOVO DO EMICIDA, “BOA ESPERANÇA”, É UMA BOMBA-RELÓGIO PRESTES A ESTOURAR

NOVOS SONS

VICE NEWS BRASIL

As rimas ásperas de “Boa Esperança”, som novo do Emicida com o refrão pesado de J Ghetto e beat cabuloso do Nave, pipocaram na internet na última quarta (24). O som foi lançado de surpresa, dias depois do discurso sobre racismo e violência policial proferido na Virada Cultural. Tanto no freestyle quanto no som, o rapper joga o holofote no racismo e desigualdade social. “Tem uma pá de camada de ódio no Brasil e no final tem um verniz por cima que deixa aquilo brilhando, e ninguém ultrapassa esse verniz”, explica Emicida.

Dirigido por Kátia Lund e João Wainer, o clipe de “Boa Esperança” narra a revolta dos empregados domésticos, e estreia com exclusividade no Noisey. “Queria fazer um vídeo em que as empregadas colocassem veneno na comida dos patrões e esse barato virasse uma epidemia pelo Brasil”, conta o MC. A ideia que começou nos papos com o fotógrafo Ênio César em uma viagem recente à África ganhou cores mais vivas e um roteiro coletivo sincero e afiado.

“Não queria mergulhar na ficção de um jeito que eu inventasse as histórias. O que a gente queria fazer era juntar um número de senhoras que trabalharam de empregada doméstica durante a vida inteira e elas falassem suas experiências e aquilo ali ia gerar o roteiro, por isso que o roteiro não é creditado a ninguém. É um plano aberto”. E continua. “Todas elas têm um trauma do tempo em que trabalharam de empregada doméstica, Você vê que bagulho louco, as tiazinhas não trampam há 10, 20 anos e ainda têm medo do patrão e de falar que elas não estavam satisfeitas”, completa.

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Inicialmente o elenco era para ser só com pessoas comuns, incluindo algumas autoras da história como Dona Divina e Dona Jacira, mãe do rapper que por muitos anos trabalhou como empregada doméstica. Porém, o cronograma apertado inviabilizou a ideia e alguns atores foram incluídos na trama, entre eles Jorge e Domenica Dias, filhos do Mano Brown. “É uma molecada que a gente já trombou na rua, um pouco mais novos do que a gente, mas que tá correndo ali. Se a gente tem a chance de fazer um barulho com isso e eles tão envolvidos, melhor ainda”.

Emicida bota em pauta discussões pertinentes com “Boa Esperança”. “O Brasil tá num momento em que ele gosta de falar que acordou, ele gosta de falar que vem pra rua, tá ligado. Isso não se aplica a quem tá nessa porra. O hip-hop fala disso há 30 anos”. E, com alguma desesperança, finaliza: “É o tempo da informação, mas quem dá as cartas é a ignorância”. 

 
Redação

4 Comentários

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  1. Alerta… alerta

    Há algum tempo venho dizendo que a reação contra tudo que está aí virá das periferias.

    Isso se as igrejas não chegarem antes e sequestrarem o poder de indignação e revolta deles e os transformarem em “cordeirinhos de deuses”. 

  2. “Tem uma pá de camada de ódio
    “Tem uma pá de camada de ódio no Brasil e no final tem um verniz por cima que deixa aquilo brilhando, e ninguém ultrapassa esse verniz”

    Discordo. Não vejo verniz nenhum; nem de um lado nem do outro. Ou então já “entrou na moda” ultrapassá-lo.

    “É o tempo da informação, mas quem dá as cartas é a ignorância”.

    Concordo, embora ache que informação e ignorância não sejam antinomias.

  3. É isso aí

    É bom ficar esperto no tratamento dado às “secretárias”.

    Tem as que são da “família”, né? Será que elas acreditam?

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