Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Música sem fronteira, por Aquiles Rique Reis

Ricardo Valverde convidou a violinista Wanessa Dourado e o contrabaixista acústico Marcos Paiva, também eles instrumentistas virtuosos, afeitos à música erudita, para construir a tal ponte para o (popular) choro.

Música sem fronteira

por Aquiles Rique Reis

A sugestão de hoje vem com um apelo, nem pensem em não ouvir o álbum com uma concepção incomum: Ensemble Choro Erudito (Kuarup). Tudo se deu quando Ricardo Barros, um dos produtores do Sesi-SP, pediu a Ricardo Valverde que “construísse” uma ponte entre o choro (popular) e a música erudita.

Vibrafonista de alta extirpe, Valverde convidou a violinista Wanessa Dourado e o contrabaixista acústico Marcos Paiva, também eles instrumentistas virtuosos. Três instrumentos que tanto são afeitos à música erudita quanto a construir a tal ponte para o (popular) choro.

De minha parte, a percepção de que a música ou é erudita ou é popular já não cabe mais ser vista como fato consumado. A música é do mundo, tanto do ponto de vista de quem a compõe quanto de seu gênero.

Dada a largada – e em apenas dois dias de gravação –, o repertório gravado já trazia a ideia original posta em prática: são cinco músicas eruditas e quatro choros populares. (Tudo bem, eu aceito nomeá-los assim, vai…)

Por considerar importante verificar sob quais desígnios os três elaboraram a lista de músicas a serem gravadas, eis o repertório: “Brejeiro” (Ernesto Nazareth),  “Ainda Me Recordo” (Pixinguinha), “Dança Eslava” (Dvorak – Opus 72 No. 10), “Aria (Cantilena)” das Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos, “Implicante” (Jacob do Bandolim), “Dança Negra” (Camargo Guarnieri), “O Trenzinho do Caipira” (Villa Lobos) + “Trem Azul” (Lô Borges e Fernando Brant), “Velha Modinha” (Lourenzo Fernândez) e “Delicado” (Waldir Azevedo).

“Brejeiro” tem início sob a pegada do contrabaixo acústico. O violino toca a melodia. Logo o baixo marca o ritmo com desenhos como as baixarias do violão de sete cordas. E chega a hora de o vibrafone ter a melodia, trazendo consigo seu som sublime. O baixo segue pontuando num suingue enérgico. Meu Deus! O violino volta a se destacar. O vibrafone sola a melodia, enquanto violino e baixo o acompanham, trazendo o suingue para a roda. O violino chama a melodia para si e, com o vibrafone e o baixo, leva o arranjo ao final.

“Dança Eslava” (Dvorak – Opus 72 No. 10) começa com o vibrafone, o baixo marcando e o violino tocando em pizzicato, ele que se vale do arco para ofertar a beleza da música ao vibrafone e ao baixo. Logo tem início a “dança”, movimento mais emblemático da obra de Dvorak. Após um rallentando, o violino sola, enquanto baixo e vibrafone o acompanham, sendo que este logo passa a improvisar. Sente-se que o baixo tem importância capital no arranjo. Um novo rallentando leva ao final.

Toda a sabedoria e o talento de Ricardo Valverde, Wanessa Dourado e Marcos Paiva vêm de seus instrumentos. Assim, os ouvintes poderão ouvir um repertório muito bem escolhido. E, se acaso quiserem, poderão também tirar as suas próprias conclusões: Ensemble Choro Erudito é um disco popular ou clássico? Ou, afinal, a música tem ou não composições exclusivamente populares ou unicamente eruditas?

Minha opinião está expressa no título deste texto.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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