Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Músicos a serviço da excelência

Em “Brasiliana” (Maritaca Discos), seu segundo CD, o Quinteto Vento em Madeira, integrado por Léa Freire (flautas), Teco Cardoso (saxes e flautas), Edu Ribeiro (bateria), Tiago Costa (piano) e Fernando Denarco (baixo acústico), traz novamente como convidada muito especial Mônica Salmaso “tocando” um sexto instrumento: a sua excelentíssima voz. Assim, são seis músicos a serviço da excelência.

O álbum abre com “Felipe na Areia” (Tiago Costa), uma brincadeira entre os instrumentistas e seus instrumentos. Como se, na hora do recreio, eles se pusessem a saltitar as notas, envolvendo-as em inspirados contracantos e dando-lhes graça e picardia. Isso enquanto se entreolham (assim sentimos) em total e esfuziante sintonia, que vem tanto da certeza de se saberem virtuosos quanto da sabedoria que lhes dá o direito de vivenciar uma alegria quase juvenil. Tudo isso faz com que eles consigam dar mostras de prazeroso amadurecimento.

“Brasiliana” (Tiago Costa) tem introdução clássica de piano. Sua delicadeza, somada ao belo som do sax misturado à voz de Mônica Salmaso, precede a entrada do ritmo. Logo passa por compassos arrítmicos até desaguar num momento em que improvisos sucedem-se em profusão de levadas, notas e acordes, disseminando intenções rítmicas várias. Meu Deus!

“Espiral”, tema já gravado pela sua autora, Léa Freire, em um trabalho próprio anterior, ganha novo sentido no som do quinteto. O piano e a bateria, que se vale apenas dos pratos, tocam a introdução. A melodia nos permite imaginar uma curva que chega a um ponto determinado para logo dele se afastar gradual e suavemente, possibilidade essa já explicitada no título. O tema segue em torno da inspiração que embalou a compositora.

“Angulosa” (Teco Cardoso) é uma bonita valsa. Nela, melodias se entrelaçam para um diálogo cheio de assunto. Piano e sax soam. Tambores e pratos da bateria marcam sem interferir no papo. Um uníssono perfeito do piano com o sax empolga pela graciosidade. O ritmo chega dando luz clara à valsa. A conversa do piano com o sax retorna. A flauta se achega. Show!

“Dança das Pipas” (Léa Freire e Teco Cardoso). O piano faz a base para o desenho das flautas. Saltitantes elas vão, como que riscando o ar com suas cores vivas e musicais. A alegria é presente.

 “Nivea” (Edu Ribeiro) é um tema jazzístico que começa com piano, bateria, baixo e flauta. A bela harmonia mostra-se inteira e é muito bem interpretada por todo o quinteto.

São dez músicas, dez motivos que permitem que os instrumentistas tratem de continuar expondo suas entranhas. E eles o fazem sem deixar dúvida quanto ao extraordinário poder de criação que têm: o grupo surge como um único instrumento, capaz de resumir todos numa só substância sonora.

O som do Quinteto Vento em Madeira é como a música que nos embala um sonho bom: despertamos desejando a todo custo nos recordar dela para perpetuá-la, cheios de um sentimento meio incompreensível de alegre desvario.

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