No Morro da Minha Cabeça, de André Mussalém – O Novo Samba de Pernambuco

No Morro da Minha Cabeça, de André Mussalém – O Novo Samba de Pernambuco

por Giorgio Xenofonte

Escrever sobre uma obra artística é sempre difícil; quando é de autoria de um amigo, mais ainda; e se é sobre um gênero músical que não se domina, vira tarefa praticamente impossível.

No entanto, como eu conheço André Mussalém há 24 anos, desde que nos esbarramos na primeira aula da Faculdade de Direito do Recife, sei da sua inteligência, musicalidade e capacidade criativa rara.

Já em 1996, quando escutei sua primeira demo, BOSSA, ainda em fita cassete, me apaixonei por “Samba da Explicação/Sê Deus, Efigênia”. Hoje, o próprio André, mais maduro,  crê que esta música é “pretenciosa”… o que discordo frontalmente,  adoraria uma regravação, pois se um SAMBA agrada um aficcionado por ROCK feito eu, algum valor tem… podem apostar.

Levantar a bola do trabalho de um amigo pode ser tarefa ingrata. Vejo vários amigos escritores falando bem, indicando livros que sabem não serem bons, por uma questão de coleguismo, de apoio, de amizade.

Neste caso aqui, tenho sorte, o disco de André é realmente bom. Bebe das fontes certas, a produção é esmerada (totalmente bancada pelo mesmo, que é advogado!), as letras são lindas e remetem a uma musicalidade particular, pois samba não é uma referência quando se pensa em Pernambuco, mas lá se faz boa música!

Agora, se o disco é de 2016, por que só agora eu fui ouvir? É como eu disse, não sou de samba! Tenho 2 pés esquerdos, me falta ritmo e referência musical para apreciar algumas coisas… mas a vida é um eterno processo de descobertas para quem está realmente vivo, então tive meu momento de sanidade, abri o Spotify e mandei ver.

Valeu mais do que a pena, valeu o prazer de ser amigo de alguém especial, talentoso… muito mais do que um professor de Direito Constitucional, André Mussalém é um autor!

Abaixo, transcrição da entrevista que ele deu para o site “tenhomaisdiscosqueamigos” , pouco depois do lançamento do disco, ainda em janeiro de 2017:

O cantor e compositor André Mussalem revisita a música brasileira clássica, em especial o samba de raiz no seu novo disco No morro da minha cabeça. O álbum é um carinho estético que só quem já ouviu muita música e tem mais discos que amigos é capaz de fazer.

Logo no começo, um trecho de uma entrevista de Madame Satã dá o clima do projeto, que une bom humor com lirismo. Conversamos rapidamente com o artista sobre o trabalho, que você consegue ouvir no fim do post e que é o primeiro de uma trilogia sobre os elementos de identificação nacional.

TMDQA: O No morro da minha cabeça traz um lirismo novo para o samba tradicional. Como surgiu a ideia para esse disco?

André Mussalem: A partir da afirmação de Chico Buarque que a “canção havia acabado no Brasil” começamos – insistentemente – a buscar saídas musicais para valorizar a complexidade das canções, tanto a partir das letras, quanto a partir dos arranjos. Buscamos instrumentos que não eram usualmente utilizados no samba, como o fagote e o oboé. Nosso objetivo era mostrar que, apesar de todas as desconstruções pelas quais o samba vem passando, a sua forma clássica é ainda essencial.

TMDQA: O álbum parece habitar um imaginário do samba que todos tem, muito familiar. Brincar com a memória afetiva das canções foi algo proposital?

André Mussalem: Sim. A idéia central do disco é dialogar com os “standarts” do cancioneiro brasileiro. Com Zé Keti, Chico Buarque, Candeia, Vinícius e Baden, Caetano Veloso. Para isso, precisávamos criar uma atmosfera em que o ouvinte sentisse a evocação desse passado e olhasse para o futuro, ao mesmo tempo.

TMDQA: O disco parece ser uma coletânea de memórias desde a capa. Como surgiu a ideia da arte?

André Mussalem: O nome do disco é No Morro da Minha Cabeça. Ele faz referência a esse morro quase mítico que existe no imaginário coletivo do brasileiro. Ao mesmo tempo é sobre as minhas influências musicais. Quando Guilherme Luigi (o designer) pensou na capa, ele quis fazer uma radiografia da minha cabeça. A idéia era deixar visível todos os elementos que, ao longo dos anos, foram essenciais para a formação do repertório. Cada objeto ali disposto tem uma ligação afetiva comigo.

TMDQA: Na capa já tem o disco do Cartola e você diz logo no começo do álbum que sua “formação foi ouvindo disco na vitrola”… Então você também tem mais discos que amigos?

André Mussalem: Amigos, eu conto nos dedos da mão. Já os discos, não existem dedos suficientes para conta-los. Sou consumidor voraz de discos desde menino. E não adianta música digital. Sou daqueles que têm que segurar o encarte e sentir o cheiro da tinta.”

Para os interessados, o disco inteiro pode ser ouvido no SPOTIFY  ou…

https://www.youtube.com/watch?v=vQREFCfO0cw

Espero que todos tenham a boa experiência que senti ao ouvir este disco 🙂

 

 

 

Redação

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