O clássico “Caipira”, de Mônica Salmaso, por Luis Nassif

Recém-lançado, “Caipira”, de Mônica Salmaso, é CD para a lista de favoritos de todos os admiradores da música brasileira. São 14 peças tocadas ao modo da viola caipira, a maioria caipira mesmo, com o selo Salmaso de qualidade. O que significa se cercar de músicos competentíssimos, de arranjos de enorme bom gosto e da voz inigualável de Mônica.

Aliás, nos últimos anos Paulo César Pinheiro vem se dedicando a desbravar os cantos negros e caipiras. E através de parceiros brilhantes como Ruiz e o mineiro Sérgio Santos, com quem assina “Água Verde”,  e “Safra”.

Entre os clássicos antigos, ela escolheu para primeira faixa, um clássico contemporâneo atemporal, “Caipira” e “A Lenda do Caboclo”, de Breno Ruiz e Paulo César Pinheiro, já consagrada pelo próprio Breno e por Renato Braz.

No repertório, duas músicas que me são particularmente emotivas.

Uma, o clássico “Leilão”, de Heckel Tavares e Joracy Camargo, que recebe sua segunda gravação definitiva – a primeira foi com Inezita Barroso. Lembro-me, até hoje da cena. Eu, com uns 8 ou 9 anos, na varanda da casa do meu avô, em cima da farmácia do meu pai, ouvindo a interpretação de Inezita e me emocionando até o fundo da alma. Depois, indo jogar bola com os conguinhos do São Benedito, em frente de casa, e imaginando que poderia ter sido a avó deles.

Na faixa, Mônica é acompanhada apenas pela viola de Neymar Dias, em um arranjo enxuto, em que as intervenções da viola são discretas, como uma moldura para a voz de Mônica, comprovando porque Neymar é não apenas um dos melhores violeiros, mas dos mais capacitados músicos do país.

A segunda, o clássico pouco conhecido “Bom Dia”, de Gilberto Gil e Nana Caymmi. A música concorreu em um dos festivais da Record. Foi a primeira vez que ouvi a voz de Nana. A beleza da música e da interpretação entrava por todos os poros, mas era algo tão inusitado que a música foi vaiada pela turba. Mônica dá uma interpretação à altura da original.

Há algumas curiosidades históricas, como a moda de viola “Feriado na Roça”, de Cartola, baseando-se em uma temática recorrente nas músicas sertanejo-urbanas dos anos 30: as tragédias de amor, no rastro de “Casa de Caboclo”, de Heckel Tavares e Luiz Peixoto; “Festa junina”, de J. Cascata e Leonel Azevedo.

Das peças autenticamente caipiras, há o notável “Minha Vida”, de Vieira e Carreirinho. E das surpresas, o “Baile Perfumado”, de Roque Ferreira, autor do sucesso “Água da minha sede”.

Do grupo paulistano, o belíssimo “Primeira Estrela de Prata”, de Rafael e Rita Altério e o já clássico “Sonora Garoa”, de Paçoca.

A seleção brasileira de músicos é comanda pela produção e sopros de Teco Cardoso, Neymar Dias (viola caipira e baixo acústico), Nailor Proveta (clarinete e sax-tenor), Robertinho Silva (percussão) e André Mehmari (piano em três faixas), além das participações de Boldrin, Toninho Ferragutti e do mineiro Sérgio Santos.

 

 

Luis Nassif

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