O contagiante ‘Samblues’ de João Suplicy, por Danilo Nunes

Assim, o que vemos é um artista além de seu tempo e, com uma capacidade técnica indubitável, produzindo um rico conteúdo para que o público aprecie sem moderação

Reprodução Youtube

O contagiante ‘Samblues’ de João Suplicy

por Danilo Nunes

O continente americano foi o destino dos negros (as) africanos (as) que, forçosamente foram trazidos (as) nos porões dos chamados navios negreiros. A partir do século XVI, quando a América foi encontrada pelos europeus, negros (as) da África ocidental tornaram-se a principal fonte da base econômica escravista que foi implantada por homens brancos europeus nas Américas, massacrando seus povos nativos com a conquista e exploração da terra

Nesse contexto, destacam-se manifestações culturais que, vindas do continente africano se (re) significam na América ao entrar em contato com outras formas culturais. Manifestações, muitas vezes vividas sem que o opressor europeu e cristão percebesse, pois a repressão era a marca deixada no corpo e na alma dos povos escravizados.

Ainda hoje ecoa o canto afro-religioso das plantações de algodão do sul estadunidense que originou o blues, ao batuque devocional iorubá, vindo dos engenhos de cana de açúcar do nordeste brasileiro, que nos trouxe o samba. Essa é a grande massa cultural dos povos contemporâneos da América, a mistura. Um conjunto de representações que se encontram a partir da imposição do cristianismo ocidental e resiste a seu modo, deixando viva a chama da ancestralidade dos povos que jamais serão esquecidos.

Tendo a arte como forma de resistência e trazendo na influência o canto de nossas matrizes ancestrais é que o cantor e compositor brasileiro João Suplicy nos presenteia com SAMBLUES , seu mais novo trabalho que vem conquistando o público brasileiro a partir de singles lançados neste momento onde, todos, todas e todes nós tentamos nos reerguer das trágicas consequências que nos trouxe a pandemia da covid e o isolamento social.

João já lançou dois singles que contam com videoclipes e que irão compor um EP de seis canções que traz a mistura, com muita originalidade do samba com o blues, duas vertentes musicais que influenciam a carreira musical do artista. O primeiro single lançado é “Mulher”. A canção que conta com arranjos do próprio João em parceria com o músico cubano Pepe Cisneros, nos desperta um turbilhão de sensações, como uma própria relação amorosa que nos dá o amor, a paixão, a dor, a saudade, o arrependimento, um tão longe e tão perto que a música, a partir de seus arranjos ora com a suavidade da bossa nova, ora com a asperidade de um blues afiado, nos invade como que rasgando a nossa pele e seguindo direto ao nossos corações. A sonoridade ganha mais destaque com a interpretação da dançarina Suzana Ruiz que dialoga com o próprio João Suplicy num jogo cênico, onde as sombras e silhuetas ganham formas e sublinham magníficos momentos da canção.

João Suplicy é um artista inquieto, dotado de uma criatividade infinita e muitos recursos e ferramentas em sua arte para estabelecer uma comunicação certeira com seu público. Um artista que dialoga com passado, presente e futuro. É através do lançamento de seu segundo single que João deixa explícito essa transversalidade atemporal ao gravar “As Rosas não Falam” do genial Cartola. João não apenas executa a canção com qualidade incrível como, nos apresenta um arranjo onde toca em nossa memória coletiva e saudosa do tradicional samba carioca a partir da rebeldia harmônica do blues. Para somar à canção, o artista nos mostrou mais uma vez sua sensibilidade para com a arte e, por meio da simplicidade de um violão e voz, apresenta a canção em um videoclipe que destaca sua interpretação que somada à maravilhosa canção, resulta numa verdadeira obra prima.

Assim,  o que vemos é um artista além de seu tempo e, com uma capacidade técnica indubitável, produzindo um rico conteúdo para que o público aprecie sem moderação.

Nós ficamos aqui, esperando os próximos singles, o EP e com certeza o show, onde sem sombra de dúvida estarei na primeira fileira da platéia para poder apreciar de perto o que de longe já me contagiou.

Para saber mais, acompanhem a prosa musical que tive com o artista no próximo domingo 24 de outubro, 20h.

Ouça e assista “Mulher” e “As Rosas não Falam” com João Suplicy nos endereços abaixo.

Danilo Nunes é músico, ator, historiador e pesquisador de cultura popular brasileira e latinoamericana

Instagram: @danilonunes013

Facebook: @danilonunesbr

Redação

2 Comentários

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  1. Uma crítica desse teor só pode ter sido feita (e, portanto, ser interpretada) a partir de critérios diversos: fraternais, políticos, cênico-visuais, idolátricos etc. Não a partir de critérios musicais. A sequência principal da música “Mulher” parte de uma cadência harmônica absolutamente banal, extensamente usada na canção popular de todo o Ocidente. Não há como fazer uma crítica tão entusiasticamente encomiástica, se os critérios adotados forem exclusivamente musicais.

  2. Ia descer o sarrafo nessa bajulação depois que a li pela manhã. Mas deixei passar. Como retornei para mais uma passagem pelos artigos, deparei-me com o comentário acima, muito mais apropriado do que teria sido o meu. Então, faço minhas as acertadas palavras do Marcus Vinicius. Apenas reitero o seguinte: foi muito deslumbre por nada.

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