O “poder inteligente” brasileiro

Por Carlos Henrique

Nassif quando puder de uma olhadinha neste link.

Espaço Cultura do Choro – A Alvorada Brasileira

17 de Janeiro de 2009 by Carlos Henrique Machado Freitas

“O período atual do Brasil, especialmente o das artes, é o de nacionalização. Estamos procurando conformar a produção humana do país com a realidade nacional. A música popular brasileira é a mais completa, a mais totalmente nacional, a mais forte criação da nossa raça brasileira. Todo artista brasileiro que no momento atual fizer arte brasileira, é um ser eficiente com valor humano. O que fizer arte internacional ou estrangeira, se não for um gênio, é um inútil, um nulo. “E é uma reverendíssima besta”. (Mário de Andrade).

Há uma coisa muito séria neste país chamada música popular brasileira que a leviandade institucional, carregada de absoluta ignorância, insiste em marginalizar, promovendo verdadeira cruzada libertária para o estrangeirismo barato em detrimento à total independência da sociedade em, pelo menos, dois séculos da nossa música técnica. (continua)

Comentário

Nas rodadas de negócio que o Ministro Luiz Furlan montou ao redor do mundo, sob a coordenação da Apex, o grande fator de atração era a música instrumental brasileira, especialmente as apresentações de Armandinho e Yamandu.

Luis Nassif

10 Comentários

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  1. Concordo plenamente. Em
    Concordo plenamente. Em muitos restaurantes sofisticados nos Estados Unidos se toca MPB. No “Fogo de Chao” de Chicago, Minneapolis e Nova York, idem. E nos tres casos, o restaurante e considerando um “point” pro pessoal “cult” da cidade.
    E por aqui, ate outro dia, se falava em Madona. Li em algum lugar que ela pediu 800 quilos de gelo. Deveriam ter dado pra ela em bloco unico.
    Pior sao estas bandas de rock que ficam pedindo 10 mil toalhas, ou que chegam ao pais usando mascara cirurgica. Deveriam todos serem considerados “personas non gratas”.

    O problema e que a nossa imprensa, sempre ela, fica nos vendendo a imagens de paises que nao existem. Quer exemplo? No caso dos EUA, o site do governo americano fala que as empresas estatais americanas sao parte do poder executivo. No Brasil, a imprensa diz que la o governo nao tem empresas e que preciso privatizar, privatizar, privatizar ….

    Em tempo, o governo americano tem uma rede de TV, ate agora nenhum jornal brasileiros os criticou por isto.

  2. Sem querer ser chato… Mas
    Sem querer ser chato… Mas já que não dá pra deixar de ser, quando o assunto intromissão estrangeira, a raiz desse problema está na elite eternamente colonial, insegura, com seu “complexo de vira-lata”, e que não dá uma passinho sequer para se libertar desse “vira-latismo”. E em qualquer país do mundo é a elite quem manda.

  3. Acho que o mais importante no
    Acho que o mais importante no desenvolvimento de um “poder brando” brasileiro nao é com vistas ao exterior, e sim na volta de um sentimento de nacionalidade. Nao estou falando de nacionalismo patrioteiro… mas de apreço às coisas do país e auto-estima. Como havia nos “anos JK”.

  4. Caro Carlos Henrique Machado
    Caro Carlos Henrique Machado Freitas,

    Maravilha esse seu artigo, que busca um resgate de nossas raízes, as percepções e idéias de Mário de Andrade, da formação de nossa musicalidade, de nossa criatividade cultural, de nossos valores como povo-nação.
    Tenho a impressão que a pedra de fundação que criou essa explosão de conscientização, quase sempre nos remete aos brasileiros que criaram a semana de arte moderna, do óde ao burguês, a Villa Lobos regendo a orquestra com a banana, a antropofagia oswaldiana, a Sérgio Buarque de Holanda dizer não a nossa história não deve seguir a via européia ou americana, mas brasiliana.
    Quase todos elementos efervescente do início do século passado, musical-econômico-político-social da nação estão borbulhando no ar.
    Precisamos terminar essa guerra civil secular. Esse trenzinho caipira-metropolitano não tem porque parar, o parto de uma nação há de se formar.
    Sds,

  5. Nassif, de volta de dois
    Nassif, de volta de dois meses na Europa, posso testemunhar o óbvio: a música brasileira tem seções próprias nas principais e nas melhoras lojas do ramo. Ouvi muita música nossa nos países que visitei, e até no Egito.
    É tão grande a nossa musicalidade que há falsificadores aos montes. Ganhei um album de cinco CDs, chamado “Brasiliana”ou coisa que o valha, que nada tem de música brasileira! O nome na capa até nos ofende, porque trata-se de uma bobagem eletrônica que pode ser tudo, desde música indiana em algumas faixas, até batuque feito no sintetizador. Horrível! Deve vender porque tem Brasil no título.
    A Holanda, como vc sabe, não tem música nacional. Só folclore. A música popular, a rock, são ccompostos e cantados em inglês. Perguntei a vários holandeses, de diferentes gostos musicais, o por quê disso, e me disseram que o dutch, seu idioma, não soa bem, não é melódico.
    Se algum amigo estudioso da música européia puder me esclarecer, eu agradeceria. Sobre os três temas: a força da MPB e do samba na Europa; a ausência de músicas nacionais em alguns países; e o reconhecimento esporádico da música clássica e orquestral brasileira por lá. Este ano, a Europa vai ouvir bastante Villa Lobos, mas é uma exceção.

  6. Durante a gestão do Gilberto
    Durante a gestão do Gilberto Gil como ministro fiz, aqui e em outros lugares, criticas a politica cultural do governo Lula. Não tenho a capacidade de dar aulas de politica ao presidente, mestre no assunto, mas creio que ele poderia ter ido muito mais longe nesse terreno. Poderia ter se influenciado mais com JK e aproveitado mais da nossa rica cultura e do poder criativo do brasileiro. Gil, que depois da sua primeira e decepcionante experiência como vereador ( ou deputado ? ) na Bahia, já havia se declarado incapaz para a atividade politica, foi um ministro medíocre e burocrático. O Ministério da Cultura poderia ter realizado parcerias mais consistentes com o Itamaraty, com o Ministério do Turismo e sobretudo reformado a lei de incentivos culturais. O que vimos foi o Brasil levar a Daniela Mercury para representar a musica brasileira no exterior.
    Digo tudo isso, mas também vejo ser muito difícil a interferência politica na vida cultural. É um assunto delicado, polemico, apaixonado e explosivo. Vejamos, esse post contem a afirmação que “a música brasileira é, sobretudo, o choro.” Concordo com muita coisa que esta dito, mas não que ” a musica brasileira é o choro”. A grandeza da musica brasileira esta, entre outras virtudes, numa grande multiplicidade de formas, estilos, ritmos. O choro é uma dessas formas. Autentico, apesar de também ter sido inspirado em musicas de outros países. Cheio de qualidades, mas não suficientes para ser qualificado como ” a musica brasileira”. Talvez, antevendo tanta discussão, o Lula, que de bobo não tem nada, escolheu um ministro para dar apenas “visibilidade” ao ministério, não mexendo em abelheiro.

  7. Antonio Barbosa

    Você fez uma
    Antonio Barbosa

    Você fez uma observação fundamental, fundamental!

    “E o reconhecimento esporádico da música clássica e orquestral brasileira por lá. Este ano, a Europa vai ouvir bastante Villa Lobos, mas é uma exceção”.

    É simples, o Brasil fez investimentos pesados nas orquestras, isso salta aos olhos. O grande problema é que as orquestras brasileiras foram abdusidas pela idéia classista. O foco hoje é o oposto do período em que o Brasil revelou grandes compositores como os naciolistas e os pós-nacionalistas. A discussão em torno da música erudita brasileira não estava no virtuosismo de uma orquestra, estava na composição, no formato. O Brasil viveu momentos de glória naquele período que iniciou com os nacionalistas, passando por Francisco Mignone, Villa Lobos, Lourenzo Fernandez, Camargo Guarnieri, chegando à Guerra Peixe, Radamés e tantos outros. Mas todos, absolutamente todos, tinham o Brasil como referência, não só respeitavam as suas bases que vinham do povo brasileiro, mas também faziam questão de credenciá-lo.

    O que assistimos hoje é a uma espécie de desmanche. As bandas de música, a instituição mais produtiva e representativa da história da nossa música técnica, está sendo substituida pela idéia de sinfonismo que busca uma subserviência retrógrada nos mestres europeus, abandonando, com isso, o fundamental da arte, a criação, pior, uma representação que estabelecia um elo imediato entre as cidades e a corporação, pois o compositor geralmente executado pelas bandas, fazia parte daquele corpo social. Por isso, as bandas civís ou militares, até hoje, nos emocionam tanto.

    As orquestras hoje não valorizam os grandes compositores brasileiros que se dedicam a essa maravilhosa linguagem. Uma espécie da máfia da batuta está fazendo um grande estrago no Brasil, tanto nos grandes centros, quanto no interior, com raríssimas e heróicas exceções.

    No caso de Villa Lobos, como você menciona, se a Europa vai ouvir mais, é em função da genialidade do nosso querido maestro, mas também porque muita gente do período dele, trabalhou como você mesmo vê aqui na matéria de Mário de Andrade, em prol do compositor, do criador.

    As orquestras brasileiras estão se qualificando tecnicamente, não há dúvida, mas como dizia Camargo Guarnieri, dentro da limitação da própria técnica no universo da música, que é, acima de tudo, criação e recriação.

  8. Antonio Rodrigues

    É bom que
    Antonio Rodrigues

    É bom que tenha falado sobre a questão do choro. Quando comemoro que teremos a primeira escola a estudar a música brasileira profundamente, inclusive em sua técnica, hoje tão múltipla, é porque vamos mergulhar naturalmente no olhar científico do termo “choro”, abandonado há algumas décadas no Brasil, para servir, de um lado, a um certo bairrismo. E do outro, ao desisteresse das nossas instituições de arte pelas questões do Brasil, num claro comportamento bronco da nossa elite cultural, digo elite, mas na verdade estou falando de comando, já que este assunto é bastante controverso.

    O choro hoje caminha na compreensão de muitos, para a busca por um estudo mais complexo sobre o seu significado. Temos que voltar a uma discussão mais ampla e fugir do esteriótipo. No caso da música, já se avança bastante nos conceitos de que o choro é uma linguagem e neste caldeirão, cabem, desde a orientação mais, diagamos, erudita da nossa música ao universo espontâneo e suas múltiplas formas, mas o componente vital do choro estará ali no compositor brasileiro.

    Eu enxergo o choro como uma aura das nossas artes, pois ele reflete exatamente a nossa forma de ser, alegres na tristeza e tristes na alegria. Este é um clichê antigo, mas se observarmos as grandes obras brasileiras, cinema, literatura, artes plásticas e etc, este componente choro, lamento, está implícito ou explicitamente colocado. De qualquer forma, como você mesmo disse, este tema é apaixonante, e é bom que seja, ou melhor, que sejam devolvidas as nossas paixões, pois são elas que podem trazer para o centro estratégico das questões do país, os grandes temas de interesse nacional.

  9. Prezado Carlos Henrique:
    Não
    Prezado Carlos Henrique:
    Não sei se você sabe, mas alguns dos excelentes músicos que tocam no seu grupo participam também do meu, que não é voltado ao choro, apesar de não ter nada contra esse estilo, muito ao contrario. O seu trabalho é digno de todos os elogios. E no meu canto, em silencio, quando posso ajuda-lo, faço o que posso. Concordo com muitas coisas que diz e discordo de outras. Em especial não participo da visão de que tal forma de arte é melhor, maior, única, ou coisa parecida. Todas as autenticas tem a sua importância. O resto depende do grau de intensidade que lhe é dado na sua criação. Existem choros maravilhosos, como existem outros que não passam da repetição de uma mesma formula. Acontece o mesmo no samba, na bossa nova, na musica erudita. As artes plásticas começaram a perder força quando os “artistas contemporaneos” passaram a se apresentar como os únicos verdadeiros. Não concordo também inteiramente com você quando coloca apenas nas “instituições de arte” a responsabilidade pela não valorização de nossa cultura. O ministério, as secretarias estaduais, municipais e demais órgãos em geral são mais cabides de emprego do que instrumentos de discussão e incentivo de atividades criativas. Mas os artistas, os músicos em geral são bem acomodados e coniventes. Basta, alias, olhar a aberração que representa a Ordem dos Músicos e a nossa incapacidade ou falta de vontade de muda-la. Esta semana escrevi em um comentário sobre a agressão que sofreu nosso maravilhoso colega na Espanha. Na ocasião me referi a um estrangeiro que perdeu o emprego na fabrica e resolveu pegar um violão e sair cantando pelos bares e teatros da nossa região. Certamente você já ouviu falar dele. Alias, porque em pouco tempo, apesar de amador e sem grandes talentos ocupou todos os espaços. Rapidamente passou a gravar discos e é ele quem também faz a programação dos melhores palcos, se colocando evidentemente nas melhores datas. Seria a ultima das pessoas a querer impedir um estrangeiro de trabalhar, sobretudo porque morei longos anos no exterior. Mas não consigo imaginar os franceses permitirem um amador estrangeiro dirigindo uma atividade profissional em que sejam excelentes.

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